Entrevista com Bruno Forte
Diz o Apocalipse que Deus vomitará "os
mornos", porque não são nem "frios" nem "fervorosos". Mais ou menos a
mesma "acusação" formulada nessa quinta-feira pelo Papa Francisco, que pediu para se proteger contra os "cristãos de salão".
Bruno Forte, teólogo de prestígio, arcebispo de Chieti-Vasto, foi membro da Comissão Teológica Internacional.
Eis a entrevista.
Quem são cristãos de salão?
O papa o disse. São aqueles que não têm a coragem de incomodar. Que
vivem pela comodidade e pelos confortos, achatando-se sobre as lógicas
do poder e da conveniência, as lógicas próprias do mundo. São aqueles
que rejeitam o escândalo da vida cristã: a cruz de Cristo, Deus que se
faz servo do ser humano.
Uma advertência sobretudo para Roma e para a sua Cúria?
Uma advertência para toda a Igreja. Para que se volte à radicalidade
do Evangelho. Este não é o tempo de uma Igreja que busque na comodidade
dos salões a sua própria vantagem, uma Igreja que renuncie ao Espírito
em nome do poder ou da conveniência política.
A Igreja vive muito de carreirismo e de privilégios?
O papa pede que se abandone toda autorreferencialidade. Quem vive
referindo tudo a si mesmo não ama e, portanto, vive pela carreira, pelos
privilégios. Essa Igreja não é a Igreja de Jesus Cristo. O papa pede
que cada fiel e todo o povo de Deus saiam de si mesmos e abracem cada
periferia do mundo e também do coração, geográfica e espiritual.
Em suma, ele não quer uma Igreja tranquila?
Exato. Eu gostaria de citar aqui São Bernardo, que
diz que "é amarga a vida da Igreja quando é perseguida pelos tiranos;
ainda mais o é quando é dividida por causa dos hereges; mas atinge o seu
clímax quando está tranquila e em paz". Se a Igreja está tranquila
significa que algo está errado...
A chegada de Francisco mudou e está mudando muitas coisas.
A sua chegada pede uma renovação certamente também interna. É o tempo
da Igreja dos pobres, da Igreja que saiba servir a todas as pessoas,
começando pelos últimos. Se as prioridades são outras, a Igreja não é
fiel à sua vocação e missão.
O papa pediu ao seu lado oito cardeais de diversos
continentes. Uma reviravolta também aqui, para que se conduza a Igreja
mais colegialmente e ouvindo a todos?
A convocação do conselho dos cardeais responde à lógica da Igreja
unida na fé, capazes de manter presente e valorizar toda diversidade na
comunhão colegial dos bispos ao redor do bispo de Roma e com a sua
orientação. Verdadeiramente una e católica.
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A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 17-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 20/05/2013
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