Francisco é o equivalente a um artista que lança um sopro de vida nova em uma empresa que está ruindo,
diz colunista do 'NYT'
O Papa João Paulo II foi muitas vezes chamado de uma estrela do
rock, mas é o Papa Francisco que acaba de sair na capa da Rolling Stone,
como se ele fosse Jagger, Springsteen ou Spears. Para Frank Bruni,
articulista do New York Times, o papa está mais “in” do que nunca, e a Igreja, voltando a ter espaço, principalmente entre as gerações mais jovens.
A Harley do papa foi leiloada em Paris (Reprodução/NYT)
Francisco também ganhou uma estátua de si mesmo em tamanho
natural toda feita de chocolate. Aparentemente, o comando da Igreja
passou das mãos do “Rottweiler de Deus”, como Bento XVI era conhecido, à
sua sobremesa.
Bruni diz que de todas as coisas que pensou que poderiam voltar à
moda, o papado nunca esteve presente. O colunista cobriu o Vaticano
entre 2002 a 2004, e estava convencido de que a morte de João Paulo II
era também a morte da instituição, pelo menos nos EUA e boa parte da
Europa.
Mas mesmo nos recintos mais ateus do mundo ocidental parece existir
empenho em dar ao novo papa o benefício da dúvida. A ONU emitiu na
semana passada um relatório sobre a Igreja Católica e sacerdotes
envolvidos em acusações de abuso sexual e, em nenhum momento, a
cobertura jornalística colocou Francisco na berlinda. Parece haver uma
noção implícita de que a confusão é anterior e tem pouco a ver com ele, o
que é ridículo: ele tem sido parte da Igreja por um longo tempo, e se
ele estivesse lutando pela reforma e transparência todos esses anos,
nunca teria subido até o topo.
Francisco não é um renegado. Mas ele é o equivalente a um artista ou a
um estrategista político que habilmente lança um sopro de vida nova em
uma empresa que está ruindo. O papa está fazendo uma reforma, pedindo
menos investimentos em calçados festivos e mais na lavagem dos pés de
outras pessoas. Ele não está dizendo para os sacerdotes deixarem de ser
padres, mas para não serem tão ríspidos e rígidos.
Ele entende que o tom supera o conteúdo. Os críticos afirmam que a
Igreja não mudou seu ensinamento sobre a homossexualidade, a ordenação
de mulheres, o celibato ou outra mudança significativa desde que
Francisco assumiu o papado. Verdade. Mas o que as pessoas precisam
perceber é a diferença entre um sorriso e um dar de ombros. Francisco
não vai pedir para a Igreja abrir mão de seus dogmas, mas para respeitar
outros, e isso é de extrema importância – e ineditismo. Um papa que diz
“quem sou eu para julgar?”, quando tem todo esse poder na mão não se
encontra todos os dias.
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Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/politica/o-papa-da-moda/
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