Gilmar Passos*
Estamos fartos de ver pessoas pensar, mesmo que seja de modo
unilateral, que conversam ou falam muito, alguns que agem e outros se
acomodam. Esse tipo de pessoas aumenta cada vez mais graças a cultura
destrutiva que nos educa. A educação que recebemos é reproduzida e ou
refletida na sociedade e nas religiões. O jeito das pessoas se
comportarem, de planejarem a vida vem da educação recebida e também da
reflexão ou irreflexão da educação que se tem. Uma consciência sem
diálogo cria uma visão unilateral e produz e ou produzirá uma educação
unilateral.
A consciência unilateral tem causado distúrbios nas pessoas e
produzido uma educação discriminatória e divisória entre pessoas de
grupos, raças e religiões diferentes. Ela também tem sido a causa de
guerras e terrorismo entre lugarejos, bairros, cidades, estados, países e
continentes. Por essa consciência cheia de distúrbios é que dividimos
as classes entre ricos e pobres, entre brancos e negros, entre uma
religião e outra e, no caso do cristianismo, entre uma igreja e outra.
Não restam dúvidas que precisamos pensar, dialogar e agir
coerentemente. Para isso, é preciso criar uma consciência de abertura ao
diferente. Temos que criar espírito de sensibilidade, para não cairmos
na insensibilidade causadora de distorções, distúrbios e disparidade de
consciência.
Para pensar, agir e dialogar coerentemente, necessita de uma
antropologia de abertura aos diferentes encarnada nas estruturas da
humanidade. Quanto mais nos aproximarmos sensivelmente das realidades
humanas escondidas entre as pessoas, grupos e religiões teremos como
viver uma conjuntura realmente viva e construtiva, para vencermos a
estrutura mortífera que predomina entre nós.
Após fugir, ou seja, for curada a consciência fundamentalista fica
espaço aberto para liberdade de consciência. Essa liberdade é
proporcional a uma nova educação, para isso é necessário que se tenha
uma educação de abertura ao diferente que possa educar a pensar,
dialogar e agir coerentemente. A criação de hábitos saudáveis, tanto
pessoal como comunitário, proporcionam mais suavidade ao pensamento com
tolerância ao diferente e possibilita um agir coerente com a realidade
fundamental da vida.
É preciso um investimento em valores próprios da humanidade, ou seja,
valores reais que diz respeito a todas as pessoas sem exclusão. Esse
investimento representa uma ruptura aos modelos estruturais apresentados
na sociedade de um modo em geral, pois, a sociedade com todas as suas
representações das possuem uma estrutura incapacitada de viver uma
humanidade sadia, ao mesmo tempo, favorável a exclusão.
Para pensar coerentemente na estrutura que a sociedade possui no
momento é necessária uma dinâmica do enfrentamento e do desajuste.
Enfrentamento para ter coragem e humildade em estar sujeito à rejeição
quando se apresentar contrário as estruturas ditatoriais e
manipuladoras, pois, muitas pessoas enfraquecidas não veem e não sabem
mais o que fazer e preferem deixar tudo como estar.
A dinâmica do desajuste significa mexer no centro do poder das
estruturas sem medo de ser repreendido e ou violentado. Uma estrutura
social, política e religiosa que oprime, ilude, manipula e em muitas
vezes mata e prefere continuar com está, não vai aceitar ser desajustado
para ver a estrutura melhorar. A estrutura social sistêmica que temos é
míope e dificilmente aceita ser curada. Por isso, mexer nessa estrutura
toda requer sabedoria, inteligência e humildade.
Para agir, após enfrentar a estrutura sistêmica de morte e pensar
conforme foi apresentado nos dois parágrafos anteriores, também é
necessário ter atitude de enfrentamento. Uma atitude sem medo de se
arriscar, de se arranhar. O agir é mais exigente do que o pensar. Pensar
não exige ser exposto às pessoas, enquanto agir é expor às pessoas as
ideias do pensamento, por isso exige mais coragem, uma atitude de
enfrentamento.
Pensar e agir coerentemente, ou seja, com lucidez e coerência não se
faz a partir de convicções rígidas e unidimensionais. O diálogo tem mais
lucidez para que se possa prosseguir pensando e agindo. No entanto, o
diálogo não pode ser esquecido no momento em que for colocar em prática a
ação do pensamento. Infelizmente, a consciência de diálogo não está
sendo levada lucidamente a sério dentro das estruturas organizacionais,
políticas sociais e religiosas.
Mas não se deixemos intimidar pelo medo ou pela preguiça. Precisamos
tomar consciência dos valores humanos significativos que nos fortalecem e
nos põem em diálogo de esperança. Aprendamos a viver o diálogo
fundamento na esperança e que nos impulsione a amar com coragem de
praticar o bem em nossos relacionamentos.
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*Gilmar Passos é sacerdote da Diocese de Estância (SE) e tem uma
formação cristã ampla. Estudou Filosofia no Seminário Maior Nossa
Senhora da Conceição, Aracaju-SE e Teologia no Seminário Diocesano
Rainha das Missões. Obteve a validação do Curso de Teologia pelo MEC na
Faculdade Católica de Fortaleza. Atualmente cursa Pós-Graduação em
Docência do Ensino Superior no Instituto de Ciências Humanas João Paulo
II (IJOPA). É membro da Academia Estanciana de Letras (AEL), em
Estância/SE. Passos é autor de dois livros: Identidade cristã no século
XXI (2012) e Miopia humana e mensagem cristã: uma leitura de fé em
tempos de crise (2013), ambos publicado pela Fonte Editorial.
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