Peter Catapano*
Nos bons e nos maus momentos,
o mundo adora os otimistas.
A pessoa irrepreensivelmente positiva e divertida de conviver é
bem-vinda em quase todo lugar. Já os pessimistas costumam ser rejeitados
-no escritório, na sala de aula (embora caiam bem num seminário sobre
Nietzsche) e em casa. Com seus alertas e previsões sombrias, são
particularmente malvistos no "happy hour".
Recentes descobertas científicas apontam os benefícios do otimismo para a
saúde. Após pesquisadores de Harvard analisarem 200 estudos que
monitoraram os riscos cardiovasculares e os estados emocionais, foi
concluído, segundo o "New York Times", "que traços como otimismo e
esperança, assim como níveis maiores de felicidade e de satisfação com a
vida, estão relacionados à redução do risco de doenças cardíacas e
acidentes vasculares cerebrais". Outros dados sugerem que os otimistas
tendem a viver mais, a lidar melhor com doenças e até a prosperar mais
financeiramente.
Mas a propensão a ver o lado positivo, creem alguns, pode ser equivocada ou até letal.
Haider Javed Warraich, residente em medicina interna no Centro Médico
Beth Israel Deaconess, em Boston, tratou uma paciente cardíaca que
morreu depois de ele autorizar um arriscado procedimento para aliviar
seus sintomas. "Passei a acreditar que fui vítima de um otimismo
irracional, uma condição que atinge médicos e pacientes de forma
desenfreada, particularmente nos cuidados do final da vida", escreveu
ele no "Times".
Um estudo da revista médica britânica "BMJ" mostrou que cerca de dois
terços dos médicos superestimam a sobrevida de pacientes terminais. Esse
otimismo, escreveu ele, "leva os médicos a avalizarem tratamentos que
provavelmente não irão salvar a vida dos pacientes, mas que podem lhes
causar sofrimento desnecessário e empurrar suas famílias um pouco mais
na direção da bancarrota médica".
Na política, o otimismo é considerado indispensável à saúde das nações.
Nos EUA e na Europa, onde crises financeiras abalaram a fé de muitos,
louvores ao pensamento positivo se tornaram parte do discurso nacional.
O governo espanhol lançou uma campanha para melhorar a imagem do país.
Em uma escala menor, alunos da Universidade Camilo José Cela, em Madri,
estão produzindo um boletim chamado "Buenas Noticias", informou o
"Times". Maripé Menéndez, diretora de comunicações da universidade,
disse que o objetivo é animar os jornalistas e os leitores -por
enquanto, não há dados mostrando se a estratégia funcionou.
Há quem veja aspectos mais negativos no otimismo. Em artigo no "Times", o
filósofo britânico Roger Scruton observou que "podemos atribuir os
principais desastres da política do século 20 às doutrinas
impecavelmente otimistas de Marx, Lênin, Mao e muitos outros para quem o
progresso era a tendência inevitável da história".
Essas lições, escreveu Scruton, parecem ter servido de pouca coisa. Ele
cita os resultados da "chamada Primavera Árabe", incluindo a ascensão de
governos islâmicos na Tunísia e no Egito, a guerra civil e a destruição
na Síria, a morte do embaixador americano na Líbia e a perseguição a
cristãos na região, entre outros fatos.
"Um pouco de reflexão sobre as forças que iriam ser inevitavelmente
desencadeadas pelo colapso das autocracias árabes teria levado as
potências ocidentais a serem um pouco mais cautelosas ao dar aval às
mudanças", escreveu Scruton. "Mas, em emergências repentinas, o otimismo
domina."
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* The New York Times.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/109710-perigos-do-otimismo.shtml
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