Jean-Yves Leloup*
A relação filial com aquilo que nos fundamenta não foi pensada filosoficamente, ela pressupõe um “transbordamento” da causalidade. Os físicos já nos falam disso dentro do seu campo. Emmanuel Lévinas, todavia, um esboço dessa reflexão na sua tese Totalité et Infini (Totalidade e Infinito), mesmo que ela se atenha à filiação humana:
O filho não é apenas obra minha, como um poema ou um objeto. Ele também não é propriedade minha. Nem as categorias do poder nem as do saber conseguem descrever minha relação com a criança. A fecundidade do eu não é nem causa nem dominação. Eu não tenho meu filho, eu sou meu filho. A paternidade é uma relação com um estranho que, mesmo sendo completamente outro, é eu... O eu se liberta de si mesmo na paternidade sem, devido a isso, deixar de ser um eu, pois o eu “é” seu filho”. (Emmanuel Lévinas. Totalité et Infini [Totalidade e Infinito], LGP, 1961. P. 254-255)
(...) Ao me colocar, através da prece, como filho diante de seu Pai, eu me reconheço não como poema, obra ou objeto de um determinismo; também não sou propriedade dele e, para continuar a falar como Lévinas, nem as categorias do poder nem as do saber podem descrever minha relação com ele: eu não tenho meu Pai, eu sou seu filho. Eu não “tenho” seu ser, eu “sou” seu ser... A filiação é uma relação com um estranho que, mesmo sendo um outro, “é” eu.
*É sacerdote hesicasta, teólogo, filósofo e Ph.D. em psicologia, fundadador do Colégio Internacional dos Terapeutas, conferencista e escritor fecundo, conhecido mundialmente. Possui dezenas de publicações na área da espiritualidade e das exegese.
FONTE: LELOUP, Jean-Yves. Deus não existe! [...eu rezo para Ele todos os dias. Tradução de karin Andrea de Guise - Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 2008, pp.55-56.
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