Entrevista
Terrence Tilley, mestre em Teologia e presidente do Departamento de
Teologia da Fordham University, em Nova York, diz que o novo papa
provavelmente será um italiano. O próprio Tilley considera esta previsão
uma mera especulação, mas não é um homem meias palavras e tem
conhecimento para opinar. Para Tilley, os cardeais vão eleger um papa
conhecedor “da cultural curial”, pois Bento XVI era um acadêmico sem
habilidades administrativas. A Cúria romana, em plena “desordem”,
segundo Tilley, é o núcleo administrativo do Vaticano.
CartaCapital: No contexto uma reforma da Igreja Católica parece fundamental.
TT: É absolutamente necessário desmantelar a casta clerical.
Isso não quer dizer que a Igreja Católica seja uma organização pior que
outras. Os escândalos de pedofilia podem ser encontrados em outros
meios. É claro, a Igreja Católica tem de lidar com esse sério problema.
Mas igualmente grave é o fato de a Igreja proteger eclesiásticos
envolvidos em casos de pedofilia.
E assim a Igreja Católica não tem autoridade para lidar com agressores.
CC: O senhor crê no fim do celibato para pôr fim aos escândalos sexuais?
TT: O celibato clerical obrigatório é uma inovação do século
XIII. Antes, sacerdotes podiam casar em diversos lugares. Outros padres
não o faziam. Uma das imagens que reforçam o prestígio, poder e
privilégio da casta clerical é o celibato. Acho impossível acreditar que
viver uma vida de celibato é uma condição necessária para a ordenação
de todos os sacerdotes.
CC: Acredita que o papa abdicou por causa das alegações de
um lobby gay e corrupção na Igreja feitas com base em uma investigação
para o Vaticano?
TT: Minha especulação sobre a abdicação do papa não é apoiada
por fatos, como todas as outras especulações que aqui faço. O papa
acumulou muito peso sobre seus ombros. Há o cansaço depois de sua viagem
sul-americana, não pode viajar para fora da Europa, tem de desenvolver
para evangelizar pessoas mundo afora, tem dificuldades para lidar com
uma Cúria em desordem. Talvez um dos fatores sejam os escândalos sexuais
e bancários levantados pelo tão comentado dossiê. Temos de levar em
conta que as habilidades do papa não são administrativas, mas
acadêmicas. Diante de todos esses fatores
esse homem de 85 anos preferiu renunciar.
esse homem de 85 anos preferiu renunciar.
CC: Especula-se que o próximo papa deve ser um italiano, que saberia lidar com mais destreza que um estrangeiro com a Cúria romana.
TT: Sucessores são sempre diferentes de seus antecessores.
João XXIII era visto como impulsivo. Paulo VI foi indeciso. Não sabemos
como teria sido João Paulo I, visto que logo morreu. Por sua vez, João
Paulo II, em contraste com o indeciso Paulo VI, tinha uma personalidade
decisiva de estrela midiática. Já Bento XVI, é um acadêmico. Portanto, o
próximo papa terá de ter habilidades administrativas e pastorais.
Especulo que ele será um italiano, ou alguém que realmente entenda a
cultura curial.
CC: Bento XVI disse que o relatório preparado pelos cardeais será visto apenas por ele
e pelo o próximo papa. Não lhe parece que o próximo papa deveria revelar ao público o escandaloso conteúdo que o diário La Repubblica diz constar do dossiê?
e pelo o próximo papa. Não lhe parece que o próximo papa deveria revelar ao público o escandaloso conteúdo que o diário La Repubblica diz constar do dossiê?
TT: Chocou-me o fato de não haver citações no artigo sobre o relatório publicado pelo La Repubblica.
Havia insinuações e nada de fontes. Nos Estados Unidos, se você quiser
provar algo, é preciso publicar o texto, ou até mesmo uma cópia do
texto original. Mas talvez o artigo seja fidedigno. Por outro lado, deve
o conteúdo desse dossiê ser revelado? Deve.
CC: Qual é o impacto das recentes alegações – ou outros, tais como os casos de pedofilia nos EUA – nos católicos mundo afora?
TT: A hierarquia perdeu muita credibilidade. As recentes
revelações afetaram a lealdade à Igreja Católica por parte de fiéis nos
Estados Unidos e em grande parte da Europa. Para a população católica
permanecer fiel e praticante, é preciso fortalecer igrejas locais, ou
seja, as paróquias. O que resta é a paróquia local.
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Fonte: http://www.cartacapital.com.br 03/03/2013
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