LUÍS AUGUSTO FISCHER*
Se o prezado leitor me acompanha de outras jornadas, deve já estar
aborrecido de tanto me ouvir reclamar do que me parece ser uma
supervalorização do modernismo paulista. E de fato acho isso, há muito
tempo: por motivos perfeitamente conhecidos e narráveis, mas extensos
demais para um texto como este aqui, a ideologia modernista expressa na
famosa Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, veio a ganhar ares
de verdade absoluta, com o tempo. O tempo que se chama criação da USP e a
subsequente revisão da história da literatura e da cultura brasileiras,
que fez o serviço de colocar no relato desse processo, como centro
absoluto, como revelação de sentido, a ação dos ditos modernistas, em
particular Mário de Andrade (Oswald continua a ser visto como
desviante).
Já escrevi muito sobre isso, e continuo nessa bronca, sempre dizendo que liminarmente não tenho nada contra paulistas ou a favor de cariocas, gente tão boa ou tão ruim quanto qualquer outra. Meu tema é uma discussão sobre como vemos, sentimos, vivemos nosso passado e, por isso mesmo, como lidamos com nosso presente e nosso futuro. Nosso de quem, o senhor quer saber? Nosso de brasileiros, ou de usuários do português falado no Brasil.
Esses dias fui finalmente ler um pensador francês que, nada tendo a ver com os paulistas, me ajudou a entender um pouco mais a coisa. O livro é Jamais Fomos Modernos, e seu autor é Bruno Latour (editora 34), saído pela primeira vez no distante ano de 1991, que eu desconhecia. Diz ele que sempre que usamos palavras como moderno, modernização, modernidade e, acrescento eu, modernismo, duas coisas acontecem no espírito: primeiro, fica definido, por contraste com o moderno, um passado arcaico e estável; segundo, tais termos implicam a noção de haver vencedores (naturalmente os modernos) e perdedores (os demais).
É bem isso, caro Latour! E é bem contra isso que me insurjo (exclamo de novo)! A entronização do modernismo como verdade, como critério supremo de avaliação, criou um passado arcaico e estável, um passado que parece não comportar movimento, portanto não merecer reavaliação; e criou vencedores, os modernistas, erguidos sobre os cadáveres dos perdedores, os demais. Quando eu penso que desse passado estável, desse grupo de perdedores, está Machado de Assis, nem sei bem o que fazer.
Já escrevi muito sobre isso, e continuo nessa bronca, sempre dizendo que liminarmente não tenho nada contra paulistas ou a favor de cariocas, gente tão boa ou tão ruim quanto qualquer outra. Meu tema é uma discussão sobre como vemos, sentimos, vivemos nosso passado e, por isso mesmo, como lidamos com nosso presente e nosso futuro. Nosso de quem, o senhor quer saber? Nosso de brasileiros, ou de usuários do português falado no Brasil.
Esses dias fui finalmente ler um pensador francês que, nada tendo a ver com os paulistas, me ajudou a entender um pouco mais a coisa. O livro é Jamais Fomos Modernos, e seu autor é Bruno Latour (editora 34), saído pela primeira vez no distante ano de 1991, que eu desconhecia. Diz ele que sempre que usamos palavras como moderno, modernização, modernidade e, acrescento eu, modernismo, duas coisas acontecem no espírito: primeiro, fica definido, por contraste com o moderno, um passado arcaico e estável; segundo, tais termos implicam a noção de haver vencedores (naturalmente os modernos) e perdedores (os demais).
É bem isso, caro Latour! E é bem contra isso que me insurjo (exclamo de novo)! A entronização do modernismo como verdade, como critério supremo de avaliação, criou um passado arcaico e estável, um passado que parece não comportar movimento, portanto não merecer reavaliação; e criou vencedores, os modernistas, erguidos sobre os cadáveres dos perdedores, os demais. Quando eu penso que desse passado estável, desse grupo de perdedores, está Machado de Assis, nem sei bem o que fazer.
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* Escritor. Prof. Universitário.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3941109.xml&template=3916.dwt&edition=20747§ion=999
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