Depois de duas semanas de convulsão social, O GLOBO buscou respostas, em diferentes setores da sociedade, sobre o impacto dos protestos e o que pode se esperar daqui para frente
Marlon Reis - Juiz
1 - Eu afirmo que não tem como voltar atrás. Representa uma nova forma de pensar, uma nova cultura. Isso tende a aumentar. Passa a seguinte mensagem para as instituições democráticas: elas precisam se redimensionar, precisam ouvir. Essas pessoas querem ser ouvidas.
2 - Compete ao Estado evoluir na sua capacidade de reação democrática e reagir contra esses grupos minoritários e contê-los. Até porque não há outro caminho, porque não há líderes com quem conversar sobre isso.
Leonardo Avritzer - Cientista político - UFMG
1 - O futuro do movimento, tal como outros movimentos parecidos como “occupy wall street” e os indignados, é continuar tendo relevância a médio prazo com uma pauta mais clara.
2 - O principal desafio é a busca de uma convergência de pauta e de práticas entre os seus participantes. Assim, o movimento terá que recuar um pouco se ele não quiser ser derrotado pelas contradições.
Mayara Vivian - Movimento Passe Livre
1 - Não consigo prever isso agora. Acho que a ferramenta já está dada. O governador, qualquer pessoa do Estado, sabe que, se ele fizer uma bobagem, a população está mais vacinada, pode ir para a rua. E a gente vai mesmo.
2 - A prefeitura é do povo, deixe o povo entrar. As pessoas querem criar o maniqueísmo do bonzinho e do malvado, do vândalo e do ordeiro. O Passe Livre está “de boa” dessa discussão. Se a população entendesse que o Palácio dos Bandeirantes é do povo e está com ele, ninguém teria vontade de fazer aquilo (invadir).
Alex Figueira de Carvalho - Servidor público
1 - Acredito que as manifestações vão prosseguir, mas em menor intensidade, depois da revogação do aumento da tarifa. O combate à PEC 37 é prioritário, porque é uma questão perniciosa para a sociedade. Mordaça no MP, não. Mesmo assim, acho que a manifestação não precisa de uma pauta comum.
2 - Acho que não deve haver violência de nenhuma forma, nem mesmo a verbal. A violência é de gente infiltrada, que sempre ocorre. Isso não reflete a temperatura do país, que não está tão alta assim. A democracia pressupõe o protesto, a pressão popular. Não é só o voto.
Fabiano Santos - Cientista político - Iesp
1 - Se estamos falando do Movimento Passe Livre, a tendência é refluir, na medida em que as reivindicações são absorvidas e um canal de comunicação com o poder público é estabelecido. Se falamos do “movimento” em um sentido mais amplo, não é possível prever, porque várias agendas contraditórias estão em jogo.
2 - Fazer protestos em larga escala sempre traz o risco da violência, risco que aumenta na medida em que quem convocou não tem real liderança sobre o conjunto de quem os segue, e longe está de unificar um discurso e uma agenda no seu entorno. Controlar a violência não é o desafio do movimento, que é jovem e inconsequente. É dever do poder público.
Marcus Vinicius Furtado - Presidente da OAB
1 - Penso que o que a comunidade brasileira espera das instituições é ouvir as reivindicações e transformar em realidade institucional. Agora não posso garantir que com isso as manifestações vão cessar, nem é esse o objetivo. O objetivo é dar vazão às reivindicações das manifestações.
2 - Quem age com vandalismo, contra o patrimônio público, ele está fazendo um desserviço à manifestação, porque ele está jogando a população contra a manifestação. Penso que, a permanecer estes excessos, as manifestações podem perder o apoio da sociedade.
Marcos Palmeira - Ator
1 - Uma coisa clara é que mexeu bastante com a autoestima do povo. O povo voltou a ter um certo prazer de falar em política. Talvez a partir daqui tenha um consciência maior. Esse é o cidadão do futuro que a gente busca, que é antenado e que não fica aceitando tudo goela abaixo.
2 - A violência é de uma minoria. Essa é uma geração da democracia. São pessoas que não viveram na ditadura. É um aprendizado para todo mundo. A polícia também vai ter que sofrer essa reeducação. Acho que o desafio hoje é fazer com que os políticos se conectem com a opinião pública.
