Estudo mostra quais regiões do corpo são 'ativadas' por sentimentos como
raiva e felicidade e conclui que sensações
têm caráter universal
Aperto no peito, frio na barriga, cabeça quente. Quem nunca usou essas expressões para traduzir uma emoção?
A sabedoria popular já sabe que emoções causam alterações físicas. Os
cientistas também: a rigor, emoção é o estímulo que afeta o sistema
límbico [região do cérebro que a processa] e é capaz de mudar o sistema
periférico.
Faltava saber exatamente onde essas mudanças físicas ocorrem, o que pode
ajudar a melhor definir as emoções e entender os transtornos afetados
por elas.
No intuito de responder a essa questão, cientistas da Universidade de
Aalto em parceria com a Universidade de Turku, ambas na Finlândia,
pediram a 700 voluntários que indicassem quais áreas do corpo sofriam
alterações quando sentiam uma determinada emoção.
Para incitar cada estado emocional, foram usadas palavras, músicas e
filmes. As alterações sentidas podiam ser de qualquer ordem --dor e
calor, por exemplo.
Com os dados, um software montou um único circuito para cada emoção
--raiva, medo, desgosto, felicidade, tristeza e surpresa (chamadas de
básicas) e ansiedade, amor, depressão, desprezo e orgulho (tidas como
correlatas).
"Tanto o computador como outras pessoas reconheceram as emoções descritas, o que denota o seu aspecto universal", disse à Folha
Riita Hari, professora da Universidade Aalto e uma das autoras do
estudo, publicado na revista da Academia de Ciências dos EUA, "PNAS".
Assim, emoções ligadas à excitação, como raiva e felicidade, foram associadas com ativações e calor dos membros superiores.
Já as emoções que indicam estado depressivo ou de tristeza foram
relacionadas a menor atividade nos membros inferiores, como
adormecimento das pernas e pés.
Sensações no sistema digestório e ao redor da garganta foram
relacionadas a desgosto. Felicidade foi a única emoção associada com
calor e ativações no corpo inteiro.
O estudo pode ajudar a identificar emoções nem sempre distinguíveis, como tristeza e desgosto.
"As emoções têm vias autônomas só interpretadas depois", explica Aílton
Amélio, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo. "Saber quais são elas promove o entendimento de processos
emocionais e é um recurso terapêutico."
Doenças caracterizadas por desordens emocionais como depressão e
transtorno bipolar também podem se beneficiar dos achados. "É uma
ferramenta diagnóstica", afirma Riita Hari. "Os mapas podem estar
alterados nesses pacientes."
Estudos de neuroimagem já mostraram que esses indivíduos, quando
estimulados por emoções negativas, exibem maior atividade cerebral. Essa
dinâmica é inversa à obtida em pessoas saudáveis.
"Mas é preciso ter cuidado para não limitar tudo em uma caixa", afirma a psiquiatra Alexandrina Meleiro.
José Bombana, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São
Paulo, lembra ainda que diferenças culturais precisam ser consideradas.
As emoções também provocam alterações hormonais, como o aumento do
cortisol, hormônio associado ao estresse. "Quando prolongadas, são
responsáveis por outras doenças, como transtornos mentais e diabetes",
explica Alexandrina.
Emoções podem ainda mudar a expressão de genes. Estudo da Universidade
da Califórnia, publicado na "PNAS" em fevereiro, mostrou que pessoas
felizes apresentam menos genes da inflamação que depressivos, o que os
protege contra doenças.
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Reportagem por MONIQUE OLIVEIRA
DE SÃO PAULOFonte: Folha online, 11/02/2014
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