André Fernandes*
Nossa vida tornou-se uma correria incessante. Filhos, trabalho,
trânsito, viagens, prazos, tarefas domésticas, cursos, estudos, enfim,
uma gama de atividades que transformam o dia num instante. Muitas
pessoas sofrem as consequências do estresse daí decorrente. A dureza da
vida profissional e as demandas exageradas da indústria do ócio trazem
consigo um rol grande de obrigações, de maneira que, à noite, deseja-se
apenas descansar e não pensar em nada.
Assim, não resta muito tempo ou mesmo espaço para a reflexão e cria-se uma atmosfera de alienação espiritual: a pessoa vive a superficialidade do momento e das coisas imediatas. Curioso notar que, numa sociedade cuja a maioria das pessoas tem seu bem estar saciado, poucos se detêm a pensar sobre o sentido e o alcance da vida ou do homem: não se pede que ninguém resolva sair por aí bancando um Tales de Mileto, mas que procure seguir o conselho socrático do conhecimento próprio…
Nossa decadência para a reflexão vem acompanhada por uma atração pelo instintivo que, às vezes, flerta com a bizarrice ou a bestialidade. A indústria do entretenimento, a mídia escrita e eletrônica, as conversas de mesa de bar e até um prosaico café na padaria falam a mesma linguagem, com vários dialetos, segundo o nível de escolaridade: a linguagem do materialismo e da sensualidade.
Quem vive num ambiente assim dificilmente consegue enxergar além do raio compreendido pelo umbigo, pelo bolso e pela genitália. O espírito fica debilitado e cego frente ao espiritual e o entendimento incapacita-se para realizar as críticas mais elementares e óbvias. O sujeito passa a respirar o irresistível aroma do irracional: quando emprestei um livro sobre a virtude da pureza para um amigo, ele me perguntou se a obra se referia à poluição ambiental...
Excesso de informação também causa danos à saúde da reflexão. Vivemos na era dos meios de comunicação em massa. Recebemos uma imensa quantidade de informação e, muitas vezes, vemo-nos preocupados com dados que não têm qualquer serventia para nossa realidade concreta, quando não adentram no puro mexerico.
A pessoa quer acessar toda informação disponível em todos os canais de televisão e jornais do dia. Tem que assistir a todos os comentários dos especialistas e todos os documentários para se manter informado. Acessa a rede a todo momento para tomar conhecimento da última notícia. Em suma, não se converte em alguém bem informado, mas bem superficial: como não pensa, não consegue ir além da superfície horizontal daquilo que leu ou ouviu.
Tenho um amigo que não se interessa por jornais de qualquer tipo. Ele sempre diz que vai se inteirar do importante de alguma maneira. Se me parece uma postura pouco exemplar, por outro lado, convida-nos a pensar. Hoje, o volume de informações recebidas é inacreditável e cada vez mais especializado. Assim, é muito difícil alguém filosofar, refletir, sem uma certa atitude distante da realidade. Dostoievski afirmava que estar sozinho, de vez em quando, é mais necessário para uma pessoa do que comer e beber.
Ao longo da história, houve muitos pensadores que se divorciaram da correria do cotidiano da sociedade. Não queriam distrair-se com as banalidades e as futilidades que costumam vir junto. Diógenes, na antiga Grécia, não se deixava molestar por nada. Vivia feliz em seu barril. Wittgenstein, no século passado, renunciou à herança de seu pai, um rico industrial, em favor dos irmãos, porque preferia a sobriedade e, durante muito tempo, alimentou-se à base de pão e queijo somente.
Longe de imitá-los, podemos experimentar um pouco dessa atitude de distanciamento reflexivo da realidade. Assim, quem sabe, da próxima vez que formos presentear a tia com um livro, podemos refletir melhor e optar por um clássico da Jane Austen e não pela última obra da E. L. James. Ou mesmo quando alguém nos disser ser de libra ou de sagitário, podemos pensar um pouco mais e, então, responder-lhe que somos... daqui mesmo. Com respeito à divergência, é o que penso.
Assim, não resta muito tempo ou mesmo espaço para a reflexão e cria-se uma atmosfera de alienação espiritual: a pessoa vive a superficialidade do momento e das coisas imediatas. Curioso notar que, numa sociedade cuja a maioria das pessoas tem seu bem estar saciado, poucos se detêm a pensar sobre o sentido e o alcance da vida ou do homem: não se pede que ninguém resolva sair por aí bancando um Tales de Mileto, mas que procure seguir o conselho socrático do conhecimento próprio…
Nossa decadência para a reflexão vem acompanhada por uma atração pelo instintivo que, às vezes, flerta com a bizarrice ou a bestialidade. A indústria do entretenimento, a mídia escrita e eletrônica, as conversas de mesa de bar e até um prosaico café na padaria falam a mesma linguagem, com vários dialetos, segundo o nível de escolaridade: a linguagem do materialismo e da sensualidade.
Quem vive num ambiente assim dificilmente consegue enxergar além do raio compreendido pelo umbigo, pelo bolso e pela genitália. O espírito fica debilitado e cego frente ao espiritual e o entendimento incapacita-se para realizar as críticas mais elementares e óbvias. O sujeito passa a respirar o irresistível aroma do irracional: quando emprestei um livro sobre a virtude da pureza para um amigo, ele me perguntou se a obra se referia à poluição ambiental...
Excesso de informação também causa danos à saúde da reflexão. Vivemos na era dos meios de comunicação em massa. Recebemos uma imensa quantidade de informação e, muitas vezes, vemo-nos preocupados com dados que não têm qualquer serventia para nossa realidade concreta, quando não adentram no puro mexerico.
A pessoa quer acessar toda informação disponível em todos os canais de televisão e jornais do dia. Tem que assistir a todos os comentários dos especialistas e todos os documentários para se manter informado. Acessa a rede a todo momento para tomar conhecimento da última notícia. Em suma, não se converte em alguém bem informado, mas bem superficial: como não pensa, não consegue ir além da superfície horizontal daquilo que leu ou ouviu.
Tenho um amigo que não se interessa por jornais de qualquer tipo. Ele sempre diz que vai se inteirar do importante de alguma maneira. Se me parece uma postura pouco exemplar, por outro lado, convida-nos a pensar. Hoje, o volume de informações recebidas é inacreditável e cada vez mais especializado. Assim, é muito difícil alguém filosofar, refletir, sem uma certa atitude distante da realidade. Dostoievski afirmava que estar sozinho, de vez em quando, é mais necessário para uma pessoa do que comer e beber.
Ao longo da história, houve muitos pensadores que se divorciaram da correria do cotidiano da sociedade. Não queriam distrair-se com as banalidades e as futilidades que costumam vir junto. Diógenes, na antiga Grécia, não se deixava molestar por nada. Vivia feliz em seu barril. Wittgenstein, no século passado, renunciou à herança de seu pai, um rico industrial, em favor dos irmãos, porque preferia a sobriedade e, durante muito tempo, alimentou-se à base de pão e queijo somente.
Longe de imitá-los, podemos experimentar um pouco dessa atitude de distanciamento reflexivo da realidade. Assim, quem sabe, da próxima vez que formos presentear a tia com um livro, podemos refletir melhor e optar por um clássico da Jane Austen e não pela última obra da E. L. James. Ou mesmo quando alguém nos disser ser de libra ou de sagitário, podemos pensar um pouco mais e, então, responder-lhe que somos... daqui mesmo. Com respeito à divergência, é o que penso.
--------------
* Juiz de Direito e professor do Instituto de Ciências SociasEmail: agfernandes@tjsp.jus.br
Fonte: Correio Popular on line, 10/04/2013
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário