Minha leitura pessoal especial desta semana: "Amor Líquido:
Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos", de Zygmunt Bauman
(Editora Zahar, Rio: 2009). Encontrei esse livro numa das bibliotecas
do Sesc-Rio. Abaixo, para fins de recomendação de leitura, o
sumário da obra e alguns trechos dela. Rodrigo.
"AMOR LÍQUIDO: SOBRE A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS"
- ZYGMUNT BAUMAN -
SUMÁRIO DA OBRA:
Capítulo 1- Apaixonar-se e desapaixonar-se
Capítulo 2- Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociabilidade
Capítulo 3- Sobre a dificuldade de amar o próximo
Capítulo 4- Convívio destruído
..............
TRECHOS DA OBRA:
*
" 'Corte-a em pedacinhos e vai descobrir que cada um deles tem vida
própria'. Os fragmentos que fluíam da pena de Baudelaire tinham. Se os
dispersos retalhos de pensamento reunidos a seguir também terão, não
cabe a mim decidir, mas ao leitor" (p. 15).
*
"Em nosso mundo de furiosa individualização, os relacionamentos são
bençãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como
determinar quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo,
esses dois avatares coabitam - embora em diferentes níveis de
consciência. No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos
talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e
profundamente sentidos da ambivalência." (p. 8)
*
"Como apontou Ralph Waldo Emerson, quando se esquia sobre gelo fino, a
salvação está na velocidade. Quando se é traído pela qualidade, tende-se
a buscar a desforra na quantidade." (p. 13)
*
"A família dos pensamentos está repleta de anões. É por isso que a
lógica e o método foram inventados e, depois de descobertos, adotados
pelos pensadores de ideias. Pigmeus podem esconder-se e acabar
esquecendo sua insignificância em meio ao esplendor de colunas em marcha
e formações de batalha. Cerradas as fileiras, quem vai notar o tamanho
diminuto dos soldados? É possível reunir um exército de aparência
extremamente poderosa alinhando-se para o combate fileiras após fileiras
de pigmeus..." (p. 16)
*
[Numa paixão] "O desafio, a atração e a sedução do Outro tornam toda a
distância, ainda que reduzida e minúscula, insuportavelmente grande. A
abertura tem a aparência de um precipício. Fusão e subjugação parecem
ser as únicas curas para o tormento. E não há senão uma tênue fronteira,
à qual facilmente se fecham os olhos, entre a carícia suave e gentil e a
garra que aperta, implacável. Eros não pode ser fiel a si mesmo sem
praticar a primeira, mas não pode praticá-la sem correr o risco da
segunda. Eros move a mão que se estende na direção do outro - mas mãos
que acariciam também podem prender e esmagar." (p. 22-3)
*
" (...) carapaça dissecada que se congela na alegria da satisfação,
pronta a dissolver-se tão logo se conclua a tarefa. Em sua essência, o
desejo é um impulso de destruição. E, embora de forma oblíqua, de
auto-destruição: o desejo é contaminado, desde o seu nascimento, pela
vontade de morrer. Esse é, porém, seu segredo mais bem guardado -
sobretudo de si mesmo." (p. 24)
*
"Dizer 'desejo' talvez seja demais. É como num shopping: os
consumidores hoje não compram para satisfazer um desejo, como observou
Harvie Ferguson - compram por impulso.
Semear, cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo
insuportavelmente prolongado para os padrões de uma cultura que tem
pavor em postergar, preferindo a 'satisfação instantânea')." (p. 26)
*
"Um relacionamento, como lhe dirá o especialista, é um investimento
como todos os outros: você entrou com tempo, dinheiro e esforços que
poderia empregar para outros fins, mas não empregou, esperando estar
fazendo a coisa certa e esperando também que aquilo que perdeu ou deixou
de desfrutar acabaria, de alguma forma, sendo-lhe devolvido - com
lucro." (p. 28)
*
" 'Estar num relacionamento' significa muita dor de cabeça, mas
sobretudo uma incerteza permanente. Você nunca poderá estar plena e
verdadeiramente seguro daquilo que faz - ou de ter feito a coisa certa
ou no momento preciso." (p. 29)
*
"(...) é uma faca de dois gumes. Faz com que manter ou confiscar o
investimento seja uma questão de cálculo e decisão. Mas não há motivo
para supor que seu parceiro ou parceira não deseje, se for o caso,
exercitar uma escolha semelhante, e que não esteja livre para fazê-lo se
e quando desejar. Essa consciência aumenta ainda mais sua incerteza - e
a parte acrescentada é a mais difícil de suportar. Ao contrário de uma
escolha pessoal do tipo 'pegar ou largar', não está em seu poder evitar
que o parceiro ou parceira prefira sair do negócio. Há muito pouco que
você possa fazer para mudar essa decisão a seu favor. Para o parceiro,
você é a ação a ser vendida ou o prejuízo a ser eliminado - e ninguém
consulta as ações antes de devolvê-las ao mercado, nem os prejuízos
antes de cortá-los." (p. 30)
*
"Chocar-se contra uma dessas rochas afundaria até mesmo uma boa
embarcação com tripulação qualificada - o que dizer então de uma balsa
com um marinheiro inexperiente que, criado na era dos acessórios, nunca
teve a oportunidade de aprender a arte dos reparos? Nenhum marinheiro
atualizado perderia tempo consertando uma peça sem condições para a
navegação, preferindo trocá-la por outra sobressalente. Mas na balsa do
relacionamento não há peças sobressalentes." (p. 31)
*
"Todo amor é matizado pelo impulso antropofágico. Todos os amantes
desejam suavizar, extirpar e expurgar a exasperadora e irritante
alteridade que os separa daqueles a que amam. Separar-se do ser amado é o
maior medo amante, e muitos fariam qualquer coisa para se livrarem de
uma vez por todas do espectro da despedida. Que melhor maneira de
atingir esse objetivo do que transformar o amado numa parte inseparável
do amante? Aonde eu for você também vai; o que eu faço você também faz; o
que eu aceito você também aceita; o que me ofende também ofende a você.
