Um dos principais integrantes do governo chegou animado à segunda
reunião do ministério de Dilma Rousseff. Era janeiro de 2012. O primeiro
ano de mandato da primeira mulher a ocupar a Presidência da República
decididamente não fora bom. Em maio, Dilma contraiu uma pneumonia e
ficou mais tempo que o esperado em recuperação. A doença a abateu. Dois
anos antes a presidente se submetera a um intensivo tratamento de um
câncer linfático. Em junho, demitiu Antonio Palocci, ministro que
deveria ser uma espécie de eminência parda na Casa Civil, dando início a
uma sequência de outras seis demissões no ministério, no que ficou
conhecido como "faxina ética". Para piorar as coisas, em 2011 o país
teve um crescimento pífio, de 2,7% do PIB.
O auxiliar de Dilma matutava sobre essas coisas quando a presidente
começou a falar. Aquela era a hora de deslanchar - pensou ele, ainda
animado. As principais gavetas da República estavam abarrotadas de
projetos para a área de infraestrutura, como as concessões de
aeroportos, rodovias, portos e ferrovias. Mas, à medida que a
"presidenta" falava ele foi "afundando na cadeira". Dilma disse que
governaria "como uma prefeita" e anunciou a criação de um sistema de
monitoramento de todos os programas do governo federal. Falara a
"gerentona" da Casa Civil - a que gosta de mandar. Faltara o líder,
aquele que convence e estabelece as grandes metas, como os "50 anos em
5" de Juscelino Kubitschek.
Em vez de deslanchar, como esperava o auxiliar e amigo de Dilma, 2012
foi o ano do "pibinho" - 0,9%. E a presidente começou a ser questionada
como "gestora". Até o venerável "Financial Times", em editorial desta
semana, chamou a atenção para o estilo centralizador e "mandão" da
presidente. Na realidade, segundo apurou o Valor, a
formatação celular, ao lado do estilo centralizador da presidente, é um
dos motivos que travam governo, deixando-o vagaroso e pesado. Dois
ministros ouvidos pelo jornal disseram que o governo é dividido em
"células", no modelo da guerrilha, por razões de segurança. As
informações são compartimentadas e muitas vezes uma célula não sabe o
que a outra está fazendo.
O estilo "mandão" de Dilma era conhecido desde que se tornou
ministra das Minas e Energia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outros traços marcantes apareceram ou se tornaram mais visíveis quando
chegou à Presidência. "Eu sou a presidenta, eu posso", passou a ser
frase rotineira em conversas com assessores próximos. Alguns pensavam,
mas não diziam: "Pode, mas será que deve?".
Nos últimos dias, o Valor procurou 18 importantes
empresários e altos executivos de grandes corporações do país. Dez
concordaram em avaliar a presidente como gestora, oito sob a condição de
anonimato. Administradora eficiente e perfil de liderança são
qualidades que a colocariam no radar de "headhunters" para importantes
cargos de comando em grandes corporações. Mas esses requisitos não são
suficientes para bancá-la como uma grande gestora, como foi alardeado
pelo PT. A competência da presidente não é colocada em dúvida, mas a de
sua equipe sofreu um verdadeiro bombardeio dos empresários e altos
executivos.
"Ela está cercada de pessoas medíocres, que não a questionam. Todo
mundo morre de medo dela. Ela não tem humildade para escutar os outros.
Não dá para ter 39 ministérios, 39 subordinados. Em uma empresa, esse
modelo não funcionaria", disse um alto executivo de um banco de
investimento. A imagem de pessoas centralizadoras hoje está muito
associada a empresas de donos, fundadores de grandes grupos de primeira
geração. "Fui muito centralizador, mas esse modelo não funciona mais.
Tem que delegar e ouvir mais", disse um grande empresário do setor de
infraestrutura e energia.
