Diogo Costa*
Uma dica: não é por causa do bloqueio americano
Como escreve João Pereira Coutinho: “O embargo americano existe, sem
dúvida, e deve ser condenado pelo seu óbvio anacronismo [...]. Mas é
preciso acrescentar a segunda parte da frase: só existe o embargo
americano. Que o mesmo é dizer: todo mundo que é mundo mantém relações
com Cuba e nem assim a ilha se converteu numa espécie de Suécia do
Caribe”.
Antes de 1959, o problema de Cuba era a presença de relações
econômicas com os Estados Unidos. Depois o problema se tornou a ausência
de relações econômicas com os Estados Unidos.
O embargo americano é obsceno, mas não é a raiz da pobreza cubana. De
fato, como indica Coutinho, os cubanos podem comprar produtos
americanos pelo México. Podem comprar carros do Japão, eletrodomésticos
da Alemanha, brinquedos da China ou até cosméticos do Brasil.
Por que não compram? Porque não têm com o que comprar. Não é um
problema contábil ou monetário — o governo cubano emite moeda sem lastro
nem vergonha. O que falta é oferta. Cuba oferece poucas coisas de
valor para o resto do mundo. Cuba é pobre porque o trabalho dos cubanos
não é produtivo.
A má notícia para os comunistas é que produtividade é coisa de
empresário capitalista. Literalmente. É o capital que deixa o trabalho
mais produtivo. E é pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e
realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho.
É pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho
Mesmo quando o governo cubano permite um pouco de empreendedorismo,
ele restringe a entrada de capital. Desde que assumiu o poder em 2007,
Raúl Castro já fez a concessão de quase 170.000 lotes de terra não
cultivada para agricultores privados. Só que faltam ferramentas e
máquinas para trabalhar a terra. A importação de bens de capital é
restrita pelo governo. Faltam caminhões para transportar alimentos. Os
poucos que existem estão velhos e passam grande parte do tempo sendo
consertados. Em 2009, centenas de toneladas de tomate apodreceram por
falta de transporte.
Campanhas internacionais contra a pobreza global se esquecem dos
cubanos. Parece que o uniforme dos irmãos Castro tem o poder de camuflar
a pobreza em meio a discursos de conquista social. Dizem que Cuba tem
medicina e educação de ponta. Ainda que fosse verdade, isso seria bom
apenas para o pesquisador de ponta. E triste para o resto da população
que vive longe da ponta, sem acesso a informação aberta ou aos
medicamentos mais básicos, como analgésicos e antitérmicos. É como na
saudosa União Soviética. A engenharia era de ponta. Colocava gente no
espaço e tanques na avenida. Só não era capaz de colocar carro nas
garagens nem máquina de lavar nas casas.
Cuba vai enriquecer quando a sua população se tornar mais produtiva
para trabalhar e mais livre para empreender. Ou seja, quando houver
capitalismo para os cubanos.
-------------------------------
Fonte: Instituto Mises Brasil
* É bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, mestre
em Ciência Política pela Universidade de Columbia e editor do site
“OrdemLivre.org”. Foi um dos vencedores do primeiro prêmio Donald
Stewart Jr. apresentado pelo Instituto Liberal por seu ensaio sobre
Ludwig von Mises. Estagiou no Centro para Liberdade e Prosperidade
Global no Cato Institute. Já escreveu para diversos jornais impressos,
como “O Globo”, “O Dia”, “O Estado de São Paulo”, “Jornal do Commercio”,
“Digesto Econômico”, “Buenos Aires Herald” (Argentina), “El Diario
Exterior” (Espanha), “Mmegi” (Botswana), e “The Panama News” (Panamá).
Fonte: http://www.imil.org.br/artigos/por-cuba-pobre/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+org%2Fhetj+%28Instituto+Millenium%29
Nenhum comentário:
Postar um comentário