Gilles Lapouge*
Após negar ter contas ilegais no exterior, ministro do Orçamento admite ter mentido e expõe presidente francês ao ridículo
Um ministro
diz uma mentira e o Estado balança. Esse é o espetáculo que vimos se
desenrolar desde terça-feira, depois que o ministro do Orçamento da
França, Jérôme Cahuzac, reconheceu compungido, após cinco meses de
negação, que possuíra contas bancárias enormes na Suíça e em Cingapura.
O governo socialista tremeu. O presidente François Hollande ficou arrasado. Os figurões da oposição pediram cabeças. O jornal Le Figaro exultou. A chefe do partido de extrema direita, Marine Le Pen, se regozijou. Os líderes de extrema esquerda, Jean-Luc Mélechon à frente, também esfregaram as mãos.
O ministro mentiroso não é um qualquer. Não só era o melhor da equipe de Hollande, como ainda ocupava um posto nevrálgico, o Orçamento. Ele não tinha igual em impor a dura lei da austeridade, enfrentar os sonegadores e corruptos, os canalhas que utilizam bancos longínquos para lavar seu dinheiro sujo. Não espanta que Cahuzac conhecesse na ponta dos dedos todas as artimanhas e velhacarias que os malfeitores usam para esconder seu dinheiro. Ele mesmo fazia como eles com o seu.
A História está cheia de sacripantas convertidos em policiais. No século 17, um pirata inglês, Henry Morgan, devastava as costas do Caribe. O rei da Inglaterra tomou uma decisão. Nomeou Morgan "vice-governador da Jamaica" e a pirataria desapareceu num passe de mágica.
É bem verdade que o caso de Cahuzac é o inverso: ele passa por um homem decente, distinto, um ministro da república, mas quando se "abre" o sujeito descobre-se que esse grande burguês brilhante oculta um velhaco.
O presidente Hollande pediu a seu ministro vedete que lhe dissesse, olho no olho, se possuía contas podres no exterior. O gentil ministro, olho no olho, disse "não". E Hollande acreditou. Mais tarde, contudo, as investigações fecharam o cerco. Cahuzac está fora. Acabou. Sua carreira política está morta. Talvez seja processado. E no coração da tempestade permaneceu, em estado lastimável, seu chefe, o presidente Hollande.
Um primeiro erro foi encarregar do Orçamento um homem com certeza brilhante, mas rico e mundano, sem antes exigir uma investigação sobre seus bens, seu modo de vida, suas contas. Mas, e depois? Por que Hollande protegeu durante tanto tempo seu nauseabundo ministro apesar dos rumores crescentes? Tamanha cegueira da parte de um chefe é tão estranha que a oposição de direita deixou entender que Hollande estava certamente inteirado dos fatos. Essa hipótese parece infundada: de fato, se Hollande, conhecendo a verdade, houvesse mantido Cahuzac no cargo, o presidente não seria apenas mentiroso, mas um "suicida".
Hollande é um cúmplice ou um idiota. Não é uma situação muito confortável para um chefe de Estado.
O governo socialista tremeu. O presidente François Hollande ficou arrasado. Os figurões da oposição pediram cabeças. O jornal Le Figaro exultou. A chefe do partido de extrema direita, Marine Le Pen, se regozijou. Os líderes de extrema esquerda, Jean-Luc Mélechon à frente, também esfregaram as mãos.
O ministro mentiroso não é um qualquer. Não só era o melhor da equipe de Hollande, como ainda ocupava um posto nevrálgico, o Orçamento. Ele não tinha igual em impor a dura lei da austeridade, enfrentar os sonegadores e corruptos, os canalhas que utilizam bancos longínquos para lavar seu dinheiro sujo. Não espanta que Cahuzac conhecesse na ponta dos dedos todas as artimanhas e velhacarias que os malfeitores usam para esconder seu dinheiro. Ele mesmo fazia como eles com o seu.
A História está cheia de sacripantas convertidos em policiais. No século 17, um pirata inglês, Henry Morgan, devastava as costas do Caribe. O rei da Inglaterra tomou uma decisão. Nomeou Morgan "vice-governador da Jamaica" e a pirataria desapareceu num passe de mágica.
É bem verdade que o caso de Cahuzac é o inverso: ele passa por um homem decente, distinto, um ministro da república, mas quando se "abre" o sujeito descobre-se que esse grande burguês brilhante oculta um velhaco.
O presidente Hollande pediu a seu ministro vedete que lhe dissesse, olho no olho, se possuía contas podres no exterior. O gentil ministro, olho no olho, disse "não". E Hollande acreditou. Mais tarde, contudo, as investigações fecharam o cerco. Cahuzac está fora. Acabou. Sua carreira política está morta. Talvez seja processado. E no coração da tempestade permaneceu, em estado lastimável, seu chefe, o presidente Hollande.
Um primeiro erro foi encarregar do Orçamento um homem com certeza brilhante, mas rico e mundano, sem antes exigir uma investigação sobre seus bens, seu modo de vida, suas contas. Mas, e depois? Por que Hollande protegeu durante tanto tempo seu nauseabundo ministro apesar dos rumores crescentes? Tamanha cegueira da parte de um chefe é tão estranha que a oposição de direita deixou entender que Hollande estava certamente inteirado dos fatos. Essa hipótese parece infundada: de fato, se Hollande, conhecendo a verdade, houvesse mantido Cahuzac no cargo, o presidente não seria apenas mentiroso, mas um "suicida".
Hollande é um cúmplice ou um idiota. Não é uma situação muito confortável para um chefe de Estado.
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Tradução de Celso Paciornik.
* Gilles Lapouge é correspondente em Paris.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,hollande-cumplice-ou-idiota-,1016688,0.htm
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