José Tolentino Mendonça*
É verdade que todos os paraísos são paraísos perdidos? A julgar
pela aparência todas as histórias, até a história bíblica, nos garante
que sim. De facto, no livro do Génesis, o primeiro casal humano acaba
lançado para fora do paraíso, depois de uma breve e atrapalhada
permanência. E as portas do paraíso ficam interditas aos humanos.
Contudo, a linguagem simbólica e a natureza teológica daquele relato
exigem uma atenção a investimentos de sentido que se podem sintetizar
assim: o tempo da salvação não é narrado como nostalgia de uma
época de ouro passada, mas, o que se procura afirmar é que, através de
vicissitudes e contradições, o tempo não deixa de avançar para uma
plenitude. De certa forma, o homem descobre que está fora do paraíso
para que possa encaminhar-se para ele. A expulsão bíblica não é,
portanto, uma perda, mas o primeiro, e misterioso, passo para o caminho
da promessa. O que não se escamoteiam são as tensões e desvios que o
homem vai introduzindo. Reconhecer, porém, que mundo e a história não
são propriamente lugares paradisíacos não nos deve fazer cair os braços,
nem desesperar.
No território ambíguo que se abre, na irresolução que nos
caracteriza a nós próprios, os crentes são chamados a identificar (e a
imaginar) novas possibilidades.
Que ensina a sabedoria bíblica aos nossos tempos conturbados? Ensina,
sem dúvida, que a esperança é mais importante de que a saudade; e que a
promessa humilde que, quotidianamente, nos coloca a caminho é bem mais
preciosa que os paraísos que nos deixam parados a olhar para trás.
Na magnífica encíclica sobre a Esperança, e que podia bem servir-nos
de mapa nas horas de sofrimento e de incerteza, escreve o Papa Bento
XVI: “A esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os
outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as coisas não
caminhem para o «fim perverso». É esperança ativa precisamente também no
sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela
permanece também uma esperança verdadeiramente humana”.
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*Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
*Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=93982
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