"Assim como uma grande empresa, seria interessante terceirizar
funções e estabelecer metas para o alto escalão, cobrar resultados",
disse Theo Van der Loo, presidente da Bayer no Brasil. Para Luiza Helena
Trajano, presidente da Magazine Luiza, a presidente Dilma "possui um
perfil técnico de gestão, administrando essa complexa máquina do governo
em busca de resultados como uma empresa". Segundo a empresária, Dilma
tem desafios como reformas necessárias ao país, organização de alianças,
inflação, crise internacional e o de avançar no crescimento continuando
com a distribuição de renda. "O modelo da máquina governamental emperra
muitas das tentativas de administração mais ágil", disse.
Lula, na visão de um empresário da agroindústria, não era considerado
um bom gestor, mas se cercou de pessoas competentes. "Ela não é cria
política. Foi colocada pelo PT. É como se um empresário colocasse o
filho na presidência. É como se ela tivesse pulado a fila".
"Uma pessoa que não delega, como é o caso dela, não faz os processos
andarem. Isso não estimula equipes. Em uma empresa, por exemplo, esse
modelo não permite o crescimento de pessoas. Já existe uma preocupação
política para 2014. Se ela for reeleita no primeiro turno, vai exacerbar
esse lado dela [autoritário]", afirmou um alto executivo de uma grande
construtora. Sem a obrigação de buscar a reeleição, Dilma "vai tocar o
terror", concorda um ministro.
Dilma parece ter ouvido as queixas dos empresários e abriu mais sua
agenda. A bem da verdade, diga-se que Lula, quando os dois se
encontraram em Paris, no fim do ano passado, sugeriu que a presidente
conversasse mais com o setor privado. No início de 2012, ela havia
pedido que investissem no país. Dilma convocara o encontro para "ouvir"
os empresários. Falou cerca de 30 minutos, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, outro tanto e depois deu três minutos para cada empresário
expor seu ponto de vista. Em um dos encontros, o único empresário a
fugir das obviedades foi Joesley Batista, da JBF: "Estão dizendo que o
problema todo é aqui em Brasília, que o governo não decide nada".
"Não dá para ter 39 ministérios, 39 subordinados.
Em uma empresa, esse modelo não funcionaria",
diz um empresário
Em pouco mais de cem dias de 2013, Dilma esteve mais com empresários
que nos dois primeiros seis meses de seus dois anos de: Foram 36
audiências públicas e participação em eventos, segundo a sua agenda
pública. Em seis meses do ano passado foram apenas sete. Dilma abriu
mais sua agenda não só a empresários, mas também a políticos e
ministros. Isso foi logo associado à ideia da reeleição. Para o Palácio
do Planalto, nada mais natural: o governo ficara virtualmente
paralisado, entre julho e dezembro do ano passado, enquanto discutia as
concessões de aeroportos, rodovias, energia elétrica, portos e
ferrovias. Havia dias em que as reuniões demoravam até oito horas
seguidas. Mas auxiliares de Dilma reconhecem que a centralização na Casa
Civil não torna "mais ágil" o governo.
A demora para decidir a que se referiu Joesley Batista é outro
aspecto que ministros e empresários criticam em Dilma. Até hoje, por
exemplo, ela não indicou um ministro para a vaga de Carlos Ayres Britto
no STF. Ele se aposentou em novembro do ano passado. Ela já havia
demorado quase três meses para indicar a ministra Rosa Weber. Não se
pode dizer que a demora é regra para a escolha de ministros do Supremo:
em apenas 18 dias ela indicou o ministro Teori Zavascki para a vaga
aberta com a aposentadoria, no fim de agosto - em pleno julgamento do
mensalão - do ministro Cezar Peluso. A mesma coisa ocorre em relação às
agências reguladoras - Dilma levou quase um ano para nomear o substituto
do atual governador de Brasília, Agnelo Queiroz, para a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Dilma reafirmou sua autoridade presidencial logo no primeiro ano de
governo. Herdara 15 ministros do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
No governo anterior, eram todos colegas. Agora, precisava dar uma
demonstração de que os tempos do governo Lula haviam passado, ela era a
presidente e os ministros, seus subordinados. Hoje, a escolha parece
óbvia: Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e
ministro da Defesa, era o candidato ideal.
