Enzo Bianchi*
Há três dominantes fundamentais que atuam sobre as esferas humanas do amar, do ter e do querer: a dominante do eros (libido amandi), a dominante da posse (libido possidendi), a dominante do poder e da afirmação de si (libido dominandi).
Não é possível a edificação de uma personalidade humana e espiritual
robusta sem a luta interior, sem um exercício ao discernimento entre bem
e mal, de modo a chegar a dizer "sins" convencidos e "nãos" eficazes:
"sim" ao que podemos ser e fazer para viver uma vida humana digna desse
nome; "não" às pulsões idolátricas e egocêntricas que nos alienam e
contradizem as nossas relações com nós mesmos, com os outros e com as
coisas e, para quem crê, com Deus: relações chamadas a ser marcadas por
liberdade e amor.
Nesse sentido, eu gostaria de analisar três dominantes fundamentais
que atuam sobre as esferas humanas do amar, do ter e do querer: a
dominante do eros (libido amandi), a dominante da posse (libido possidendi), a dominante do poder e da afirmação de si (libido dominandi).
O homem encontra o sentido da sua vida no amar, e o eros é a pulsão
fundamental que o habita, é parte integrante da sua fome de amor. No
entanto, ele também deve encontrar limites, isto é, deve ser atravessado
pela dinâmica do desejo. O eros deve aceitar a diferença e a distância:
não é por acaso que o interdito primário fundamental em todas as
culturas é o do incesto.
Em um tempo em que a imagem é galopante, enquanto se perdeu o valor
do símbolo, o eros é mais espetacularizado do que vivido na suas
profundidade. E talvez esteja aqui, na atual tirania da imagem, a raiz
da idolatria da esfera erótica: a idolatria é construção de uma imagem
para substituir a realidade, é fuga no imaginário, perdendo a adesão à
realidade e evitando também as dificuldades, os sofrimentos, as
angústias que ela traz consigo. Na imagem publicizada, a sexualidade é
vivida sem angústias, sem conflitos: eis a ilusão sedutora do erotismo
tornado ídolo, às custas de uma sexualidade despersonalizada, sem mais
nenhum valor simbólico, sem o outro, sem o seu rosto. Nesse sentido, não
se pode esquecer o imperante exercício da sexualidade virtual,
consumida online, além da pornografia disponível na rede sob várias
formas...
Como lutar nesse âmbito? O dominante do eros deve fugir da
coisificação do outro e da perversão do desejo, para voltar a ser
dinamismo de encontro e imersão no mistério de comunhão em que o homem e
a mulher expressam o seu amor, até celebrá-lo naquela que João Paulo II
ousava chamar de "liturgia dos corpos". Nesse caminho, é preciso se
exercitar na ascese humana, na luta contra a despersonalização da pulsão
e a reificação da sexualidade.
O ser humano não tem só o direito, mas também o dever de viver uma
relação com as coisas e com os bens: sem essa relação que lhe permite
satisfazer a necessidade de pão, de casa e de roupas, o homem não
constrói a si mesmo e não vive aquela plenitude que lhe cabe como homem e
que a fé cristã lê como vocação para ser pastor, rei e senhor dentro da
criação.
No entanto, nessa relação com as coisas, é grande a tentação
idolátrica, a sedução do anseio pela posse. Mas quando a relação com as
coisas se torna idolátrica? Quando a posse se torna um fim em si mesmo,
justificando também qualquer meio a fim de obtê-lo, quando se quer
afirmar "o meu" e "o teu" – essas frias palavras, diziam os Padres da
Igreja! –, contradizendo uma elementar exigência de justiça e
desconhecendo o destino universal dos bens. Há, portanto, um claro
discernimento a ser feito: ou sermos guiados pelo dinamismo da
comunicação e da comunhão, ou sermos alienados pela dominante da posse, tertium non datur.
Neste tempo de crise da interioridade, de remoção da interioridade da
esfera da existência, grande é a tentação de se deixar definir por
aquilo que se tem, ou, correlativamente, por que se faz, em suma, por
aquilo que é visível e quantificável, por aquilo que é exterior: pela
imagem que o outro vê. Cada vez mais, nesse pseudocultura, o outro é
entendido não como diferente com o qual se pode comunicar, mas como
espectador: em particular espectador do meu sucesso, da minha riqueza.
