segunda-feira, 1 de abril de 2013

Os Percalços da Terceira e Quarta Idade

                                                                 Paulo Yokota*


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Todos sabem que as populações da terceira e quarta idade estão aumentando no mundo, mesmo nos países emergentes como o Brasil e, ainda que estejam efetuando esforços para o seu melhor atendimento, continuam havendo problemas que dificultam suas vidas. Não parece conveniente que tentem iludir os idosos como se esta fosse a melhor idade, pois eles continuam lúcidos e são realistas ao imaginarem que precisam conviver com crescentes problemas naturais de saúde procurando manter o melhor padrão de vida possível, evitando, como acontece com muitos, entrar em depressão que acaba complicando todos os demais problemas.

Muitos consideram que o magistral filme do diretor Michael Haneke, Amor, com as excepcionais interpretações principais de Jean Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, foi muito triste. Poderia ter uma evolução e final diferente, mas parece à dura realidade enfrentada por muitos no final de suas vidas. Pessoalmente, sofri também um AVC – Acidente Vascular Cerebral com consequências menos danosas, mas preciso conviver com algumas sequelas, o que faço mantendo o possível otimismo por recomendação de muitos médicos, além dos exercícios físicos habituais aos idosos, medicação e alimentação a mais sadia possível, além do exercício intelectual e profissional, evitando o avanço inexorável de muitas limitações naturais à idade.

Tomo a liberdade de listar algumas dificuldades que encontro numa vida normal dos idosos em São Paulo, onde vivo. Para continuar dirigindo no trânsito desta metrópole, notadamente à noite, constata-se a deficiência gritante da iluminação, pois muitas lâmpadas públicas encontram-se encobertas pelas árvores que eram podadas antigamente. Muitos não respeitam as regras elementares de trânsito, dificultando as manobras daqueles que não possuem mais a agilidade dos moços. 

Nas caminhadas pelas ruas, os muitos defeitos das calçadas e até dos leitos carroçáveis dificultam os livres movimentos, agravados para os cadeirantes, apesar da legislação atual exigir que se tenham estas facilidades. Muitos serviços que contam com complicados atendimentos eletrônicos estão com gravações com falas demasiadamente rápidas e complexas, que não são possíveis de serem acompanhadas pelos muitos idosos, que já possuem deficiências auditivas e de rápida compreensão. 

Muitos médicos não possuem a habilidade necessária para explicações detalhadas dos variados problemas dos idosos, havendo algumas vezes necessidade que médicos amigos complementem as informações de muitos exames, alguns desnecessários, que só aumentam os custos dos serviços médicos e sujeitam os idosos a efeitos colaterais evitáveis. A comunicação social é fundamental, notadamente na atitude amistosa e atenciosa que é devida aos idosos, que normalmente estão fragilizados.

Todos deveriam estar sempre conscientizados das inevitabilidades das evoluções da vida dos seres humanos, que nasce, vive e morre, o que é natural e inexorável. Sempre que possível, deve-se manter a melhor qualidade de vida dentro das limitações existentes, exercendo o que for possível para continuar-se realizando como pessoas, dando a sua contribuição enquanto ainda for capaz. 

Cada indivíduo possui as suas preferências, alguns gostam de se alimentar adequadamente, outros de leituras, também aqueles que apreciam a música, viagens e as múltiplas atividades que realizam suas aspirações, inclusive servir a comunidade com serviços voluntários. Outros continuam trabalhando enquanto podem, mesmo com as crescentes limitações, evitando os desgastes prematuros. Cada vez mais, muitos chegam hoje ao centenário com condições bem razoáveis.

Os ensinamentos orientais parecem mais adequados para as idades avançadas, pois incutem a consciência do carma, que existem coisas inevitáveis, não havendo nenhuma necessidade de desesperos. Que todos ajudem os idosos a continuar a se realizar como seres humanos, pois todos nós um dia chegaremos lá, de forma inexorável, o que não deve ser nenhuma tristeza, mas a consciência que cumprimos para o que nascemos. 
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*Paulo Yokota, economista brasileiro (dupla nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco Central do Brasil, ex-presidente do INCRA. Viveu e trabalhou nestas regiões. Foi comissário do governo brasileiro, temporariamente, na Expo Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de uma trading brasileira na Ásia. Viajou para lá mais de uma centena de vezes. Percorreu por lugares mais afastados de alguns destes países de ambas as regiões. Tem alguns livros publicados e centenas de artigos escritos sobre o intercâmbio entre estas regiões. Fez parte de alguns Conselhos que cuidaram deste intercâmbio, inclusive para o século XXI. Procura estar sempre atualizado sobre a Ásia. Viajou e trabalhou também pela Europa e a América do Norte, acumulando elementos para comparações. Ele contará com a colaboração de outros amigos com a vivência e experiência similares.
Fonte: http://www.asiacomentada.com.br/31/03/2013

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