As pesquisas sociais são unívocas: cada vez menos jovens vão à paróquia ou se declaram católicos. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Janeiro,
um fórum da redação da revista Jesus, com quatro especialistas,
apresenta o quadro da situação sobre essa distância crescente entre a
Igreja e a geração dos "nativos digitais".
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo
do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do
qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose,
que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens.
Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do
encontro.
Publicamos aqui a segunda parte do debate. Confira também a primeira parte.
Eis o debate.
O Pe. Matteo se referiu antes àquela que, em uma pesquisa
realizada pelo professor Segatti em 2010, foi definida como "ruptura
geracional", que inicia, grosso modo, a partir dos anos 1980, e que ele,
no seu livro, sintetizou com a expressão "primeira geração incrédula". A
que se deve isso? Quais são suas raízes?
Armando Matteo – É preciso analisar a situação da
geração das pessoas nascidas entre 1946 e 1964, aquela a qual se pode
atribuir a definição dada por Magatti" de "narcinismo",
uma mistura entre narcisismo e cinismo. É a primeira geração que viveu
fenômenos inéditos: se aposenta e ainda tem os pais vivos; experimentou o
bem-estar, o boom econômico, a afirmação da técnica. Conheceu uma época
histórica incrível: o Concílio Vaticano II, o primeiro homem na Lua, uma sensação de paz nunca manifestada (lembremo-nos do Vietnã).
No entanto, ela se apaixonou por esse grande sentimento de juventude e pelo ideal do self-made man.
Assim, censurou a idade adulta da vida e a própria ideia de
crescimento: o crescimento não é só acumular, mas também perder,
envelhecer, morrer. Em uma pesquisa, foi perguntado aos italianos quando
é que nos tornamos velhos. A resposta foi: "Aos 83 anos". A idade média
dos italianos é de 82 anos e 4 meses, portanto, na Itália, tornamo-nos velhos depois da morte!
A brecha está justamente aqui: a fé existe porque nos ajuda a viver
como adultos. O horizonte de Deus nos ajuda a não absolutizar este
mundo, mas a abençoá-lo por aquilo que ele é. No momento em que uma
geração marginaliza o discurso sobre a idade adulta, de fato, não
precisa mais da fé. Encontramos isso também no livro de Luigi Zoja ou nas análises de Galimberti: o indivíduo pensa somente no presente. E o sistema econômico domina o indivíduo, através de falsas imagens de liberdade.
Em suma, essa geração mostrou que Deus e o Evangelho não servem. A
Igreja continua postulando a família como lugar de transmissão da fé,
mas as análises nos dizem que os jovens italianos não rezam em família,
não lembram se a própria mãe alguma vez falou-lhes sobre a fé.
Normalmente, a pessoa à qual associamos a fé é a avó. A ideia é que a fé
é coisa dos padres, das freiras; enquanto você é criança, você precisa
fazer essa "coisa", mas, quando você cresce, então segue em frente.
Tudo isso, no entanto, produz uma inquietação nos jovens. São eles
que estão pagando o peso da censura da idade adulta. Os jovens estão
buscando um novo sentido do humano. A internet e a web não são um
instrumento, são um laboratório de humanidade. Outros elementos, além
disso, vão nessa direção: o amor pela natureza, pela música, que é
justamente o sentido da festa, e depois também a literatura, o cinema. A
geração 1946-1964 censurou a idade adulta e, de fato, tornou
simplesmente inútil a referência a Deus. Nós celebramos o Deus dos
cristãos no domingo, mas a segunda-feira também serve na vida cotidiana.
Chiara Giaccardi – O tema da música é verdadeiramente paradigmático: na perspectiva de Marshall McLuhan,
os meios são a extensão dos sentidos, e cada época se caracteriza por
um "sabor cultural" particular, porque acentua uma dimensão da nossa
sensorialidade mais do que outras. McLuhan defende, por exemplo, que "a
visão exclui, o ouvido inclui", e não é por acaso que essa paixão pela
música se casa tão fortemente com a dimensão da rede, de estar com, da
conexão, da sintonia, de estar em uníssono.
Kant escrevia que a música é uma "linguagem sem
conceitos": vibra-se junto, sem passar pela adesão intelectual. São as
ideias da fisicidade, do contato que retornam: pela mesma razão, McLuhan
definia a era da eletricidade (hoje dizemos era digital) como
"audio-tátil". E essa é uma linguagem que eu acredito que é preciso
recuperar também em nível litúrgico, porque a missa, mesmo para os
jovens que frequentam os grupos eclesiais, corre o risco de ser sentida,
injustamente, como uma linguagem estranha, abstrata, intelectualista.
Sobre a crise da idade adulta, eu acrescentaria uma consideração. O psicanalista Luigi Zoja, em La morte del prossimo,
define os adultos como "lactantes psíquicos" que se apegam à mamadeira
daquilo que lhes faz sentir bem, interrompendo aquele círculo virtuoso
entre o pegar e o restituir, entre o receber e o dar, que, ao invés,
deveria caracterizar o ser adulto, como havia defendido o psicólogo
social Erik Erikson falando de generatividade.
A crise da idade adulta também é a crise da generatividade. O ser –
digo-o como católica – não é enquanto é, mas enquanto gera. Deus criou o
mundo e criou o ser humano. E o criou, com as belas palavras de Hölderlin, "como o mar cria a terra: retirando-se". O termo generatividade, que para Erikson
tem como única alternativa a "estagnação", prevê três momento: o pôr no
mundo (dar à luz), o cuidar e o deixar ir. A crise da generatividade
hoje se manifesta em todos os três níveis: não pomos mais no mundo;
pomos no mundo mas não cuidamos; ou cuidamos mas não deixamos ir.
Vê-se muito bem este último aspecto nas nossas elites, que talvez
fizeram coisas muito bonitas, mas depois não as deixam ir, não passam o
bastão e assim roubam o futuro das jovens gerações. A crise da idade
adulta é justamente uma crise de generatividade, que se manifesta no
esforço de reter o máximo possível e de não transmitir. Ou somos
generativos e entramos em um círculo virtuoso, ou há a estagnação que,
depois, é asfixia, morte.
Luciano Manicardi – Uma dimensão dessa crise que os
jovens hoje estão pagando é que a geração dos seus pais não soube
prometer ou permanecer fiel às promessas feitas. A promessa não mantida
cria desconfiança, e sem confiança não há futuro. Prometer é dar forma
ao futuro, futuro que é responsabilidade dos adultos e potencialidade
nos jovens. É hora de sair da retórica de jovens que são sempre e
invariavelmente o futuro e a esperança da Igreja e da sociedade: o
futuro e a esperança também são responsabilidade dos adultos. E é
preciso ajudar os jovens a aproveitar os seus recursos internos, porque o
futuro também nasce da interioridade: o apaixonar-se diz isso muito
bem. Mas também a faculdade de desejar e de imaginar.
(Continua...)-----------------
A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 09/07/2013
Imagem da Internet
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