Nílson Souza*
Lembranças são sonhos contaminados pela realidade. Os
adultos sonham, os velhos lembram e os jovens vivem. Talvez, por isso,
as melhores lembranças dos velhos sejam retiradas exatamente da faixa
etária entre a adolescência e o início da idade adulta. Não inventei
isso. A constatação vem de uma pesquisa da universidade de New
Hampshire, que entrevistou um grupo de aposentados entre 59 e 92 anos
para saber quais eram as suas lembranças mais importantes. Convidados a
contar suas histórias de vida em 30 minutos, os entrevistados
ressuscitaram predominantemente lembranças de fatos ocorridos quando
tinham entre 17 e 24 anos – descartando a infância e praticamente
desconsiderando a chamada idade madura.
Não sei a que conclusão chegaram os pesquisadores norte-americanos, mas tenho as minhas teses a respeito do assunto. Primeiro, acho que a gente gosta de lembrar daquilo que gostou de fazer. Então, já me contesta o menino perguntador que ainda carrego, deveríamos lembrar mais da infância. Não é bem assim, respondo. Era bom brincar e não ter responsabilidade, mas talvez não fosse tão prazeroso assim ser mandado, ter medo, depender dos adultos para saber o que fazer. Na hora do inventário, a infância fica apenas com pequenas relíquias de valor afetivo. Ainda assim, altero um pouco a tese: a gente gosta de lembrar de fatos de que fomos efetivamente protagonistas, porque assim o decidimos. Os velhinhos da pesquisa citaram como capítulos inesquecíveis de sua vida primeiro emprego, entrada para a faculdade, experiência militar, namoro, casamento, nascimento dos filhos e outros acontecimentos característicos da transição entre juventude e idade adulta.
Claro que isso é uma generalização. Muita gente deve ter coisas importantes para contar depois dos 30 anos, até mesmo porque os grandes acontecimentos da vida têm sido propositadamente adiados por conta da maior longevidade das atuais gerações. Mas é raro que alguém inclua entre suas melhores lembranças um fato ocorrido na velhice.
Cândido Norberto, saudoso companheiro que frequentou até os seus penúltimos dias esta Redação agora repleta de jovens, costumava caminhar lentamente entre as nossas mesas de trabalho e dizer:
– Aproveitem a vida, que a velhice não tem nenhum charme.
Era uma provocação, percebo agora. Tem o charme das lembranças que a gente administra como melhor nos serve. Eu, por exemplo, gosto de lembrar com o maior carinho do Cândido e de suas observações inteligentes, divertidas, desafiadoras. E olha que ele entrou na minha vida bem depois dos 24 anos.
Não sei a que conclusão chegaram os pesquisadores norte-americanos, mas tenho as minhas teses a respeito do assunto. Primeiro, acho que a gente gosta de lembrar daquilo que gostou de fazer. Então, já me contesta o menino perguntador que ainda carrego, deveríamos lembrar mais da infância. Não é bem assim, respondo. Era bom brincar e não ter responsabilidade, mas talvez não fosse tão prazeroso assim ser mandado, ter medo, depender dos adultos para saber o que fazer. Na hora do inventário, a infância fica apenas com pequenas relíquias de valor afetivo. Ainda assim, altero um pouco a tese: a gente gosta de lembrar de fatos de que fomos efetivamente protagonistas, porque assim o decidimos. Os velhinhos da pesquisa citaram como capítulos inesquecíveis de sua vida primeiro emprego, entrada para a faculdade, experiência militar, namoro, casamento, nascimento dos filhos e outros acontecimentos característicos da transição entre juventude e idade adulta.
Claro que isso é uma generalização. Muita gente deve ter coisas importantes para contar depois dos 30 anos, até mesmo porque os grandes acontecimentos da vida têm sido propositadamente adiados por conta da maior longevidade das atuais gerações. Mas é raro que alguém inclua entre suas melhores lembranças um fato ocorrido na velhice.
Cândido Norberto, saudoso companheiro que frequentou até os seus penúltimos dias esta Redação agora repleta de jovens, costumava caminhar lentamente entre as nossas mesas de trabalho e dizer:
– Aproveitem a vida, que a velhice não tem nenhum charme.
Era uma provocação, percebo agora. Tem o charme das lembranças que a gente administra como melhor nos serve. Eu, por exemplo, gosto de lembrar com o maior carinho do Cândido e de suas observações inteligentes, divertidas, desafiadoras. E olha que ele entrou na minha vida bem depois dos 24 anos.
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* Jornalista. Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 22/02/2014
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