Rosely Sayão*
Se ler é bom, por que nós, adultos, lemos tão pouco? No Brasil, a média por pessoa é de só um livro por ano
Recentemente foi comemorado o Dia Nacional do Livro. A data lembrou a
importância da leitura na vida das crianças e de todos nós.
Esse é um bom motivo para refletirmos sobre a contribuição que o mundo
adulto dá para que os mais novos tenham a chance de desenvolver o gosto
pela leitura.
Primeiramente, é bom reconhecer que temos uma posição bastante moralista
a esse respeito. Famílias e escolas repetem à exaustão que ler é uma
coisa boa.
Desde os primeiros anos escolares até o último ano do ensino básico, a lista de livros obrigatórios é enorme.
Mas será que ler é mesmo bom? Se é, por que temos de repetir tanto essa recomendação e nem assim conseguimos resultados?
Talvez porque obrigação não combine com prazer e ler deveria ser uma
questão de prazer. Muita gente se preocupa em desenvolver o hábito da
leitura. Prova disso é que nossas crianças ficam com a agenda abarrotada
de coisas para ler.
Entretanto, hábito é coisa bem diferente de vontade. Em relação à
leitura, o que podemos fazer é plantar nos mais novos a vontade de ler,
mostrando as emoções que essa experiência proporciona.
A segunda questão que temos é a seguinte: se ler é tão bom assim, por
que é que nós, os adultos, lemos tão pouco? Pesquisas mostram que o
índice de leitura espontânea no Brasil é de pouco mais de um livro por
ano! Muito pouco, quase nada, na verdade.
Isso significa que, depois que o jovem sai da escola, ele simplesmente deixa de ler.
O que podemos fazer para que os jovens encontrem seu próprio caminho no
mundo dos livros? Para que desenvolvam um gosto verdadeiro pela leitura?
Os pais podem, por exemplo, ler e contar histórias para os filhos
pequenos. Muitas famílias já cultivam o momento da história, lendo para
os filhos de até seis anos antes de a criança se recolher. A questão é
que eles não sabem como seguir com esse ritual depois que a criança
cresce.
A partir dos sete, oito anos, muitas famílias se rendem aos outros
interesses que a criança passa a ter: programas de televisão, internet,
videogames, jogos de computador etc.
Entretanto, ouvir e contar histórias para os filhos é um hábito que
poderia seguir até o fim da infância como um grande incentivador não
apenas do gosto pela leitura, mas também como um elemento intensificador
das relações familiares.
Depois que a criança ganha fluidez, é hora de pedir para que ela também
leia para os pais. Mostrar interesse pelos livros que ela escolhe, ouvir
com atenção as histórias que a criança conta sobre sua própria vida e
ler ao seu lado são excelentes maneiras de estimular a atividade leitora
dos mais novos.
As bibliotecas também poderiam funcionar como locais de incentivo do
gosto pela literatura. Para isso, precisariam ser fisicamente mais
atraentes, com livros e atividades interessantes. As famílias poderiam
incluir a ida à biblioteca como um programa familiar, não é verdade?
Ler sempre -mesmo que por pouco tempo-, comentar sobre os livros que
estão lendo e incluir alguns exemplares na bagagem das férias são
atitudes que os pais podem adotar para mostrar aos filhos, na prática,
que ler é bom de verdade.
E as escolas? Essas têm um enorme potencial para desenvolver com seus
alunos o interesse pela leitura. A maioria tem optado pelos caminhos
mais fáceis e menos produtivos: responsabilizar as famílias por isso e
obrigar os alunos a ler. Poucas são as escolas particulares que têm uma
biblioteca atraente.
Aliás, aí está uma boa questão para os pais que procuram escolas para os
filhos: visitar a biblioteca escolar e saber como ela é usada por
alunos e professores.
E, por falar em professor, quantos deles demonstram aos alunos que têm paixão pela literatura?
Se ler é mesmo bom, vamos provar isso aos mais novos.
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