Henrique Joaquim*
Um estudo recentemente apresentado revelou que os
portugueses com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão
menos importância à solidariedade, à justiça e aos valores
democráticos.
O que faz perguntar: afinal que escolarização temos? Qual a sua finalidade? Qual o seu sentido?
Maiores níveis de cultura e de ensino levam a
diferentes leituras da realidade local e global; permitem leituras mais
críticas e mais reflexivas de tudo o que se passa à nossa volta.
Curiosamente, com base nos dados do estudo, estes novos horizontes
parecem ser fundamentalmente utilizados para um proveito mais
individual do que para um serviço à realidade e à comunidade
envolvente.
Temos hoje melhores técnicos, pessoas com mais
competências, mais competitivas e mais produtivas mas menos solidárias
porque menos atentas à realidade dos seus semelhantes. Afinal para que é
a educação?
Se é em comunidade que nos tornamos e somos pessoas
este é um sinal de alerta tremendo pois sem sentido de um bem comum a
construir e sem o sentido da corresponsabilidade não será possível
criar e desenvolver comunidades vivas e felizes e por isso plenamente
humanas.
Contudo não deixa de ser curioso, e de certa forma
contraditório, que as pessoas continuem a ter como valores centrais “a
honra, amar e ser amado e a família”.
Educarmo-nos e formarmo-nos para sermos mais eficazes e tecnicamente mais competentes e mais competitivos não é automaticamente compatível com uma educação para a solidariedade.
Educarmo-nos como seres solidários pressupõe uma
formação e uma educação integral para o dom de si mesmo, exige a
formação da bondade e da gratuidade interiores, exige fazer e viver a
experiência da dádiva ao outro e à comunidade alicerçada numa
consciência permanentemente atualizada dos dons recebidos.
Se é verdade que de acordo com um dos princípios
fundamentais da economia “O que tem mais valor é o que não tem preço”
(François Perroux), então porque insistimos em investir e desgastar a
vida no que conta apenas quantitativamente? Urge que sejamos capazes de
revalorizar o que temos mas acima de tudo urge reequacionar o que
queremos ser naquilo que fazemos!
Ao que parece temos criado um contexto de vida e uma
cultura onde nos educamos apenas e só para ter, partindo do princípio
que o processo será sempre numa lógica ascendente. Educamo-nos e
formamo-nos no pressuposto de que somos invulneráveis e tornamo-nos de
facto insensíveis à vulnerabilidade – bebemos para esquecer, engordamos
para nos satisfazer, endividamo-nos para bem estar, medicamo-nos para
não deprimir, suicidamo-nos no desespero de possuir tudo o anterior mas
não ter sentido para viver.
Centrados numa visão individual, e em fuga face aos
pontos mais frágeis, limitamo-nos também na nossa capacidade de viver
plenamente a alegria e a consciência de gratidão e de amor que nos torna
vulneráveis, mas nos confere a esperança e o sentido porque é na
vulnerabilidade e na relação que nos tornamos mais humanos!
De acordo com estatísticas e notícias de um passado
recente ficamos a saber que vivemos hoje uma geração que tem mais
obesos, mais pessoas depressivas e com distúrbios de ordem mental.
Somos a geração que mais tem vivido mas a que morre mais só.
O mais que temos conseguido é para o menos que estamos a viver? Afinal que mais queremos Ser?
Eduquemo-nos portanto cientificamente mas
solidariamente. Que o processo de aprendizagem e de crescimento seja
também processo de aquisição mas simultaneamente de partilha, de
relação e de humanização.
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*Professor universitário, presidente da Comunidade Vida e Paz
Fonte: © SNPC | 26.02.14
Fonte: © SNPC | 26.02.14
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