Paulo Yokota*
Todos sabem que as populações da terceira e quarta idade estão
aumentando no mundo, mesmo nos países emergentes como o Brasil e, ainda
que estejam efetuando esforços para o seu melhor atendimento, continuam
havendo problemas que dificultam suas vidas. Não parece conveniente que
tentem iludir os idosos como se esta fosse a melhor idade, pois eles
continuam lúcidos e são realistas ao imaginarem que precisam conviver
com crescentes problemas naturais de saúde procurando manter o melhor
padrão de vida possível, evitando, como acontece com muitos, entrar em
depressão que acaba complicando todos os demais problemas.
Muitos consideram que o magistral filme do diretor Michael Haneke,
Amor, com as excepcionais interpretações principais de Jean Louis
Trintignant e Emmanuelle Riva, foi muito triste. Poderia ter uma
evolução e final diferente, mas parece à dura realidade enfrentada por
muitos no final de suas vidas. Pessoalmente, sofri também um AVC –
Acidente Vascular Cerebral com consequências menos danosas, mas preciso
conviver com algumas sequelas, o que faço mantendo o possível otimismo
por recomendação de muitos médicos, além dos exercícios físicos
habituais aos idosos, medicação e alimentação a mais sadia possível,
além do exercício intelectual e profissional, evitando o avanço
inexorável de muitas limitações naturais à idade.
Tomo a liberdade de listar algumas dificuldades que encontro numa
vida normal dos idosos em São Paulo, onde vivo. Para continuar
dirigindo no trânsito desta metrópole, notadamente à noite, constata-se a
deficiência gritante da iluminação, pois muitas lâmpadas públicas
encontram-se encobertas pelas árvores que eram podadas antigamente.
Muitos não respeitam as regras elementares de trânsito, dificultando as
manobras daqueles que não possuem mais a agilidade dos moços.
Nas caminhadas pelas ruas, os muitos defeitos das calçadas e até dos
leitos carroçáveis dificultam os livres movimentos, agravados para os
cadeirantes, apesar da legislação atual exigir que se tenham estas
facilidades. Muitos serviços que contam com complicados atendimentos
eletrônicos estão com gravações com falas demasiadamente rápidas e
complexas, que não são possíveis de serem acompanhadas pelos muitos
idosos, que já possuem deficiências auditivas e de rápida compreensão.
Muitos médicos não possuem a habilidade necessária para explicações
detalhadas dos variados problemas dos idosos, havendo algumas vezes
necessidade que médicos amigos complementem as informações de muitos
exames, alguns desnecessários, que só aumentam os custos dos serviços
médicos e sujeitam os idosos a efeitos colaterais evitáveis. A
comunicação social é fundamental, notadamente na atitude amistosa e
atenciosa que é devida aos idosos, que normalmente estão fragilizados.
Todos deveriam estar sempre conscientizados das inevitabilidades das
evoluções da vida dos seres humanos, que nasce, vive e morre, o que é
natural e inexorável. Sempre que possível, deve-se manter a melhor
qualidade de vida dentro das limitações existentes, exercendo o que for
possível para continuar-se realizando como pessoas, dando a sua
contribuição enquanto ainda for capaz.
Cada indivíduo possui as suas preferências, alguns gostam de se
alimentar adequadamente, outros de leituras, também aqueles que apreciam
a música, viagens e as múltiplas atividades que realizam suas
aspirações, inclusive servir a comunidade com serviços voluntários.
Outros continuam trabalhando enquanto podem, mesmo com as crescentes
limitações, evitando os desgastes prematuros. Cada vez mais, muitos
chegam hoje ao centenário com condições bem razoáveis.
Os ensinamentos orientais parecem mais adequados para as idades
avançadas, pois incutem a consciência do carma, que existem coisas
inevitáveis, não havendo nenhuma necessidade de desesperos. Que todos
ajudem os idosos a continuar a se realizar como seres humanos, pois
todos nós um dia chegaremos lá, de forma inexorável, o que não deve ser
nenhuma tristeza, mas a consciência que cumprimos para o que nascemos.
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*Paulo Yokota, economista brasileiro (dupla
nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco
Central do Brasil, ex-presidente do INCRA. Viveu e trabalhou nestas
regiões. Foi comissário do governo brasileiro, temporariamente, na Expo
Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de uma trading brasileira na
Ásia. Viajou para lá mais de uma centena de vezes. Percorreu por
lugares mais afastados de alguns destes países de ambas as regiões. Tem
alguns livros publicados e centenas de artigos escritos sobre o
intercâmbio entre estas regiões. Fez parte de alguns Conselhos que
cuidaram deste intercâmbio, inclusive para o século XXI. Procura estar
sempre atualizado sobre a Ásia. Viajou e trabalhou também pela Europa e
a América do Norte, acumulando elementos para comparações. Ele contará
com a colaboração de outros amigos com a vivência e experiência
similares.
Fonte: http://www.asiacomentada.com.br/31/03/2013
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