sábado, 15 de fevereiro de 2014

Eutanásia Infantil


  "É assustador que a Europa possa estar tomando tal direção. Crianças são humanos, não são animais."


ENTREVISTA | VIVIAN EICHLER

Organizador de um manifesto assinado por 185 pediatras e enviado ao parlamento belga para que a votação do projeto que permite a eutanásia para crianças fosse postergada, o neuro-oncologista pediatra Stefaan van Gool lamenta que o esforço não tenha retirado a urgência com que a proposta foi aprovada. Em conversa por telefone ontem a Zero Hora, Van Gool explica por que teme a decisão.

Zero Hora – Por que o senhor se opôs à lei?

Stefaan van Gool – Primeiro, porque não há um instrumento objetivo para avaliar a consciência de uma criança sobre tal procedimento. Segundo, pela experiência que temos com pacientes terminais. Os pais estão sob grande situação de estresse e de conflito entre si. Muitas vezes, as crianças preferem ficar no hospital porque sabem que é uma maneira de ver os pais juntos, por exemplo. Não podemos excluir a hipótese de os pais sugerirem a eutanásia como solução e de que a criança apenas queira, por fidelidade, agradar aos pais. Isso pode ser muito perigoso. Outra razão é que não vemos urgência nessa lei. A velocidade com que foi aprovada parece estar mais inspirada por razões políticas, porque em maio teremos eleições, do que por uma necessidade social. Deveríamos nos concentrar em oferecer cuidados paliativos adequados.

Zero Hora – A eutanásia é legal na Bélgica há mais de 10 anos. O que explica essa aceitação?

Van Gool – Para mim, não é compreensível. Na prática, vemos que as crianças em estado terminal sempre pensam no futuro, nem que esse futuro seja apenas algumas horas a mais. Vimos que as crianças em grande sofrimento em determinados estágios de doenças, se recebem medicina paliativa adequada, podem muitas vezes se sentir melhor e voltar a pensar no futuro. É muito surpreendente que haja tanta urgência por essa lei. Acreditamos que os parlamentares não ouviram psicólogos, não se juntaram aos times paliativos para ver a realidade. Votaram sem conhecimento da realidade. É assustador que a Europa possa estar tomando tal direção. Crianças são humanos, não são animais.
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Reportagem ZH online, 15/02/2014

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