Certamente, o anseio por possuir responde a uma forma de angústia e
de luta contra a morte, a uma busca de onipotência e de tranquilização
que vêm da sensação de poder adquirir tudo, eliminar as necessidades
satisfazendo-as imediatamente. Afinal, vivemos em um canto do mundo em
que é possível a satisfação de qualquer necessidade, mas em que se
perdeu o sentido da autêntica necessidade, da necessidade real: muitas
vezes, as necessidades são induzidas, criadas, mas exigem, com toda a
força do ídolo, uma força que repousa em uma radical inconsistência, a
satisfação.
Começa-se a desejar a posse de uma coisa e, pouco a pouco, o anseio
por possuir leva a não considerar os outros: quer-se tudo e já, mesmo às
custas dos outros. Esse aspecto surge com força particular da
constatação do sentimento generalizado de irresponsabilidade com relação
àqueles que virão depois de nós. O "tudo e já" se torna também "tudo é
meu", "tudo é nosso".
Aqui, a luta exige da parte de cada um a capacidade de pôr uma
distância entre si mesmo e as riquezas, para não cair no terrível
equívoco daqueles que se deixam definir por aquilo que possuem. É
preciso sair da lógica estreita e angustiada do "meu" e do "teu", para
entrar na liberdade da partilha e da comunhão dos bens.
A última tentação "mãe" é a do poder, da afirmação de si sobre os outros: a libido dominandi,
talvez o ídolo que requer a adoração mais total, quando chega até a
exigir o sangue dos outros nossos irmãos e irmãs em humanidade. Não por
acaso, para o Apocalipse de João, esse ídolo chega a assumir os traços
do próprio Deus (cf. Ap 13), a se travestir de Deus para ver voltadas a
si a adesão e a adoração que devem ir somente a Deus.
Ora, é evidente que o homem é um ser-em-relação e, por conseguinte,
exerce uma influência sobre os outros, pelos quais, por sua vez, é
influenciado: desse jogo relacional brota a criação de uma vida comum, a
construção de uma cidade, de uma polis, a edificação de uma
convivência. Mas quando se passa da lógica da inter-relação e da troca –
em que a presença dos outros é vista como positiva e sentida como
essencial – a uma afirmação de si contra ou acima dos outros, quando se
transforma o próprio eu em absoluto, quando nos deixamos inebriar pela
sede de poder, então se precipita na idolatria.
Se não for freada e se não receber um limite, a libido dominandi se torna o ídolo mais devastador em nível social e político. Segundo Julia Kristeva,
ele é a forma culminante do narcisismo e leva o indivíduo ou o sujeito
político ou institucional a olhar para si mesmo como para Deus. Mas o
resultado sociopolítico de um narcisismo extremo é o poder totalitário,
ditatorial. Uma instituição, um partido, um sistema que faça de si mesmo
e da sua própria sobrevivência o único fim ou, melhor, que se considere
depositário do único e verdadeiro bem para todos, bem que, portanto,
poderá e deverá ser imposto a todos, torna-se liberticida. Isto é,
incapaz de aceitar que haja quem tome e mantenha uma distância dele, que
conserve uma alteridade, uma diversidade.
Não por acaso, uma sociedade como a nossa, em forte condição de
instabilidade e de crise, carente de ideais coletivos, esfacelada no seu
tecido social, com perda de confiança nas instituições políticas, vê
surgir o culto à personalidade e crescer os fenômenos de personalização e
de espetacularização de todos os poderes. E torna-se assim terreno de
possíveis soluções políticas "idolátricas".
Diante desses riscos decisivos, a luta interior é o caminho através
do qual, no espaço da liberdade e do amor, aprende-se a arte da
resistência à tentação e da arte da escolha. Ter um coração unificado,
um coração puro, sensível e capaz de discernimento, um coração que cuide
e gere pensamentos de amor: eis o objetivo do combate e da resistência
interior, arte realmente apaixonante. É necessária uma grande luta
anti-idolátrica para sermos livres para servir e amar cada homem, cada
mulher, cada criatura; em suma, para chegar a fazer da nossa vida humana
uma obra-prima.
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* A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal La Stampa, 29-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 02/10/2013
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