Jobim já não era mais o colega que articulava com Guido Mantega, à
época ministro do Planejamento, contra o poderoso ministro da Fazenda
Antônio Palocci, mas agia como tal. E Dilma precisava deixar claro de
uma vez por todas o "agora quem manda sou eu". É verdade que o estilo do
ministro - muito parecido com o de Dilma - ajudou bastante a
presidente. Em duas entrevistas em sequência, como se estivesse testando
a autoridade de Dilma, o ministro declarou que votara em José Serra
(PSDB) para presidente, que a ministra Ideli Salvatti era "muito
fraquinha" e que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sequer conhecia
Brasília.
"Você volte a Brasília que eu preciso falar com você", foi o recado
curto que ele recebeu de Dilma quando se encontrava em Tabatinga (AM),
na fronteira do Brasil com a Colômbia. O vice-presidente Michel Temer,
que o acompanhava, completaria a agenda programada e depois deu carona
de volta ao pessoal de Jobim que ficara em Tabatinga. O ministro
escreveu a carta de demissão a bordo do avião da FAB, enquanto voltava
para a cidade que Gleisi mal conhecia.
A demissão do ministro da Defesa não deixou de ser simbólica:
demonstrou o gosto da presidente pelo exercício da autoridade. Outros
traços de Dilma já eram conhecidos, como o centralismo, o detalhismo -
quer saber tudo sobre todos os projetos - e a capacidade de deixar
interlocutores ruborizados. Um deles diz que a "presidenta" - Dilma
exige ser chamada assim - é bem informada, tem acesso a muita informação
de governo e interesse pessoal de "estar por dentro". Lê muito. Dos
jornais aos projetos de governo que leva para o Palácio da Alvorada. A
receita para o ministro agendado para uma audiência, portanto, é saber
do que ela já está informada e falar só o que a presidente precisa
saber.
Não é incomum Dilma interromper o interlocutor com frases do tipo
"não quero falar disso" ou com perguntas sobre uma minúcia qualquer do
funcionamento do ministério que o ministro evidentemente desconhece. Os
empresários estão certos quando dizem que Dilma causa pavor aos
auxiliares, inclusive ministros. Na realidade, alguns preferem enviar
seus secretários-executivos para os despachos. É certo que Dilma às
vezes até gosta, pois trata-se de alguém que ela mesma pôs no posto -
oficialmente, para ter uma visão alternativa da pasta; na prática, um
atento vigia dos atos do ministro e, às vezes, do próprio ministro.
Garibaldi Alves (Previdência Social), de início se queixava de não ter o
que fazer - tudo era tocado e formulado pelo secretário Carlos Bargas.
Com o tempo, Garibaldi, ex-presidente do Congresso, se acostumou e parou
de se queixar ao PMDB.
Prova do prestígio de certos secretários-executivos: com seu
relacionamento desgastado com o secretário Alessandro Teixeira, o
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel,
amigo de guerrilha da presidente, queixou-se de que a convivência entre
os dois tornara-se insustentável e o melhor seria a saída de Teixeira.
Dilma concordou, mas parece não ter sido clara o suficiente, para
Pimentel, que desejava encontrar antes um outro lugar para o secretário.
Apressado, Pimentel assinou a exoneração e enviou o documento para a
seção que trata de pessoal no Palácio do Planalto. Avisada, Dilma
desautorizou publicamente o ministro e mandou devolver o ofício.
Alessandro saiu. Mas quando Dilma quis.
O Valor apurou que o ministro José Eduardo Cardozo,
por mais de uma vez, levou um projeto de um secretário do Ministério da
Justiça para apresentar à presidente. E sempre voltou ao ministério com a
mesma resposta a seu auxiliar: não falara do projeto com a presidente
porque Dilma não dera abertura na conversa. Então, havia tratado
especificamente do assunto pautado na agenda.
