Juremir Machado da Silva*
Fui ver O tempo e o vento, filme de Jaime Monjardim.
Uma boa novelinha global. Há quem pense que fazer filmes para
televisão ou para o cinema é a mesma coisa, mas obviamente não é.
Monjardim domina a linguagem, o estilo e as necessidades do público de
televisão.
Falta-lhe o plus que transforma televisão em cinema.
O tempo e o evento de Monjardim peca pela dinâmica do resumo. Para
colocar a trilogia de Erico Verissimo em duas horas do filme foi precisa
apertar, suprimir, concentrar tudo nos clichês e ficar só com o suco da
coisa.
O resultado é essa novelinha feita só de sumário. Quase não há cenas
de trabalho, de cotidiano, de lides, da vida de todos os dias. Tudo se
resume a parcos pequenos momentos e a passagens para uma série de
“grandes” situações, uma sequência de instantes decisivos e marcantes.
Monjardim precisa passar uma longa temporada em Hollywood para
aprender a fazer um épico. Ainda mais que, no Tempo e o Vento, Erico
astuciosamente fez o nosso faroeste gaudério, com direito a duelos,
cavaleiro solitário, misto de Zorro e de outros heróis bandidos do Velho
Oeste. O bem e o mal estão claramente representados: o mal absoluto é o
inimigo externo, os castelhanos. O mal interno é encarnado pela família
Amaral. Os Terra-Cambará são o bem. Para que o personagem Rodrigo
Cambará não seja supercoerente e plano, ele tem suas falhas: amanhece na
mesa de jogo enquanto a filha morre. Mas são pecados de gaúcho incapaz
de suportar o tédio da vida doméstica numa época de guerras, emoções e
de homens feitos para as grandes aventuras.
Nunca um autor ajudou tanto a mitificar o Rio Grande do Sul quanto
Erico Verissimo em O tempo e o vento. Não o condeno. Aplaudo a sua
habilidade. Erico era um adaptador nato. Descreveu a história do Rio
Grande do Sul a partir da literatura e dos quadrinhos norte-americanos.
Inflou o nosso ego.
É uma boa história para ser vista num sábado à noite antes da pizza:
amena, envolvente, com um pouco de sexo para apimentar e uma cachoeira
para efeito estético. A verdade é que faltaram mais imagens da campanha,
da vida no campo, desse Rio Grande mítico de demonstração. Ficou
pobrinho.
Como nas novelas da Globo, em geral, ninguém trabalha, salvo em
algumas cenas para mostrar o aborrecimento de Rodrigo Cambará como
bolicheiro.
É um filme feito para Tiago Lacerda, um capitão Rodrigo Cambará mais
fanfarrão do que nunca, poder dizer o clássico “Buenas e me espalho, nos
pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho”.
E para Fernanda Montenegro encher a tela no lugar de Bibiana.
Enfim, muito vento e pouco tempo.
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor.
Fonte: Correio do Povo on line, 07/10/2013
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