Edney Souza - Especialista em mídias sociais
1 - Existe muita dúvida sobre quais os objetivos e caminhos que essas manifestações têm tomado, porque é um movimento horizontal, com gente de diversos setores da sociedade, sem uma liderança clara. Há um sentimento generalizado de insatisfação e indignação com o governo. Minha esperança, porque não sou cientista social para fazer uma projeção, é que a energia criada com as manifestações passadas seja direcionada a outras causas, com objetivos claros, e continue servindo de pressão social.
2 - Eu acredito que o protesto completamente pacífico é difícil de ser notado, mas, se o protesto gera um incômodo significativo, como paralisar a cidade, isso é um tipo de violência tolerável pela maioria. Como o movimento é horizontal e sem líderes, não cabe ao movimento conter a violência, cabe à polícia conter os violentos.
José Murilo de Carvalho - Historiador e membro da ABL
1 - Ninguém previu a erupção do movimento. Quem pretender prever seu futuro é um temerário.
2 - Há sempre os pescadores de águas turvas. Mas até o governo parece estar entendendo a diferença entre os dois grupos. Só quem não entende é a polícia. Ela é um risco para o movimento, mas não será seu maior desafio, que, a meu ver, estará na definição do foco, uma vez alcançada a meta inicial de revogação dos aumentos. Nunca antes na História deste país houve manifestação de protesto tão ampla e espontânea como a que estamos presenciando.
Marco Antonio Villa - Historiador
1 - Saber o futuro do movimento é a pergunta mais difícil. É tudo muito novo. Nunca ocorreu da forma como tem ocorrido nas duas últimas semanas. Não é comparável a nada, nem às Diretas Já.
2 - A violência não é o grande desafio do movimento nem do país. Pode ser resolvida com a atuação adequada da polícia na hora certa e no local certo. O desafio, mesmo, é ver como essa estrutura política petrificada que nós temos vai atender a essas demandas da rua.
Gil Castelo Branco - Presidente da ONG Contas Abertas
1 - O importante neste momento é nós tentarmos criar dentro de todas essas reivindicações difusas aquilo que seria o essencial e escolhermos ou criarmos um ente político, um sujeito político que possa conduzir essas reivindicações junto aos órgãos públicos, para que haja de fato consequências práticas.
2 - A maioria é pacífica, mas no fim das manifestações surgem esses baderneiros, ladrões, saqueadores, cujo objetivo é apenas roubar ou causar dano ao patrimônio público. Isso tem que ser combatido com rigor pela polícia. Os manifestantes têm tentado, mas é difícil articular.
Reinaldo Gonçalves - Professor de Economia Internacional - UFRJ
1 - Visto que os atuais grupos dirigentes são absolutamente incapazes de mudar o modelo, o futuro próximo é de trajetória de instabilidade.
2 - No Brasil, o fracasso da conciliação das elites e das reforminhas faz com que os grupos dirigentes apelem para o uso ativo do aparelho repressivo do Estado com o objetivo de conter a revolta social.
Paulo Henrique Lima - Estudante de Direito
1 - Nós conseguimos uma grande vitória com a redução das tarifas, mas ainda há muito a conquistar. Quem vai pagar a redução de tarifas é o povo e não os empresários, com seus lucros. E ainda há problemas sérios, na área de Saúde e Educação.
2 - O que acaba acontecendo, na maioria das manifestações, são provocações da polícia. O que leva ao conflito é o despreparo da polícia. Eu percebo que todo sentimento de revolta acaba se manifestando de forma distinta, uns mais eufóricos que outros. Mas só surge depois do estopim de agressão da polícia.
Regina Novaes - Cientista social - UFRJ
1 - Um novo ciclo deve começar agora. Neste futuro próximo, o legado destes dias deve se manifestar em múltiplas ações voltadas para a busca de direitos específicos por meio de negociações descentralizadas.
2 - Não adianta esperar ou torcer para que sejam superados ou acirrados os confrontos internos entre “os manifestantes”. Isso não vai acontecer. Cabe aos poderes públicos a iniciativa de (re)conhecer as múltiplas motivações e criar canais de diálogo para tratar as diferentes questões que foram trazidas para as ruas. Isso não quer dizer que a polícia não cumpra seu papel de proteger o patrimônio público.
David Fleischer - Cientista político - UnB
1 - Não se sabe para onde vai rumar. Acho que nem os supostos líderes dos movimentos sabem.
2 - Em grande parte, sim (a violência é o principal problema dos protestos), porque eles (os manifestantes) não conseguem controlar esses vândalos que participam das manifestações. Tem até gente com ficha criminal envolvida nessas ações.
