Michel Aires de Souza* |
Entender
as ciências é conhecer sua prática, seu funcionamento e seus
mecanismos. É compreender o comportamento do cientista, suas as atitudes
e suas decisões. Foi a partir da compreensão da prática do cientista
que Thomas Kuhn desvelou os mecanismos internos das ciências. Para ele
as ciências evoluem através de paradigmas. Paradigmas são modelos,
representações e interpretações de mundo universalmente reconhecidas que
fornecem problemas e soluções modelares para a comunidade científica. É
por meio dos paradigmas que os cientistas buscam respostas para os
problemas colocados pelas ciências. Os paradigmas são, portanto, os
pressupostos das ciências. A prática científica ao fomentar leis,
teorias, explicações e aplicações criam modelos que fomentam as
tradições científicas. Nas palavras de Thomas Kuhn, os “paradigmas são
as realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante
algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade
de praticantes de uma ciência" (Kuhn, 1991, p.13). A física de
Aristóteles é um bom exemplo de paradigma, sua teoria foi aceito por
mais de mil anos. A astronomia Copernicana, a dinâmica Newtoniana, a
química de Boyle, a teoria da relatividade de Einstein também são
paradigmas.
A
idéia de paradigma surgiu das experiências de Kuhn como cientista. Ele
percebeu que a prática cientifica é uma tentativa de forçar a natureza a
encaixar-se dentro dos limites preestabelecidos e relativamente
inflexíveis fornecido pelo paradigma. A ciência é para ele uma tentativa
de forçar a natureza a esquemas conceituais fornecidos pela educação
profissional. Na ausência de um paradigma, todos os fatos significativos
são pertinentes ao desenvolvimento de determinada ciência.
O
motor das ciências é a luta entre moldelos explicativos, entre teorias e
concepções de mundo, "o desenvolvimentoda da maioria das ciências
têm-se caracterizado pela contínua competição entre diversas
concepções de natureza distintas". (Kuhn, 1991, p.22). É o que Kuhn
denomina de ciência normal. A ciência normal são as pesquisas que estão
baseadas em conquistas do passado feitas pelas ciências. Essas
conquistas são reconhecidas pela comunidade científica de uma área
particular e possuem duas características comuns. A primeira
característica é que as realizações das ciências atraem um grande número
de cientista em torno de uma atividade ou teoria cientifica. A segunda
afirma que suas realizações estão abertas para a comunidade
problematizar e resolver toda espécie de problemas.
A
ciência normal não se desenvolve por acumulação de descobertas e
invenções individuais, mas por revoluções de paradigmas. Por exemplo, a
teoria geocêntrica de Ptolomeu, que afirmava ser a terra o centro do
universo, foi substituido por um novo modelo, a teoria heliocêntrica de
Copérnico, que afirmava ser o sol o centro da nossa galaxia. Outro
exemplo é a teoria da gravitação de Newton, que afirmava ser a gravidade
uma força fundamental existente em todos os corpos. Essa teoria foi
completamente modificada por um novo modelo explicativo, a teoria da
relatividade-geral de Einstein. Segundo esse novo modelo, a gravidade
não seria uma característica dos corpos, mas das distorções do
espaço-tempo local causado pelo peso das massas dos corpos. Segundo Kuhn
essas transformações de paradigmas são revoluções científicas e “a
transição sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolução, é
o padrão usual de desenvolvimento da ciência amadurecida” (Kuhn, 1991,
32).
Os
cientistas que compartilham um mesmo paradigma estão comprometidos com
as mesmas "regras" e "padrões" estabelecidos pela prática científica. "A
ciência normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega
inevitavelmente quase todo seu tempo, é baseada no pressuposto de que a
comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do sucesso do
empreendimento deriva da disposição da comunidade para defender esse
pressuposto - com custos consideráveis se necessário". (Kuhn, 1991,
p.24).
O
paradigma se constitui como uma rede de compromissos ou adesões,
conceituais, teóricas, metodológicas e instrumentais compartilhados. O
paradigma é o que faz com que um cientista seja membro de uma
determinada comunidade cientifica. Através da educação o jovem adquire
os esquemas conceituais de sua atividade. É a educação profissional que
lhe permitirá aprender e internalizar esses pressupostos. Uma vez
aprendido o cientista vai compartilha-los em sua prática profissional.
Outra característica importante do paradigma é que ele não depende de
regras externas. Para Kuhn (1991, p.69), os problemas e técnicas da
pesquisa que surgem numa tradição não estão necessariamente submetidos a
um conjunto de regras. A falta de uma interpretação padronizada ou de
regras não impede que um paradigma oriente a pesquisa. Na verdade, a
existência de um paradigma nem mesmo precisa implicar a existência de
qualquer conjunto completo de regras.
Kuhn afirma ainda que ciência normal não é um empreendimento unificado
e monolítico. As várias ciências e seus vários ramos são bastante
instáveis, muitos dessas ciências não tem coerência entre suas partes.
Há grandes revoluções como pequenas revoluçãos, algumas apenas afetam
apenas uma parte de um campo de estudos, outras afetam grupos bastante
amplos. Devido a esta estrutura instável das ciências é impossível uma
total padronização dos paradigmas.
Bibliografia
KUHN, Thomas. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1991.
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* Professor
Fonte: http://filosofonet.wordpress.com/2012/07/02/o-que-e-paradigma-segundo-thomas-kuhn/
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