segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma recessão de oportunidades desiguais


Os Estados Unidos vivem um período que pode ser o início
de uma cultura da adversidade
e de um futuro pobre para a juventude do país,
que não tem escolha senão começar suas carreiras
num mercado de trabalho fraco.
Para os jovens dos EUA que estão entrando
no mercado de trabalho
no meio da Grande Recessão,
o bem estar de curto prazo pode não
ser apenas o que está em jogo.
Suas vidas serão assombradas por importantes
e negativos aspectos nos anos que seguem.
O artigo é de Katherine S. Newman e David Pedulla.

*Katherine S. Newman e David Pedulla - The Nation

Há consequências duráveis e de longo alcance quando se entra no mundo do trabalho em tempos ruins na economia. Para os jovens dos EUA que estão entrando no mercado de trabalho no meio da Grande Recessão, o bem estar de curto prazo pode não ser apenas o que está em jogo. Suas vidas serão assombradas por importantes e negativos aspectos nos anos que seguem.

Sabemos que aqueles que entram no mercado de trabalho em tempos de declínio econômico são afetados seriamente. Por exemplo, os economistas estudaram o que aconteceu com a turma que tentou encontrar um trabalho no mercado no começo dos anos 80, a última vez que a taxa de desemprego excedeu 10%. Ao analisar um largo conjunto de dados, Lisa Kahn, da Yale School of Management, examinou recentemente os resultados dos graduados brancos que entraram no mercado de trabalho antes, durante e depois da recessão do início dos anos 80. Ela averiguou que até 15 anos depois de formados os trabalhadores que haviam entrado no mercado de trabalho durante a recessão continuavam a enfrentar salários significativamente mais baixos.

Marcas são produzidas por biografias consideradas anormais ou suspeitas: longos períodos de desemprego, trabalhos com menos responsabilidades do que a sua formação poderia propiciar e coisas do tipo. Devemos todos nos lembrar como é difícil achar trabalho agora e evitar futuros candidatos a derrotados. Tristemente, não é o que ocorre no mundo real. Os empregadores só escolhem os mercados de trabalho mais seguros e não querem selecionar pessoas que pareçam esquisitas, não importa quem seja ou tenha sido (ou não) culpado.

A Grande Recessão está nos lembrando do quão desigual a distribuição do dano pode ser. Enquanto em tese todo mundo além dos 1% mais ricos está de alguma maneira sofrendo, a profundidade do prejuízo varia muito em função de raça, educação e gênero.

Os afro-americanos tem sido atingidos mais duramente pelo desemprego, com a atual taxa de perdas de postos de trabalho, em 15,5%, quase o dobro dos brancos e chegando a quase seis pontos acima do nível total de desemprego. Esse quadro é afetado por várias tendências, inclusive preferências raciais no mercado de trabalho, mas uma das razões principais para a disparidade repousa no quesito educacional. Trabalhadores pouco capacitados, formados até o ensino médio ou menos, são desproporcionalmente membros de minorias, e coletivamente eles vêm sendo prejudicados nesse mercado de trabalho.

Na Grande Recessão os homens têm sofrido mais do que as mulheres no desemprego geral, levando alguns a considerarem essas perdas como a “homemcessão”. A disparidade de gênero não é sem precedente; nos anos 30 as mulheres tinham mais facilidade para encontrar e manter empregos do que os homens, nas suas famílias, porque eram mais baratas de empregar e as típicas ocupações delas não sentiram o impacto da Depressão da mesma maneira que os empregos dos homens. Construção civil, aço, indústria pesada – essas eram as empresas a que os homens recorriam, e elas estavam todas em vias de destruição no começo dos anos 30. Estamos vendo um padrão similar de desvantagem masculina emergir agora, exacerbado pelo sucesso relativo da mulher na educação de nível superior, o que está se traduzindo em algum grau de proteção nesta tempestade a que os homens estão cada vez mais expostos.

Mais preocupante para a saúde de longo prazo do trabalhador americano é a experiência da juventude; o desemprego para as pessoas entre 16 e 24 anos é aproximadamente o dobro dos demais trabalhadores. As páginas de nossos jornais estão diariamente cheias de faces desamparadas de carne nova recém graduada, endividada, que não consegue encontrar trabalho. Os seus parceiros de desemprego que têm menos educação estão ainda mais desesperados. Mas para onde quer que se olhe é o estreante na competição do mercado de trabalho que realmente está sem sorte na Grande Recessão.

Jovens negros são os em maior desvantagem de todas as disputas, mas trabalhadores jovens estão todos em péssima forma neste mercado de trabalho. E se recessões anteriores são indicadores do que está por vir, podemos esperar essas entradas trôpegas no mundo do trabalho para traduzi-las em desvantagens de longo prazo, relativas aos que chegam ao mercado num ambiente de oportunidade.

O sub-emprego é quase tão sério quanto a falta de trabalho para milhões de estadunidenses. Como em março, em que quase 6% da força de trabalho estava trabalhando meio turno involuntariamente, e o melhor que esses trabalhadores conseguem configura o seu critério de estrutura de classe. Andrew Sum e seus colegas do Centro para Estudo do Mercado de Trabalho na Universidade do Nordeste descobriram que, entre outubro e dezembro do ano passado, mais de 20% dos trabalhadores com menor renda nas famílias trabalhavam meio expediente contra sua vontade; só 1,6% dos 10% dos trabalhadores que encabeçavam a lista enfrentavam esse problema.

Mesmo quando os trabalhadores encontram novos empregos, um fraco mercado de trabalho os deixa vulneráveis a pouca mobilidade salarial. O Gabinete de Estatísticas do Trabalho acompanha os “trabalhadores deslocados”, aqueles que perderam ou foram demitidos dos empregos porque seus empregadores aboliram seus postos de trabalho, uma parte insuficiente do trabalho estava disponível ou sua fábrica ou empresa fechou as portas. Entre 2005 e 2007, 8,3 milhões de trabalhadores foram considerados oficialmente afastados. Dentre os que tinham emprego em tempo integral ao menos por três anos e que encontraram novos empregos em tempo integral em janeiro de 2008, quase metade estava ganhando menos do que ganhavam antes, no emprego anterior, e um quarto deles sofreram perdas em mais de 20% dos ganhos.

Os demitidos estão em alto risco no desempergo de longo prazo, uma fonte maior de angústia, e aqui a raça entra na equação de uma maneira perniciosa. Dos trabalhadores que tiveram emprego por ao menos 3 anos antes de serem demitidos, 17% dos brancos e hispânicos ainda estavam desempregados em 2008. Porém mais de 28% dos afro-americanos estavam sem emprego no mesmo período.

Os problemas sociais que angustiam os especialistas na pobreza – gravidez adolescente, altos índices de desemprego entre jovens negros, baixa formação educacional – são todos muito reveladores da situação econômica do país. A maior parte desses indicadores caíram bruscamente ou estabilizaram no período de prosperidade do fim dos anos 90. Essa era de ouro é um passado remoto, mas nos lembra que esta situação sombria que vige na economia atual é pesadamente inevitável. Os bons tempos – a escassez de trabalho, o alto crescimento, a baixa inflação – criam um campo que, se não nivela, é ao menos um bom lugar para a maior parte dos jovens começarem a trabalhar. Tristemente este pode ser o período de que viremos a lembrar como o início de uma cultura da adversidade e de um futuro pobre para a juventude do país, que não tem escolha senão começar suas carreiras num mercado de trabalho fraco.
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*David Pedulla é um candidato a doutorado em sociologia e política social na Universidade Princeton, que está estudando o impacto do crescimento trabalho temporário na insegurança do mercado de trabalho. Katherine S. Newman é a titula da cadeira Marlcom Forbes, de 1941, de Sociologia e Assuntos Políticos na Universidade Princeton e autora, com Elisabeth Jacobs, de Who Cares? Public Ambivalence and Government Activism From the New Deal to the Second Gilded Age.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior online, 08/07/2010

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