quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pensar, agir e dialogar coerentemente

Gilmar Passos*
Estamos fartos de ver pessoas pensar, mesmo que seja de modo unilateral, que conversam ou falam muito, alguns que agem e outros se acomodam. Esse tipo de pessoas aumenta cada vez mais graças a cultura destrutiva que nos educa. A educação que recebemos é reproduzida e ou refletida na sociedade e nas religiões. O jeito das pessoas se comportarem, de planejarem a vida vem da educação recebida e também da reflexão ou irreflexão da educação que se tem. Uma consciência sem diálogo cria uma visão unilateral e produz e ou produzirá uma educação unilateral. 

A consciência unilateral tem causado distúrbios nas pessoas e produzido uma educação discriminatória e divisória entre pessoas de grupos, raças e religiões diferentes. Ela também tem sido a causa de guerras e terrorismo entre lugarejos, bairros, cidades, estados, países e continentes. Por essa consciência cheia de distúrbios é que dividimos as classes entre ricos e pobres, entre brancos e negros, entre uma religião e outra e, no caso do cristianismo, entre uma igreja e outra.

Não restam dúvidas que precisamos pensar, dialogar e agir coerentemente. Para isso, é preciso criar uma consciência de abertura ao diferente. Temos que criar espírito de sensibilidade, para não cairmos na insensibilidade causadora de distorções, distúrbios e disparidade de consciência.

Para pensar, agir e dialogar coerentemente, necessita de uma antropologia de abertura aos diferentes encarnada nas estruturas da humanidade. Quanto mais nos aproximarmos sensivelmente das realidades humanas escondidas entre as pessoas, grupos e religiões teremos como viver uma conjuntura realmente viva e construtiva, para vencermos a estrutura mortífera que predomina entre nós.

Após fugir, ou seja, for curada a consciência fundamentalista fica espaço aberto para liberdade de consciência. Essa liberdade é proporcional a uma nova educação, para isso é necessário que se tenha uma educação de abertura ao diferente que possa educar a pensar, dialogar e agir coerentemente. A criação de hábitos saudáveis, tanto pessoal como comunitário, proporcionam mais suavidade ao pensamento com tolerância ao diferente e possibilita um agir coerente com a realidade fundamental da vida.

É preciso um investimento em valores próprios da humanidade, ou seja, valores reais que diz respeito a todas as pessoas sem exclusão. Esse investimento representa uma ruptura aos modelos estruturais apresentados na sociedade de um modo em geral, pois, a sociedade com todas as suas representações das possuem uma estrutura incapacitada de viver uma humanidade sadia, ao mesmo tempo, favorável a exclusão.

Para pensar coerentemente na estrutura que a sociedade possui no momento é necessária uma dinâmica do enfrentamento e do desajuste. Enfrentamento para ter coragem e humildade em estar sujeito à rejeição quando se apresentar contrário as estruturas ditatoriais e manipuladoras, pois, muitas pessoas enfraquecidas não veem e não sabem mais o que fazer e preferem deixar tudo como estar.

A dinâmica do desajuste significa mexer no centro do poder das estruturas sem medo de ser repreendido e ou violentado. Uma estrutura social, política e religiosa que oprime, ilude, manipula e em muitas vezes mata e prefere continuar com está, não vai aceitar ser desajustado para ver a estrutura melhorar. A estrutura social sistêmica que temos é míope e dificilmente aceita ser curada. Por isso, mexer nessa estrutura toda requer sabedoria, inteligência e humildade.

Para agir, após enfrentar a estrutura sistêmica de morte e pensar conforme foi apresentado nos dois parágrafos anteriores, também é necessário ter atitude de enfrentamento. Uma atitude sem medo de se arriscar, de se arranhar. O agir é mais exigente do que o pensar. Pensar não exige ser exposto às pessoas, enquanto agir é expor às pessoas as ideias do pensamento, por isso exige mais coragem, uma atitude de enfrentamento.

Pensar e agir coerentemente, ou seja, com lucidez e coerência não se faz a partir de convicções rígidas e unidimensionais. O diálogo tem mais lucidez para que se possa prosseguir pensando e agindo. No entanto, o diálogo não pode ser esquecido no momento em que for colocar em prática a ação do pensamento. Infelizmente, a consciência de diálogo não está sendo levada lucidamente a sério dentro das estruturas organizacionais, políticas sociais e religiosas.

Mas não se deixemos intimidar pelo medo ou pela preguiça. Precisamos tomar consciência dos valores humanos significativos que nos fortalecem e nos põem em diálogo de esperança. Aprendamos a viver o diálogo fundamento na esperança e que nos impulsione a amar com coragem de praticar o bem em nossos relacionamentos.
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*Gilmar Passos é sacerdote da Diocese de Estância (SE) e tem uma formação cristã ampla. Estudou Filosofia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, Aracaju-SE e Teologia no Seminário Diocesano Rainha das Missões. Obteve a validação do Curso de Teologia pelo MEC na Faculdade Católica de Fortaleza. Atualmente cursa Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior no Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA). É membro da Academia Estanciana de Letras (AEL), em Estância/SE. Passos é autor de dois livros: Identidade cristã no século XXI (2012) e Miopia humana e mensagem cristã: uma leitura de fé em tempos de crise (2013), ambos publicado pela Fonte Editorial.

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