quarta-feira, 12 de junho de 2013

A verdade é como um diamante, ou sobre a necessidade do diálogo para a Igreja católica

Card. Gianfranco Ravasi*
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(...) Todos nós vivemos (...) sob o mesmo céu, mas nem todos temos o mesmo horizonte. Por isso, o dia-lògos é necessário, ou seja, o entrecruzar-se (dià) dos percursos e dos discursos do lògos [racionalidade], para assim realizar aquela dupla de verbos que Pascal entretecia de modo original, precisamente num dos seus pensamentos mais "teológicos", (...) ritmado sobre o chercher-trouver [procurar-encontrar]. Como ensinava a antiga sabedoria oriental, a verdade é semelhante ao diamante: é uma só mas tem várias faces.

Exatamente por isto, uma vez "encontrada" uma destas facetas da verdade, é necessário tomar o caminho da "procura", como sugeria Jean Cocteau, no seu Journal d'un inconnu: «Primeiro encontrar, depois procurar». (...)

Crentes e não crentes estudam aqueles perfis de ângulos diferentes; uns como outros têm os pés bem fixos num dos seus "átrios" de procura e de descoberta. Mas o diálogo força cada um a ser methòrios, como o filósofo judeu Filão de Alexandria definia de modo iluminador o sábio, isto é, aquele que está sobre a fronteira, bem radicado no seu território, mas com o olhar que se estende para além dos confins e o ouvido que escuta as razões do outro.

A riqueza dos horizontes que se abrem diante de nós impede qualquer forma de fundamentalismo e exclusivismo; a luz límpida da verdade convida, contudo, a superar também todas as formas de um vago acordo minimalista e sincretista. É o que afirmava claramente o senhor Gabriel de Broglie, chanceler do Instituto de França, aquando da inauguração oficial em Paris do Átrio dos Gentios, em março de 2011:

«O diálogo deve nascer na clareza, sem confusão, sem falso irenismo; não deve esconder mas sobretudo sublinhar a identidade específica de cada um dos dialogantes; deve, por fim, ter lugar sobre o único terreno onde todos se podem encontrar, o da humanidade comum.»

Neste terreno o cristão deve apresentar-se com o estatuto epistemológico rigoroso da sua teologia, com a sua visão antropológica elaborada pelos séculos em torno aos temas fundamentais da pessoa, com o património criado pela cultura, pela arte e pelo próprio ethos do Ocidente cristão. Esta enorme bagagem de saber e de experiência, de verdade e de beleza, deve ser posta sobre a mesa perante o "Gentio" que, por sua vez, encherá essa mesa com o seu incessante "procurar" e com os altos resultados "encontrados" à luz da razão e da verificação. (...)

Parece-me sugestiva uma afirmação de Jean Guitton: o que ele afirmava do culto vale também para a procura desta sessão [Átrio dos Gentios em Marselha, junho 2013]. Se ela é autêntica, encontra-se constantemente com o numen e com o lumen, ou seja, com o mistério e com a demonstração, com o infinito e o definido, com a pergunta e a inteligibilidade, precisamente com o procurar e com o encontrar. (...)
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* Presidente do Pontifício Conselho da Cultura
In L'Osservatore Romano
© SNPC (trad.) | 11.06.13
Fonte:  http://www.snpcultura.org

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