David Coimbra*
Outro dia, o meu amigo Niba contemplou uma foto sua e comentou:
– Que estranho. Nesta foto parece que tenho cabelos brancos...
Riram todos que o ouviam: os cabelos do Niba, se não são brancos, são grisalhos; o que é a mesma coisa.
Mas eu o entendo. Às vezes vejo uma foto minha e me assusto: ei, esse não é aquele cara que vejo no espelho! O cara do espelho é muito mais jovem.
Por que as imagens são diferentes, a do espelho e a da foto? Suponho que, na foto, eu me distanciei de mim mesmo. É como se fosse outra pessoa observando a imagem. Quando me miro no espelho, não. Quando me miro no espelho, sou eu comigo mesmo, um momento íntimo, de autocontemplação.
Ocorre que, na verdade, não tenho essa idade cronológica que o tempo me impôs. Tenho 12 anos de idade. Acredite. Todas as coisas que sinto são as mesmas de quando tinha 12 anos. Percebo isso com clareza quando estou com meus amigos. Nossas brincadeiras, nossas conversas, nossas risadas e nossos interesses são de guris de 12 anos de idade. Ainda sonhamos sonhos de guris e, quando nos despedimos, no fim da noite, nos despedimos uns dos outros e também dos guris que somos. Voltamos a ser homens. Tristemente.
Quando brinco com meu filhinho de cinco anos, não sou o pai dele, sou um amigo um pouco mais velho. Por isso nossas brincadeiras funcionam. Por isso nos divertimos tanto.
Mas o momento em que identifico com mais solidez a minha verdadeira idade, quando sei que tenho mesmo 12 anos, é quando olho para uma mulher.
Qualquer mulher, em qualquer situação.
Quando tinha 12 anos, cristalizou-se esse fascínio que nutro pelas mulheres. Uma mulher tem o jeito de cruzar as pernas trançando a canela direita por trás da esquerda numa contorção improvável. Uma mulher, ao experimentar o perfume, fecha a mão e cheira o próprio punho. Uma mulher morde uma mecha do cabelo que lhe cai ao lado da nuca. Uma mulher, ao examinar o estado das unhas, estica o braço, dobra a mão em arco e leva no rosto o ar grave de quem executa uma atividade vital.
Esses pequenos gestos das mulheres me hipnotizam desde que tinha 12 anos.
E os grandes gestos também.
Só as mulheres são capazes de certas generosidades. Ainda hoje, às vezes uma mulher que mal conheço me abraça com carinho, me olha com ternura. É comovente. Não há nada de sexual naquilo, não raro essa mulher é muito mais velha do que eu. Entendo o que ela sente. É o instinto maternal que lhe brota. Porque ela sabe, ela vê, as mulheres são capazes de ver: ali, diante dela, com cabelos grisalhos nas frontes, não está um homem. Está um menino de 12 anos de idade.
– Que estranho. Nesta foto parece que tenho cabelos brancos...
Riram todos que o ouviam: os cabelos do Niba, se não são brancos, são grisalhos; o que é a mesma coisa.
Mas eu o entendo. Às vezes vejo uma foto minha e me assusto: ei, esse não é aquele cara que vejo no espelho! O cara do espelho é muito mais jovem.
Por que as imagens são diferentes, a do espelho e a da foto? Suponho que, na foto, eu me distanciei de mim mesmo. É como se fosse outra pessoa observando a imagem. Quando me miro no espelho, não. Quando me miro no espelho, sou eu comigo mesmo, um momento íntimo, de autocontemplação.
Ocorre que, na verdade, não tenho essa idade cronológica que o tempo me impôs. Tenho 12 anos de idade. Acredite. Todas as coisas que sinto são as mesmas de quando tinha 12 anos. Percebo isso com clareza quando estou com meus amigos. Nossas brincadeiras, nossas conversas, nossas risadas e nossos interesses são de guris de 12 anos de idade. Ainda sonhamos sonhos de guris e, quando nos despedimos, no fim da noite, nos despedimos uns dos outros e também dos guris que somos. Voltamos a ser homens. Tristemente.
Quando brinco com meu filhinho de cinco anos, não sou o pai dele, sou um amigo um pouco mais velho. Por isso nossas brincadeiras funcionam. Por isso nos divertimos tanto.
Mas o momento em que identifico com mais solidez a minha verdadeira idade, quando sei que tenho mesmo 12 anos, é quando olho para uma mulher.
Qualquer mulher, em qualquer situação.
Quando tinha 12 anos, cristalizou-se esse fascínio que nutro pelas mulheres. Uma mulher tem o jeito de cruzar as pernas trançando a canela direita por trás da esquerda numa contorção improvável. Uma mulher, ao experimentar o perfume, fecha a mão e cheira o próprio punho. Uma mulher morde uma mecha do cabelo que lhe cai ao lado da nuca. Uma mulher, ao examinar o estado das unhas, estica o braço, dobra a mão em arco e leva no rosto o ar grave de quem executa uma atividade vital.
Esses pequenos gestos das mulheres me hipnotizam desde que tinha 12 anos.
E os grandes gestos também.
Só as mulheres são capazes de certas generosidades. Ainda hoje, às vezes uma mulher que mal conheço me abraça com carinho, me olha com ternura. É comovente. Não há nada de sexual naquilo, não raro essa mulher é muito mais velha do que eu. Entendo o que ela sente. É o instinto maternal que lhe brota. Porque ela sabe, ela vê, as mulheres são capazes de ver: ali, diante dela, com cabelos grisalhos nas frontes, não está um homem. Está um menino de 12 anos de idade.
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* Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 14/06/2013
Imagem da Iternet
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