Juremir Machado da Silva*
Há momentos em que a franqueza deve ser brutal: a
ideia, defendida por um comunicador razoavelmente conhecido abaixo do
Mampituba, de que seria o momento de se aproveitar o incêndio para
derrubar o Mercado Público e construir outro prédio com estacionamento,
fazendo surgir da cinzas um edifício moderno, é a coisa mais idiota que
li nos últimos anos. Há quem diga que essa estupidez tem por objetivo
favorecer os interesses imobiliários da empresa onde o jornalista
trabalha, mas eu não acredito. É senilidade mesmo. Não escrevo a palavra
senilidade como uma injúria nem como uma marca de desprezo pelos senis,
mas como uma constatação, um fato triste da vida do qual só escapamos
pela morte. Alguns, prudentes, retiram-se antes da cena pública. Farei
isso.
O Mercado Público é um patrimônio histórico. Até um néscio entende
isso. Patrimônios históricos têm uma função simbólica que vai além das
suas funcionalidades primárias. O Mercado Público não é um shopping
popular. É muito mais do que isso. É uma marca estética, cultural,
social, política e imaginária. É isso. O Mercado Público é um
imaginário. O imaginário é uma aura, uma atmosfera, um excedente, uma
cobertura que dá sentido, que produz significação. Só a obtusidade
intelectual profunda pode impedir de perceber esse elemento fundamental
da estrutura de um imaginário. Eu fico me perguntando: como alguém ainda
lê um sujeito que escreve uma coisa dessas? O fulano é conhecido pela
sua prepotência, pela sua arrogância, pela sua violência verbal, por ser
rasteiro. Agora já não é rasteiro, é subterrâneo mesmo. O Rio Grande do
Sul merece muito mais.
Há tempo eu não lia algo tão pobre intelectualmente. Já tivemos
grandes colunistas, cronistas e poetas. Chegamos ao fundo do poço. Um
sapo teria mais a dizer. Nem a tentativa de ironizar um pouco ao final
salva o autor da proposta da inépcia em que se meteu por conta própria.
Triste é saber que não lhe faltarão adeptos. Os sedentos por negócios
devem estar esfregando as mãos. Felizmente a ideia é tão ridícula que
não irá adiante. O simples fato de ter sido concebida revela algo
terrível: a senilidade destrói até os cérebros pouco privilegiados. Como
dizia a velha Nésia, em Palomas:
– A caduquice revela a natureza das pessoas.
Há, porém, caducos generosos e caducos do mal.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 08/07/2013
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