Mercado Ético
Ontem (27), o auditório da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM) de São Paulo ficou pequeno para receber a grande platéia que
queria ouvir Muhammad Yunus, economista vencedor do Prêmio Nobel da Paz
em 2006 e uma espécie de guru do empreendedorismo social. Conhecido como
o banqueiro dos pobres, o economista bengalês esteve na cidade para o
lançamento do Yunus ESPM Social Business Centre, uma iniciativa
tocada em parceria com a tradicional faculdade com o objetivo de
fomentar negócios sociais no Brasil. Para tanto, o centro atuará sob
três pilares: cursos de capacitação, pesquisa e incubação de empresas.
“Queremos que essa iniciativa seja um modelo para toda a América Latina.
Vejo muitas possibilidades para resolver os problemas que estão a nossa
volta”, conta Yunus.
O bengalês é o criador do Grameen Bank, um banco especializado em
microcrédito. Fundado em 1976, o objetivo da instituição é acabar com a
pobreza do mundo. O projeto teve início quando Yunus emprestou 27
dólares para 42 mulheres comprarem matéria-prima e, assim,
confeccionarem seus artesanatos. O empréstimo foi pago e a experiência
deu origem ao negócio social. “As vezes nos vemos pequenos demais diante
de grandes problemas. Mas não importa o quão grande esses problemas
sejam. Tente colocá-los em nível individual. Se você conseguir ajudar a
uma pessoa, poderá replicar a solução em maior escala, atingindo
dezenas, centenas, milhares e milhões”, explica ele. “Foi assim que fiz.
Comecei a emprestar pequenas quantias de dinheiro em uma vila, de modo
que as pessoas pudessem escapar dos tubarões do empréstimo. Hoje temos 8
milhões de clientes no Grameen Bank, sendo que 97% deles são
vencedores, pois conseguem gerar renda e pagar seus empréstimos”,
orgulha-se.
Para Yunus, os problemas sociais são oportunidades. Segundo ele, toda
vez que procura resolver o problema de alguém, acaba criando um novo
negócio social. “Fizemos um hospital para operar cataratas. Hoje, com
capacidade para 10 mil intervenções por ano, cada operação custa apenas 1
dólar. Mesmo assim, o investimento se pagou em quatro anos”,
exemplifica.
A importância de se ter uma operação economicamente sustentável foi
bastante enfatizada pelo banqueiro. Ao contrário de iniciativas
filantrópicas, onde pessoas de posse colocam dinheiro sem que aquilo
necessariamente apresente algum retorno, um negócio social é um
investimento com retorno. Obviamente a empresa não deve ter como
principal foco a geração de dinheiro, mas sim a solução dos problemas
das pessoas. “Não queremos fazer dinheiro, mas, sim, fazer as coisas
acontecerem. Quero fazer negócios que sejam bons para os outros. Espero
que esse centro fomente muitas idéias com esse propósito”, enfatiza
Yunus, que completa: “Isso não quer dizer que o idealizador de um
negócio social deva passar fome. Não é assim. A iniciativa não deve
gerar dividendos financeiros, mas deve sim distribuir salários no mesmo
nível dos praticados no mercado.”
-------------------
Fonte: Mercado Ético
Nenhum comentário:
Postar um comentário