Juremir Machado da Silva*
Um prêmio Nobel incomoda muita gente.
Dois Nobel incomodam muito mais.
Três Nobel incomodam, incomodam, incomodam…
Aí não tem preço.
Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Amartya Sen têm muitas diferenças e
dois pontos interessantes e divertidos em comum: ganharam o prêmio Nobel
de economia e vivem surrando neoliberais desavisados e redundantes.
Colunista do New York Times, reproduzido no Brasil pela Folha de S.
Paulo e pelo Estado de S. Paulo, toda semana Paul Krugman dá uma
bofetada na cara dos perfeitos e repetitivos idiotas neoliberais
latino-americanos.
Contra os clichês liberais, repetidos como mantras esotéricos, ele
escreveu: “Como as coisas deram tão errado? A resposta que você ouve o
tempo todo é que a crise do euro foi causada por irresponsabilidade
fiscal. Ligue sua TV e você provavelmente encontrará algum especialista
declarando que se os Estados Unidos não cortarem gastos, nós acabaremos
como a Grécia”.
A bofetada desferida por ele continua ecoando. A crise não resultou
de excesso de gastos: “Mas a verdade é quase o oposto. Apesar dos
líderes europeus continuarem insistindo que o problema é o gasto
excessivo nos países devedores, o problema real é gastos insuficientes
na Europa como um todo. E seus esforços para consertar as coisas,
exigindo austeridade cada vez mais dura, têm exercido um grande papel no
agravamento da situação”.
O buraco, mostra Krugman em outro artigo, é maior e privado: “A
propósito, grande parte dos empréstimos foi concedida ao setor privado,
não para governos. Apenas a Grécia apresentava grandes déficits
orçamentários durante os anos bons; a Espanha na verdade apresentava
superávit às vésperas da crise. Então a bolha estourou. Os gastos
privados nos países devedores caíram acentuadamente. E a pergunta que os
líderes europeus deveriam ter feito era como impedir que esses cortes
de gastos causassem uma recessão por toda a Europa. Em vez disso, eles
responderam aos inevitáveis aumentos de déficit, causados pela recessão,
exigindo que todos os governos – e não apenas os dos países devedores–
cortassem gastos e aumentassem impostos. Os alertas de que isso
aprofundaria a recessão foram rebatidos. “
Repito o que já escrevi aqui: como é que deram um Nobel de economia
para um ignorante desses? Como é que não deram o Nobel para os
articulistas brasileiros e estrangeiros que só falam em cortar gastos?
Krugman não perdoa: “A combinação de austeridade para todos e uma
obsessão mórbida do banco central com a inflação impossibilita que os
países devedores escapem da armadilha da dívida, o que é uma receita
para vários calotes de dívida, corridas aos bancos e colapso financeiro
geral. Eu espero, para nosso bem assim como para o deles, que os
europeus mudem de curso antes que seja tarde demais. Mas, para ser
honesto, eu não acredito que mudarão. Na verdade, é muito mais provável
nós os seguirmos na trilha para a ruína”.
Provoca com a segurança de quem sabe estar batendo em quem merece:
“Assim, da próxima vez que você ouvir alguém dizendo que se não
cortarmos gastos nós nos transformaremos na Grécia, sua resposta deve
ser a de que se cortarmos gastos enquanto a economia ainda está em
depressão, nós nos transformaremos na Europa. De fato, nós já estamos a
caminho”.
É como eu sempre digo sabiamente, para falar isso o cara só pode nada
entender de economia. Um néscio. Por que não lhe tomam o Nobel?
Ele não está sozinho. Outro ignorante em economia, também ganhador do
Nobel, Joseph Stiglitz, disse assim: “O pensamento da direita sobre a
economia de mercado – provou-se agora – está errado”. Mais: “Não há
dúvida sobre isso. A direita dizia que os mercados se regulariam por si,
se ajustariam por si, que se houvesse algum problema os mercados
arranjariam-se por si e muito rapidamente”. Stiglitz entende que ainda
existem esquerda e direita. Que atraso! Como não sabe que as ideologias
acabaram? Por que não vem fazer um curso no Brasil com os economistas da
revista Veja? Segundo ele, a crise de 2008 “fragilizou todas as
teorias da direita”.
A crise, sustenta, não foi causada por excesso de gastos
governamentais: “Foram estruturas de incentivos ruins que levaram a esse
pensamento de curto prazo. Havia problemas de governança corporativa.
Havia bancos grandes demais. Havia incentivos para a tomada de risco
porque os contribuintes pagariam a conta das eventuais perdas”.
Outro Nobel, outro ignorante, outro néscio, Amartya Sen, contesta a
política de austeridade como solução para a crise: “Os cortes de gastos,
se necessários, precisam ser seletivos. A Europa estaria em uma
situação bem mais confortável, neste momento, se perseguisse políticas
que estimulassem o crescimento em vez de concentrar seus esforços na
austeridade. Nenhum país foi capaz, em toda a história, de reduzir a sua
dívida pública em um contexto de ausência de crescimento econômico,
como tentam fazer hoje alguns países europeus”.
Insiste: “Não faz sentido essa ideia de primeiro reduzir o
endividamento para em seguida ver a economia avançar. Como resultado, a
crise europeia é bem mais severa do que deveria ser”.
Ousa: “Mas, como disse anteriormente, a busca pelo crescimento não
deve ser um fim em si mesmo, e sim uma maneira de aprimorar indicadores
sociais, como saúde e educação – e também para reduzir o endividamento
público, se preciso”.
Esmurra o pensamento da Veja nas páginas da Veja:
“– Alguns analistas enxergam no custo elevado do estado de bem-estar
social o maior obstáculo à recuperação europeia. Qual a sua avaliação?
– Discordo. A gigantesca crise financeira de 2008 teve início com
falhas no funcionamento dos mercados financeiros. Mas, quando os
governos gastaram bilhões para socorrer os mercados, os países acabaram
acumulando dívidas colossais. Com exceção da Grécia, talvez, a culpa
pela crise não pode ser debitada aos governos. As políticas sociais
apenas se tornam um peso para o Estado quando a economia permanece
estagnada, porque aí não há os recursos necessários para financiar a
assistência.”
Três Nobel de economia.
Três ignorantes.
Como é delicioso citá-los!
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* Juremir Machado da Silva, nascido em 29 de janeiro de 1962, em Santana
do Livramento, graduou-se em História (bacharelado e licenciatura) e em
Jornalismo pela PUCRS, onde também fez Especialização em Estilos
Jornalísticos. Passou pela Faculdade de Direito da UFRGS, onde também
chegou a cursar os créditos do mestrado em Antropologia. Obteve o
Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na
Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. Como
jornalista, foi correspodente internacional de Zero Hora em Paris,
trabalhou na IstoÉ e colaborou com a Folha de S. Paulo. Atua como
colunista do Correio do Povo desde o ano 2000. Tem 27 livros individuais
publicados, entre os quais Getúlio, 1930, águas da revolução, Solo,
Vozes da Legalidade e História regional da infâmia, o destino dos negros
farrapos e outras iniquidades brasileiras. Coordena o Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Apresenta diariamente, ao lado de
Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, das 13 às 14 horas, na Rádio
Guaíba.
Fonte: Jornal Correio do Povo on line, 28/05/2013
Imagem da Internet
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