Afegão Khaled Hosseini, autor do sucesso “O Caçador de Pipas”, lança novo romance
Best-seller
planetário com seu O Caçador de Pipas, gerando inclusive o que na época
foi uma grande “onda afegã” nas prateleiras, o médico e escritor Khaled
Hosseini está lançando seu terceiro romance.
Menos linear do que os anteriores e composto por uma intrincada estrutura de saltos cronológicos, O Silêncio das Montanhas parece o livro que Hosseini resolveu escrever para provar-se um escritor com mais recursos do que a habilidade de contar histórias.
O Silêncio das Montanhas começa com a narração de uma história folclórica em que um Dev, monstro mitológico afegão, força uma dolorosa separação familiar. Esse será, com variações, o refrão que se repetirá ao longo do livro, orquestrado em nove capítulos que vão e vêm no tempo, de 1952 a 2012, e em que várias e trágicas separações familiares serão ditadas por entidades menos sobrenaturais mas não menos poderosas: o inverno rigoroso, a culpa, a guerra, o Talibã, a fraqueza humana. No início e no fim de uma trama que alterna narradores e pontos de vista, está a tragédia familiar de dois irmãos, o jovem Abdullah e sua irmã Pari (“fada”, em persa), vendida pelo pai na infância a um casal rico e sem filhos.
Já em sua estreia, o sucesso O Caçador de Pipas (2002), Hosseini provava ser um novelista interessante, mas punha o livro a perder por ser um romancista desastrado. O Caçador... era claramente segmentado em três histórias – duas delas boas – cujos pontos de união eram de uma incômoda inverossimilhança melodramática. Em O Silêncio das Montanhas, Hosseini sai-se melhor em boa parte do texto – favorecido pela estrutura fragmentada que transforma o romance em contos passados em diferentes circunstâncias de tempo e espaço mas interligados pelo retorno eventual de personagens mostrados em capítulos anteriores.
A estrutura é similar à que a americana Jennifer Egan utilizou em seu recente (e elogiado) A Visita Cruel do Tempo, mas a comparação desnuda algumas fraquezas técnicas da obra de Hosseini: o uso de golpes baixos melodramáticos, uma prosa pausterizada que abdica da tensão em favor do sentimentalismo e personagens clichês como a artista volúvel e torturada (neste livro há duas) ou descrições recorrentes de imagética batida (mais de um personagem tem o nariz adunco comparado a um bico de pássaro, por exemplo).
Mas Hosseini é um autor com leitores. E, para estes, sua assinatura deve bastar, ainda que na capa de um livro tão apegado ao melodrama que por vezes derrapa no excesso de açúcar.
Menos linear do que os anteriores e composto por uma intrincada estrutura de saltos cronológicos, O Silêncio das Montanhas parece o livro que Hosseini resolveu escrever para provar-se um escritor com mais recursos do que a habilidade de contar histórias.
O Silêncio das Montanhas começa com a narração de uma história folclórica em que um Dev, monstro mitológico afegão, força uma dolorosa separação familiar. Esse será, com variações, o refrão que se repetirá ao longo do livro, orquestrado em nove capítulos que vão e vêm no tempo, de 1952 a 2012, e em que várias e trágicas separações familiares serão ditadas por entidades menos sobrenaturais mas não menos poderosas: o inverno rigoroso, a culpa, a guerra, o Talibã, a fraqueza humana. No início e no fim de uma trama que alterna narradores e pontos de vista, está a tragédia familiar de dois irmãos, o jovem Abdullah e sua irmã Pari (“fada”, em persa), vendida pelo pai na infância a um casal rico e sem filhos.
Já em sua estreia, o sucesso O Caçador de Pipas (2002), Hosseini provava ser um novelista interessante, mas punha o livro a perder por ser um romancista desastrado. O Caçador... era claramente segmentado em três histórias – duas delas boas – cujos pontos de união eram de uma incômoda inverossimilhança melodramática. Em O Silêncio das Montanhas, Hosseini sai-se melhor em boa parte do texto – favorecido pela estrutura fragmentada que transforma o romance em contos passados em diferentes circunstâncias de tempo e espaço mas interligados pelo retorno eventual de personagens mostrados em capítulos anteriores.
A estrutura é similar à que a americana Jennifer Egan utilizou em seu recente (e elogiado) A Visita Cruel do Tempo, mas a comparação desnuda algumas fraquezas técnicas da obra de Hosseini: o uso de golpes baixos melodramáticos, uma prosa pausterizada que abdica da tensão em favor do sentimentalismo e personagens clichês como a artista volúvel e torturada (neste livro há duas) ou descrições recorrentes de imagética batida (mais de um personagem tem o nariz adunco comparado a um bico de pássaro, por exemplo).
Mas Hosseini é um autor com leitores. E, para estes, sua assinatura deve bastar, ainda que na capa de um livro tão apegado ao melodrama que por vezes derrapa no excesso de açúcar.
Trecho:
Seus
dias em Shadbag estavam contados, como os de Shuja. Agora ele sabia
disso. Não havia mais nada para ele aqui. Não havia mais um lar. Ia
esperar até o inverno passar, até o degelo da primavera, levantaria numa
manhã antes do amanhecer e sairia pela porta. Escolheria uma direção e
começaria a andar. Continuaria andando até estar o mais longe possível
de Shadbag, para onde o levassem seus pés. E se um dia, caminhando por
um vasto campo aberto, se sentisse tomado pelo desespero, iria parar de
andar, fechar os olhos e pensar na pena de falcão que Pari achara no
deserto (...). Teria uma sensação de assombro e de esperança também, que
tais coisas acontecessem. E mesmo sem se deixar enganar por essa
sensação, reuniria suas forças, abriria os olhos e continuaria andando.
Reportagem por CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Fonte: ZH on line, 29/05/2013
Imagem da Internet
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