L. F. VERISSIMO
Um personagem do Vladimir Nabokov diz que o escritor deve manter-se sempre “à beira da paródia”, mas tendo do outro lado “um abismo de seriedade”, e deve saber equilibrar-se neste estreito caminho “entre a verdade e sua caricatura”. O próprio Nabokov foi quem melhor seguiu o conselho do seu personagem, que também serve como uma receita para o pós-moderno, embora Nabokov fosse o primeiro a rejeitar o rótulo. Em muitos dos seus textos, culminando com Lolita, em que o narrador Humbert Humbert faz uma autocaricatura trágica, Nabokov soube manter o equilíbrio, não caindo nem no vazio do puro humor nem no vazio do outro lado. O resultado é que nunca se viu alguém fazer piruetas tão engraçadas na borda de um abismo.
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Antes de Nabokov, não muitos tinham tentado a proeza. Graham Greene dividiu sua obra em duas categorias, os romances sérios, marcados pelos tormentos sobre pecado e remissão de um católico relapso e pelas suas preocupações políticas, e os que ele chamava de “divertimentos” e eram apenas isto, livros divertidos. Foi uma maneira de Greene escapar da rotulagem da crítica, e também de escapar do abismo. A verdadeira divisão da sua literatura é um pouco como a que divide as águas minerais, no caso “com abismo” ou “sem abismo”.
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Já na literatura atual (ouço dizer, não tenho lido nada), tem muita gente seguindo a trilha nabokoviana, ou fazendo humor sem dispensar o abismo. Um pouco, imagino, porque, como tudo já foi feito em literatura, uma certa dose de paródia, mesmo não-intencional, é inevitável. E um pouco porque até os “divertimentos” mais descomprometidos agora precisem de um centro de gravidade (estão usando muito a palavra “gravitas”) para serem, pelo menos, mais respeitáveis. O fato é que hoje quase todos que escrevem são equilibristas.
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NOVIDADE
(Da série “Poesia numa hora destas?!”)
Queremos truques novos,
nada com cartas ou lenços
ou focas jogando bola.
Rápido:
um coelho
tire um mágico
da cartola!”
*Escritor. Colunista da ZH e escreve em outros jornais.FONTE: ZH online, 07/01/2010
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