1 - Eu afirmo que não tem como voltar atrás. Representa uma nova forma de pensar, uma nova cultura. Isso tende a aumentar. Passa a seguinte mensagem para as instituições democráticas: elas precisam se redimensionar, precisam ouvir. Essas pessoas querem ser ouvidas.
2 - Compete ao Estado evoluir na sua capacidade de reação democrática e reagir contra esses grupos minoritários e contê-los. Até porque não há outro caminho, porque não há líderes com quem conversar sobre isso.
Leonardo Avritzer - Cientista político - UFMG
1 - O futuro do movimento, tal como outros movimentos parecidos como “occupy wall street” e os indignados, é continuar tendo relevância a médio prazo com uma pauta mais clara.
2 - O principal desafio é a busca de uma convergência de pauta e de práticas entre os seus participantes. Assim, o movimento terá que recuar um pouco se ele não quiser ser derrotado pelas contradições.
Mayara Vivian - Movimento Passe Livre
1 - Não consigo prever isso agora. Acho que a ferramenta já está dada. O governador, qualquer pessoa do Estado, sabe que, se ele fizer uma bobagem, a população está mais vacinada, pode ir para a rua. E a gente vai mesmo.
2 - A prefeitura é do povo, deixe o povo entrar. As pessoas querem criar o maniqueísmo do bonzinho e do malvado, do vândalo e do ordeiro. O Passe Livre está “de boa” dessa discussão. Se a população entendesse que o Palácio dos Bandeirantes é do povo e está com ele, ninguém teria vontade de fazer aquilo (invadir).
Alex Figueira de Carvalho - Servidor público
1 - Acredito que as manifestações vão prosseguir, mas em menor intensidade, depois da revogação do aumento da tarifa. O combate à PEC 37 é prioritário, porque é uma questão perniciosa para a sociedade. Mordaça no MP, não. Mesmo assim, acho que a manifestação não precisa de uma pauta comum.
2 - Acho que não deve haver violência de nenhuma forma, nem mesmo a verbal. A violência é de gente infiltrada, que sempre ocorre. Isso não reflete a temperatura do país, que não está tão alta assim. A democracia pressupõe o protesto, a pressão popular. Não é só o voto.
Fabiano Santos - Cientista político - Iesp
1 - Se estamos falando do Movimento Passe Livre, a tendência é refluir, na medida em que as reivindicações são absorvidas e um canal de comunicação com o poder público é estabelecido. Se falamos do “movimento” em um sentido mais amplo, não é possível prever, porque várias agendas contraditórias estão em jogo.
2 - Fazer protestos em larga escala sempre traz o risco da violência, risco que aumenta na medida em que quem convocou não tem real liderança sobre o conjunto de quem os segue, e longe está de unificar um discurso e uma agenda no seu entorno. Controlar a violência não é o desafio do movimento, que é jovem e inconsequente. É dever do poder público.
Marcus Vinicius Furtado - Presidente da OAB
1 - Penso que o que a comunidade brasileira espera das instituições é ouvir as reivindicações e transformar em realidade institucional. Agora não posso garantir que com isso as manifestações vão cessar, nem é esse o objetivo. O objetivo é dar vazão às reivindicações das manifestações.
2 - Quem age com vandalismo, contra o patrimônio público, ele está fazendo um desserviço à manifestação, porque ele está jogando a população contra a manifestação. Penso que, a permanecer estes excessos, as manifestações podem perder o apoio da sociedade.
Marcos Palmeira - Ator
1 - Uma coisa clara é que mexeu bastante com a autoestima do povo. O povo voltou a ter um certo prazer de falar em política. Talvez a partir daqui tenha um consciência maior. Esse é o cidadão do futuro que a gente busca, que é antenado e que não fica aceitando tudo goela abaixo.
2 - A violência é de uma minoria. Essa é uma geração da democracia. São pessoas que não viveram na ditadura. É um aprendizado para todo mundo. A polícia também vai ter que sofrer essa reeducação. Acho que o desafio hoje é fazer com que os políticos se conectem com a opinião pública.
