O papa Francisco vai encontrar-se esta sexta-feira,
dia de S. Valentim e Dia dos Namorados, com mais de 20 mil noivos,
provenientes de 28 países, que vão casar-se nos próximos meses.
A iniciativa, que decorre na Praça de S. Pedro, no
Vaticano, começa às 10h00 (hora de Lisboa) com a apresentação de
testemunhos, canções e poemas de amor. O encontro com Francisco está
marcado para as 11h00.
Não é a primeira vez que um papa fala aos namorados.
Em 11 de setembro de 2011, por exemplo, Bento XVI encontrou-se ao ar
livre com vários casais na cidade italiana de Ancona. Apresentamos
alguns excertos das suas palavras, acompanhados pelas pinturas de Marc
Chagall.
«Em certos aspetos, o nosso é um tempo difícil, sobretudo para vós
jovens. A mesa está posta com tantas coisas apetecíveis, mas, como no
episódio evangélico das bodas de Caná, parece que faltou o vinho da
festa. Sobretudo a dificuldade de encontrar um trabalho estável é causa
de incerteza sobre o futuro. Esta condição contribui para adiar a
tomada de decisões definitivas, e incide de modo negativo sobre o
crescimento da sociedade, que não consegue valorizar plenamente a
riqueza de energias, de competências e de criatividade da vossa
geração.
Falta o vinho da festa também a uma cultura que prescinde com
frequência de critérios morais claros: na desorientação, cada qual é
estimulado a mover-se de maneira individual e autónoma, muitas vezes
unicamente só no perímetro do presente. A fragmentação do tecido
comunitário reflete-se num relativismo que afeta os valores essenciais;
a consonância de sensações, de estados de ânimo e de emoções parece
mais importante do que a partilha de um projeto de vida.
Também as opções fundamentais se tornam assim frágeis,
expostas a uma revogabilidade perene, que com frequência é considerada
expressão de liberdade, mas ao contrário, indica a sua carência. Faz
parte de uma cultura privada do vinho da festa também a aparente
exaltação do corpo, que na realidade banaliza a sexualidade e tende a
fazê-la viver fora de um contexto de comunhão de vida e de amor.
Queridos jovens, não tenhais medo de enfrentar estes
desafios! Nunca percais a esperança. Tende coragem, também nas
dificuldades, permanecendo firmes na fé. Tende a certeza de que, em
todas as circunstâncias, sois amados e protegidos pelo amor de Deus,
que é a nossa força. Deus é bom. Por isso é importante que o encontro
com Ele, sobretudo na oração pessoal e comunitária, seja constante,
fiel, precisamente como o caminho do vosso amor: amar a Deus e sentir
que Ele me ama. Nada nos pode separar do amor de Deus!
Depois, tende a certeza de que também a Igreja está
próxima de vós, vos ampara, não cessa de olhar para vós com grande
confiança. Ela sabe que tendes sede de valores, dos verdadeiros, sobre
os quais vale a pena construir a vossa casa! O valor da fé, da pessoa,
da família, das relações humanas, da justiça. Não desanimeis face às
carências que parecem afastar a alegria da mesa da vida. Nas bodas de
Caná, quando o vinho terminou, Maria convidou os servos a dirigirem-se a
Jesus e deu-lhes uma indicação clara: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,
5). Valorizai estas palavras, as últimas de Maria descritas nos
Evangelhos, quase um seu testamento espiritual, e tereis sempre a
alegria da festa: Jesus é o vinho da festa!
Como namorados estais a viver uma fase única, que abre
para a maravilha do encontro e faz descobrir a beleza de existir e de
ser preciosos para alguém, de poder dizer um ao outro: tu és importante
para mim. Vivei com intensidade, gradualidade e verdade este caminho.
Não renuncieis a perseguir um ideal alto de amor, reflexo e testemunho
do amor de Deus! Mas como viver esta fase da vossa vida, como
testemunhar o amor na comunidade?
