sábado, 25 de maio de 2013

Os amores de Isabel

 
Escritora de grandes romances, a chilena Isabel Allende, 71 anos, surpreende em seu livro mais recente, lançado no país pela Editora Bertrand Brasil. No lugar dos narradores inventivos, como Eva Luna, a poderosa contadora de histórias, ou as múltiplas vozes que relatam a saga de uma família em A Casa dos Espíritos, Isabel preferiu assumir-se como a própria persona que fala ao longo do livro. A textos selecionados por ela própria, retirados de suas obras anteriores, a escritora une um relato bastante pessoal sobre a sua vida, o relacionamento com o marido, a velhice, a literatura e o tempo.

Assim é Amor, uma antologia que reúne as melhores cenas amorosas produzidas pela escritora em seus romances e contos. Na introdução, Isabel se expõe, fazendo um desabafo honesto e emocionante sobre pontos importantes de sua vida, como a infância, a adolescência e o papel da sexualidade nestes períodos. Um dos momentos marcantes do texto é quando Isabel, aos 33 anos, admite ter descoberto a sexualidade.

No livro, ela reitera um tema recorrente: a importância da escrita como instrumento libertador, capaz de fazê-la viver todas as aventuras que, na vida cotidiana e real, seriam impossíveis. Ainda nesta introdução autobiográfica, a autora aborda temas como a infidelidade, a vida que 

Leia trechos da obra

 

“Neste momento das nossas vidas, Willie e eu estamos num desses umbrais, o da maturidade, quando quase tudo se deteriora: o corpo, a capacidade mental, a energia e a sexualidade. Que diabo nos aconteceu? Isso não nos ocorreu paulatinamente, nos veio em cima de repente, como um tsunami. Certa manhã nos vimos despidos no espelho grande do banheiro e ambos nos sobressaltamos. Quem eram aqueles velhinhos intrusos em nosso banheiro?”

“Em minha idade respeitável, na qual me dão desconto no cinema e no ônibus, tenho o mesmo interesse de sempre pelo erotismo. Minha mãe, que completou noventa, diz que isso nunca acaba, mas é melhor não espalhar, porque o resultado é chocante: supõe-se que os velhos são assexuados, como as amebas. Imagino que se estivesse sozinha não pensaria muito nisso, como é o caso de muitas das minhas amigas, mas, já que conto com Willie, pretendo envelhecer saborosamente. Por dentro Willie não mudou, continua sendo o mesmo homem forte e bom por quem me apaixonei, por isso estou empenhada em manter acesa a paixão, embora já não seja o fogo de uma tocha, mas a chama discreta de um fósforo. Outros casais da nossa idade exaltam os méritos da ternura e do companheirismo, que substituem o alvoroço da paixão, mas já avisei a Willie que não pretendo substituir a sensualidade por aquilo que já tenho com a minha cachorrinha. Ainda não...”
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Fonte: ZH on line, 26/05/2013

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