Se você não é nem pode ser meu gêmeo siamês, seja o meu clone!" (p.
32-3)
*
"Por vezes é difícil separar a adoração do ser amado da autoadoração.
(...) Não é verdade que uma parte de meu singular valor foi repassado
para a pessoa que eu (lembrem-se: eu,
a minha pessoa, exercendo a minha vontade e o meu arbítrio soberanos)
escolhi - que recolhi na multidão de anônimos e comuns para ser minha,
somente minha,
companheira? No brilho ofuscante da pessoa escolhida, minha própria
incandescência encontra seu reflexo resplandecente. Ele aumenta,
confirma e endossa a minha glória, levando consigo, aonde quer que vá,
notícias e provas dela." (p. 33)
*
"Como diz Franz Rosenzweig, 'a resposta é dada por uma pessoa
inevitavelmente diferente daquela a quem foi feita a pergunta, e ela é
dada a alguém que mudou desde que perguntou. É impossível saber a
profundidade dessa mudança'." (p. 34)
*
"Num mundo em que a seriedade de algo é representada apenas por
números, e portanto só pode ser apreendida dessa maneira ( a qualidade
de um sucesso musical pelo número de discos vendidos, de um evento ou
performance públicos pelo número de espectadores de televisão, de uma
figura pública pelo número de pessoas presentes ao seu enterro, de
intelectuais na opinião do público pelo número de citações e
referências) [...]." (p. 38)
*
"Nunca se está mais só ou abandonado do que quando se luta para ter a
certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar" (p.
41).
*
"As pontes são inúteis, a menos que cubram totalmente a distância entre
as margens - mas no 'viver juntos' a outra margem está envolta numa
neblina que nunca se dissipa, que ninguém deseja dissolver nem tenta
afastar. Não há como saber o que se vai ver quando (se) a névoa se
dispersar - nem se de fato existe alguma coisa encoberta. A outra margem
está mesmo lá, ou será ela apenas uma fata morgana, uma ilusão criada pela neblina, uma fantasia da imaginação que nos faz ver formas bizarras nas nuvens que passam?" (p. 46-7)
* "Nós entramos em chats e temos 'camaradas' que conversam conosco. Os camaradas, como bem sabe todo viciado em chat,
vêm e vão, entram e saem do circuito - mas sempre há na linha alguns
deles se coçando para inundar o silêncio com 'mensagens'. No
relacionamento 'camarada/camarada', não são as mensagens em si, mas seu
ir e vir, sua circulação, que constitui a mensagem -
não importa o conteúdo. Nós pertencemos ao fluxo constante de palavras e
sentenças inconclusas (abreviadas, truncadas para acelerar a
circulação). Pertencemos à conversa, não àquilo sobre o que se conversa.
(...) Como Chris Moss admiravelmente expôs (no Guardian Weekend), por
meio de 'nossas conversas em chats,
telefones celulares, serviços de textos 24 horas', 'a introspecção é
substituída por uma interação frenética e frívola que revela nossos
segredos mais profundos juntamente com nossas listas de compras'." (p.
52)
*
"Das muitas tendências, inclinações e propensões 'naturais' dos seres
humanos, o desejo sexual foi e continua sendo a mais óbvia, indubitável e
incontestavelmente social. Ele se estende na direção de outro ser
humano, exige sua presença e se esforça para transformá-la em união. Ele
anseia por convívio. Torna qualquer ser humano - ainda que realizado e,
sob todos os outros aspectos, autossuficiente - incompleto e
insatisfeito, a menos que esteja unido a um outro." (p. 55)
* "Esta é uma época em que um filho é, acima de tudo, um objeto de consumo emocional." (p. 59)
*
"Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio
pode fazer ao longo de toda a sua vida. Em termos puramente monetários,
eles custam mais do que um carro luxuoso do ano, uma volta ao mundo em
um cruzeiro ou até mesmo uma mansão. Pior ainda, o custo total tende a
crescer com o tempo, e seu volume não pode ser fixado de antemão nem
estimado com algum grau de certeza. (...) Ademais, nem todos os custos
são monetários, e os que não o são jamais poderão ser medidos e
calculados. (...) 'Formar uma família' é como pular de cabeça em águas
inexploradas e de profundidade insondável. (...) Além disso, ter filhos
é, em nossa época, uma questão de decisão, não um acidente - o que
aumenta a ansiedade. Tê-los ou não é comprovadamente a decisão com
maiores consequências e de maior alcance que existe, e portanto também a
mais angustiante e estressante." (p. 60)
*
"Não se deixe apanhar. Evite abraços muito apertados. Lembre-se de que,
quanto mais profundas e densas suas ligações, maiores os seus riscos.
(...) E lembre-se, claro, de que apostar todas as suas fichas em só
número é a máxima insensatez!" (p. 78)
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Fonte: http://luzecalor.blogspot.fr/2014/02/
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