Vivian Blaso*
Segundo
recente pesquisa divulgada pelo AKATU 2012 a maioria dos entrevistados
afirma que a felicidade estaria atrelada à saúde e à boa alimentação.
Mas, parece que algumas marcas ainda não perceberam isso, pois vemos
que, para eles, a felicidade não tem nada a ver com a saúde e nem com a
boa alimentação.
A Kibon, por exemplo, por meio do Facebook, apresenta a sua “Receita
para felicidade” ou pede para os internautas compartilhar a Felicidade,
acredita os consumidores mais felizes são queles que compartilham mais
porque consomem mais de seus produtos. Ao seu lado, numa releitura do
valor calórico dos refrigerantes, a felicidade da Coca Cola está
embutida numa lata ou garrafa, como mostra a campanha “Abra a
Felicidade”, que traz a promessa do consumo da felicidade por meio do
consumo do refrigerante.
Nestes dois casos – poderiam ser outras marcas e outros produtos
quaisquer, mas escolhi estas por estarem no auge das visibilidade de
suas campanhas publicitárias – não estamos falando exatamente de
alimentos ligados à saúde e à boa alimentação, como indicaram os
consumidores brasileiros na pesquisa Akatu, que trariam felicidade
Pelo contrário, a leitura das campanhas publicitárias nos mostra que o
que interessa é consumir tais produtos para sermos felizes. E aqui é
que está o grande paradoxo da sociedade contemporânea que deseja a saúde
o bem estar, mas que é incentivada a comprar produtos que não são
benéficos a saúde e qualidade de vida, principalmente na atual epidemia
de obesidade pela qual o mundo passa.
AS ORIGENS DO CONSUMISMO
Foi a partir da década de 90 que o consumismo passou a ser o alvo dos
documentos elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma
das raízes da crise ambiental em que vivemos.
Zigumum Bauman define o “consumismo” como um tipo de arranjo social
resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos
rotineiros, que impulsiona e coordena a estratificação social, definindo
grupos e políticas de vida individuais, e assim, o consumismo é a
principal força propulsora e operativa da sociedade, um atributo. Dessa
maneira, o autor já apontava a sociedade consumidora como a aquela que
desvaloriza a durabilidade, igualando “velho” a “defasado”, impróprio
para continuar sendo utilizado e destinado à lata de lixo.
Ao discutir o bem estar, a pesquisa do AKATU, aponta uma questão em
jogo na sociedade de consumidores seria: como desacoplar a relação de
consumo a felicidade uma vez que a felicidade vem sendo trazida como
tema do discurso publicitário?
É este o discurso que vem sendo alvo dos documentos da ONU sob o
chapéu “Rumo a Sociedade de Bem Estar”. A aposta estaria sendo colocada
na sustentabilidade como promessa da melhoria da qualidade de vida das
pessoas no planeta.
Mas quando se introduz a sustentabilidade, surge uma contradição
entre o que é necessário e o que se coloca em prática, tanto do ponto de
vista das empresas como do ponto de vista do consumo.
No fundo sabemos que tais produtos, como o refrigerante ou sorvete,
além de não resolverem a questão da felicidade, são altamente
processados e, no geral, não são considerados benéficos à saúde. A
própria natureza dos produtos já estaria em completo descompasso com a
proposta de felicidade se os consumíssemos na frequência e velocidade
que necessitaríamos para mantermo-nos felizes.
CLASSE C
Para complicar ainda mais o debate, um outro ponto relevante a ser
colocado em discussão a partir da pesquisa do AKATU3 seria a preferência
da Classe C ao optar pelo caminho do consumo – de todos os tipos de
pordutos e serviços – em detrimento ao caminho sustentável, pois há uma
crescente massificação do consumo no Brasil.
Isso traz consequências imediatas ao comprometimento das melhorias
das condições de vida das pessoas nas cidades uma vez que o resultado
direto do consumo é o aumento na produção de resíduos; na intensidade do
consumo energético e, consequentemente, uma significativa majoração nas
emissões dos gases causadores do efeito estufa. Isso tudo, sem contar
nos impactos diretos à saúde das pessoas ao consumirem mais alimentos
processados como, no caso, sorvetes ou refrigerantes, em excesso.
O filósofo francês Serge Latouche, aponta que será preciso combater o
“desenvolvimento sustentável”, ele acredita no “futuro sustentável da
vida” e para isso será necessário reavaliar, reconceituar, reestruturar,
realocar, redistribuir, reduzir, reutilizar e reciclar.
Para ele, a via mestra para tal feito seria a felicidade e
consequentemente o decrescimento, porque, se somos felizes, seremos
menos suscetíveis à propaganda e à compulsividade do desejo. Essas
opções implicam uma mudança de atitudes com relação à natureza, buscando
a condição necessária para evitar um destino de obsolescência
programada da humanidade.
Portanto, devemos nos perguntar: Se estamos condicionados em uma
sociedade de consumo, como reinventar processos, inovar arriscando os
métodos tradicionais de produção, para nos aventurarmos em novos métodos
que sugerem produções mais limpas?
É aí que surge a inovação: será que para ser feliz precisamos cultuar
a cultura do “ter”, justamente a cultura que nos coloca no centro de
tudo?
No fundo, estas indagações trazem reflexões sobre os valores, a
ética, a responsabilidade social, ambiental e comportamental. É um
resgate da moral. Entretanto, será necessário se permitir sair da fôrma,
para inovar e criar novos mecanismos de sobrevivência, sem
necessariamente precisar do “ter” para ser feliz.
E, ao falar em Ética, exige-se uma reflexão, ou religação, como diz
Edgar Morin, entre o indivíduo, a espécie e a sociedade. E, para que
essa religação ocorra, é necessário o autoconhecimento.
A dominação dos objetos materiais, o controle das energias e a
manipulação dos seres vivos foram importantes para o avanço da
humanidade, mas se tornou míope para captar as realidades humanas,
convertendo-se numa ameaça para o futuro humano. Por isso, se faz
necessário “Hominescer”, como aponta Michel Serres6, que aposta na
inventividade do homem para poder construir uma nova humanidade capaz de
religar cultura, ciência e filosofia.
Na perspectiva da complexidade apontada por Serres e Morin, podemos
considerar a dificuldade de encontrar mecanismos capazes de unir o que
está separado, separar o que está junto, uma vez que esse processo
também vem ocorrendo nas escaladas de produção e consumo, que são
tratados de maneira separadas, e, para religá-las, será necessário
reconectar o individuo, a espécie e a sociedade, não separando a ciência
da técnica, e nem a natureza da cultura. Será necessário, sobretudo
reestabelecer a Ética. E isto se faz por meio de diálogo entre todos sem
fazer caças as bruxas já que o processo e mudança requer a complexidade
em si.
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* Profa. Vivian A. Blaso S. S.
Cesar é Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais, Especialista em
Marketing e Sustentabilidade, Presidente da Organização do #Ciis2013.
Ela estará no painel Comunicação, Cultura e Tecnologias que ocorrerá no
segundo dia do Congresso (30/8). Veja a programa completa aqui www.ciis.com.br.
(Consumidor Moderno Consciente)
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-consumo-que-nos-faz-feliz-uma-reflexao-sobre-etica-e-complexidade/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje
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