Edney Souza - Especialista em mídias sociais
1 - Existe muita dúvida sobre quais os objetivos e caminhos que essas manifestações têm tomado, porque é um movimento horizontal, com gente de diversos setores da sociedade, sem uma liderança clara. Há um sentimento generalizado de insatisfação e indignação com o governo. Minha esperança, porque não sou cientista social para fazer uma projeção, é que a energia criada com as manifestações passadas seja direcionada a outras causas, com objetivos claros, e continue servindo de pressão social.
2 - Eu acredito que o protesto completamente pacífico é difícil de ser notado, mas, se o protesto gera um incômodo significativo, como paralisar a cidade, isso é um tipo de violência tolerável pela maioria. Como o movimento é horizontal e sem líderes, não cabe ao movimento conter a violência, cabe à polícia conter os violentos.
José Murilo de Carvalho - Historiador e membro da ABL
1 - Ninguém previu a erupção do movimento. Quem pretender prever seu futuro é um temerário.
2 - Há sempre os pescadores de águas turvas. Mas até o governo parece estar entendendo a diferença entre os dois grupos. Só quem não entende é a polícia. Ela é um risco para o movimento, mas não será seu maior desafio, que, a meu ver, estará na definição do foco, uma vez alcançada a meta inicial de revogação dos aumentos. Nunca antes na História deste país houve manifestação de protesto tão ampla e espontânea como a que estamos presenciando.
Marco Antonio Villa - Historiador
1 - Saber o futuro do movimento é a pergunta mais difícil. É tudo muito novo. Nunca ocorreu da forma como tem ocorrido nas duas últimas semanas. Não é comparável a nada, nem às Diretas Já.
2 - A violência não é o grande desafio do movimento nem do país. Pode ser resolvida com a atuação adequada da polícia na hora certa e no local certo. O desafio, mesmo, é ver como essa estrutura política petrificada que nós temos vai atender a essas demandas da rua.
Gil Castelo Branco - Presidente da ONG Contas Abertas
1 - O importante neste momento é nós tentarmos criar dentro de todas essas reivindicações difusas aquilo que seria o essencial e escolhermos ou criarmos um ente político, um sujeito político que possa conduzir essas reivindicações junto aos órgãos públicos, para que haja de fato consequências práticas.
2 - A maioria é pacífica, mas no fim das manifestações surgem esses baderneiros, ladrões, saqueadores, cujo objetivo é apenas roubar ou causar dano ao patrimônio público. Isso tem que ser combatido com rigor pela polícia. Os manifestantes têm tentado, mas é difícil articular.
Reinaldo Gonçalves - Professor de Economia Internacional - UFRJ
1 - Visto que os atuais grupos dirigentes são absolutamente incapazes de mudar o modelo, o futuro próximo é de trajetória de instabilidade.
2 - No Brasil, o fracasso da conciliação das elites e das reforminhas faz com que os grupos dirigentes apelem para o uso ativo do aparelho repressivo do Estado com o objetivo de conter a revolta social.
Paulo Henrique Lima - Estudante de Direito
1 - Nós conseguimos uma grande vitória com a redução das tarifas, mas ainda há muito a conquistar. Quem vai pagar a redução de tarifas é o povo e não os empresários, com seus lucros. E ainda há problemas sérios, na área de Saúde e Educação.
2 - O que acaba acontecendo, na maioria das manifestações, são provocações da polícia. O que leva ao conflito é o despreparo da polícia. Eu percebo que todo sentimento de revolta acaba se manifestando de forma distinta, uns mais eufóricos que outros. Mas só surge depois do estopim de agressão da polícia.
Regina Novaes - Cientista social - UFRJ
1 - Um novo ciclo deve começar agora. Neste futuro próximo, o legado destes dias deve se manifestar em múltiplas ações voltadas para a busca de direitos específicos por meio de negociações descentralizadas.
2 - Não adianta esperar ou torcer para que sejam superados ou acirrados os confrontos internos entre “os manifestantes”. Isso não vai acontecer. Cabe aos poderes públicos a iniciativa de (re)conhecer as múltiplas motivações e criar canais de diálogo para tratar as diferentes questões que foram trazidas para as ruas. Isso não quer dizer que a polícia não cumpra seu papel de proteger o patrimônio público.
David Fleischer - Cientista político - UnB
1 - Não se sabe para onde vai rumar. Acho que nem os supostos líderes dos movimentos sabem.
2 - Em grande parte, sim (a violência é o principal problema dos protestos), porque eles (os manifestantes) não conseguem controlar esses vândalos que participam das manifestações. Tem até gente com ficha criminal envolvida nessas ações.
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