Marcelo Gleiser*
O país tem de realizar um enorme esforço para avançar na geração e na utilização do conhecimento
RECENTEMENTE, ESTIVE em Brasília, a convite da Comissão de Ciência,
Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado. O objetivo
foi participar do seminário "Caminhos para a Inovação", uma atividade da
ENCTI (Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação), iniciada
em 2011 pelo então Ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio
Mercadante.
Estavam também presentes o neurocientista Miguel Nicolelis e várias
autoridades da área, como Glaucius Oliva, presidente do CNPq [agência
federal de fomento à ciência]. Minha tarefa (e a do Nicolelis) era
apontar possíveis mecanismos para que o Brasil deixe de ser potência
agropecuária e de extração de minérios e crie uma economia movida pela
inovação competitiva.
Comecei citando o relatório da ENCTI, de autoria do Mercadante:
1) A sociedade do futuro é a sociedade do conhecimento.
2) O Brasil tem de realizar um enorme esforço para avançar na geração e
utilização do conhecimento científico, criando competências em áreas
estratégicas.
3) O país precisa de uma revolução do seu sistema educacional.
Como fica bem claro, o ministro apontou bem o que deve ser feito. A questão é como.
Entre as 59 maiores economias do mundo, o Brasil ocupa a 54ª posição em
infraestrutura tecnológica e educacional. Esses são dados do do
Institute for Management Development, que examina as tendências
econômicas dos países, mapeando sua viabilidade futura. O Brasil hoje
ocupa a 47ª posição em performance econômica, caindo da 30ª em 2011. As
coisas não vão tão bem quanto a maioria pensa.
Antes de mais nada, é necessária uma profunda revitalização da educação
científica nacional: o Brasil precisa dobrar o número de engenheiros
formados para poder suprir a demanda que já existe. Para isso, os jovens
têm de ver a ciência como uma carreira viável, interessante e
gratificante. A ciência precisa ser ensinada de outra forma, levando do
encantamento à inovação.
As crianças precisam ver a ciência no seu cotidiano, no mundo que as
cerca e no que as interessa; não pela memorização de fórmulas, mas
olhando para o mundo de forma qualitativa, para então aprender as
ferramentas quantitativas que cientistas usam para estudá-lo.
Estudantes de graduação e de pós devem visitar escolas públicas e
privadas, para que crianças e jovens tenham contato com estudantes de
ciências, desmistificando a carreira. Cientistas brasileiros também
precisam participar de forma muito mais ativa na educação informal da
população: palestras dirigidas ao público, observação astronômica em
espaços abertos, feiras de ciência etc. A mídia nacional precisa dedicar
mais espaço à ciência, especialmente na TV aberta e em horário nobre,
nem que sejam alguns parcos minutos por semana.
É necessária uma lei de fomento à pesquisa, equivalente à Lei Rouanet da
cultura. Com isso, o setor industrial e comercial terá incentivo para
investir em ciência, algo que nos EUA e na Europa é essencial.
Falei sobre outras estratégias, mas essas foram as principais. O
interessante é que o Nicolelis chegou depois e, sem me ouvir, apresentou
quase os mesmos pontos. Basta que o Legislativo nos ouça também.
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