Gostaria de vos dizer antes de tudo que eviteis
fechar-vos em relações intimistas, falsamente animadoras; fazei antes
com que a vossa relação se torne fermento de uma presença ativa e
responsável na comunidade. Depois, não vos esqueçais de que para ser
autêntico, também o amor exige um caminho de amadurecimento: a partir
da atração inicial e do «sentir-se bem» com o outro, educai-vos a
«amar» o outro, a «querer o bem» do outro. O amor vive de gratuidade,
de sacrifício de si, de perdão e de respeito do outro.
Queridos amigos, cada amor humano é sinal do Amor
eterno que nos criou, e cuja graça santifica a escolha de um homem e de
uma mulher de se entregarem reciprocamente a vida no matrimónio. Vivei
este tempo do namoro na expectativa confiante desse dom, que deve ser
aceite percorrendo um caminho de conhecimento, de respeito, de atenções
que nunca deveis perder: só sob esta condição a linguagem do amor
permanecerá significativa também com o passar dos anos.
Depois, educai-vos desde já para a liberdade da
fidelidade, que leva a proteger-se reciprocamente, até viver um para o
outro. Preparai-vos para escolher com convicção o «para sempre» que
conota o amor: a indissolubilidade, antes de ser uma condição, é um dom
que deve ser desejado, pedido e vivido, para além de qualquer mutável
situação humana. E não penseis, segundo uma mentalidade difundida, que a
convivência seja uma garantia para o futuro. Acelerar as etapas acaba
por «comprometer» o amor, que ao contrário precisa de respeitar os
tempos e a gradualidade nas expressões: tem necessidade de dar espaço a
Cristo, que é capaz de tornar um amor humano fiel, feliz e
indissolúvel.
A fidelidade e a continuidade do vosso gostar um do
outro tornar-vos-ão capazes de estar também abertos à vida, de ser
pais: a estabilidade da vossa união no Sacramento do Matrimónio
permitirá que os filhos que Deus vos conceder cresçam confiantes na
bondade da vida. Fidelidade, indissolubilidade e transmissão da vida
são os pilares de qualquer família, verdadeiro bem comum, património
precioso para toda a sociedade. Desde já, fundai sobre eles o vosso
caminho rumo ao matrimónio e testemunhai-o também aos vossos coetâneos:
é um serviço precioso! Sede gratos a quantos vos acompanham na
formação com zelo, competência e disponibilidade: são sinal da atenção e
da solicitude que a comunidade cristã vos dedica. Não estejais sós:
sede os primeiros a procurar e a acolher a companhia da Igreja.
Gostaria de voltar mais uma vez a falar de um aspeto
essencial: a experiência do amor tem no seu interior a propensão para
Deus. O verdadeiro amor promete o infinito! Por conseguinte, fazei
deste vosso tempo de preparação para o matrimónio um percurso de fé:
redescobri para a vossa vida de casal a centralidade de Jesus Cristo e
do caminhar na Igreja. Maria ensina-nos que o bem de cada um depende do
escutar com docilidade a palavra do Filho. Em quem confia n’Ele, a
água da vida quotidiana transforma-se no vinho de um amor que torna a
vida boa, bela e fecunda.
De facto, Caná é anúncio e antecipação do dom do vinho
novo da Eucaristia, sacrifício e banquete no qual o Senhor nos
alcança, nos renova e transforma. Não percais a importância vital deste
encontro: a assembleia litúrgica dominical vos encontre sempre
plenamente partícipes: da Eucaristia brota o sentido cristão da
existência e um novo modo de viver. Então, não tereis medo de assumir a
importante responsabilidade da escolha conjugal; não receareis entrar
neste «grande mistério», no qual duas pessoas se tornam uma só carne
(cf. Ef 5, 31-32).
Caríssimos jovens, confio-vos à proteção de São José e
de Maria Santíssima; seguindo o convite da Virgem Mãe — «Fazei o que
Ele vos disser» — não vos faltará o gosto da verdadeira festa e
sabereis levar o «vinho» melhor, aquele que Cristo dá à Igreja e ao
mundo. Também eu gostaria de vos dizer que estou próximo de vós e de
todos os que, como vós, vivem este maravilhoso caminho de amor.
Abençoo-vos de coração!»
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Bento XVI
Pintura: Marc Chagall
© SNPC | 13.02.14
Pintura: Marc Chagall
© SNPC | 13.02.14
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