Cardozo, ex-deputado e um dos "três porquinhos" do comitê eleitoral
de Dilma (os outros dois eram os também gordinhos José Eduardo Dutra e
Antonio Palocci), ainda é um dos ministros com mais acesso a Dilma. Nos
quase dois anos que passou na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE),
Moreira Franco esteve com ela apenas uma vez - levado pelo
vice-presidente Michel Temer.
Brasília é uma cidade de muros baixos e os congressistas não são
propriamente conhecidos por guardar segredos dos outros. O próprio
Cardozo, conta-se no PT, foi surpreendido por anúncios de medidas de
defesa do consumidor feitos por Dilma no Dia da Mulher. Ele apenas havia
comentado, numa audiência anterior, que estava trabalhando "em medidas
na área da defesa econômica". Não tinha nada pronto.
No PMDB, Edison Lobão (Minas e Energia) costuma reclamar que não
consegue nomear ninguém para a pasta que dirige. Em conversas com
jornalistas, é só amor: "A presidenta é uma pessoa extremamente
competente, tem boa memória e não é exatamente centralizadora, como se
diz. Apenas quer saber se o argumento do ministro é consistente".
O Código de Mineração levou nove anos sendo elaborado pelo ministério
que, no governo Lula, foi comandado por Dilma Rousseff. Toda semana
Lobão responde que "em 15 dias" o projeto será enviado ao Congresso.
Isso, já há mais de ano. Aliás, nesta semana, o ministério informou que o
código estará no Congresso nos próximos 15 dias. Segundo Lobão "as
questões de concessões demoram porque têm que ser decididas com
segurança".
O ministro exemplifica: quando foi criado o grupo de trabalho para
fazer o marco regulatório do Pré-sal, "pensávamos em resolver tudo em
três meses. Levamos três anos". Sempre que os projetos ficam prontos,
Dilma diz: "Vamos espancar a lei". Isso significa esmiuçar cada artigo
do projeto em busca de erros, contradições com a legislação existente,
sua constitucionalidade. "Isso leva tempo", diz Lobão. É o que estaria
acontecendo, no momento, com o programa para importar 10 mil médicos - 6
mil cubanos - que tanto aflige o ministério da Saúde. A Casa Civil
ainda está "espancando a lei": qual tipo de visto será concedido aos
médicos estrangeiros?
A boa memória não é um traço a que as pessoas costumam se referir
quando falam de Dilma. Mas Lobão tem um caso. Numa recente reunião no
Palácio do Planalto, a presidente lembrou e contou em detalhes um
episódio ocorrido durante a discussão do Pré-sal. Lobão defendia a
participação de 30% da Petrobras em todos os blocos licitados. O então
presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, queria uma participação de 5%
para a empresa. A certa altura, Lobão interveio, provocando risos:
"Poxa, parece que o único comunista aqui sou eu". Dilma foi
guerrilheira; Gabrielli, é do PT, um partido de traço intervencionista.
A presidente também sabe recuar, quando isso é importante para
atender seus interesses. É o caso da "faxina ética" de 2011, quando seis
ministros - além de Jobim - perderam o cargo. Ela reintegrou ao governo
até o PR, donatário do Ministério dos Transportes e alvo de muitas
suspeitas.
Dilma avalizou a retomada dos aumentos dos juros (taxa Selic) com a
mão direita e, com a esquerda, a desoneração de impostos de produtos da
cesta básica. "Aparentemente, com a volta do aumento da taxa de juros
pelo Copom e a disposição da presidente de ampliar os incentivos
monetários e fiscais ao setor produtivo, poderá haver dois movimentos
contraditórios: um do governo, acelerando, e outro, do Banco Central,
puxando o freio de mão. Isso pode resultar em derrapagem", alerta
Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (Diap). Dilma também misturou a renovação dos contratos das
concessionárias de energia elétrica com a redução da conta de luz. Foi
criticada pelo empresariado e pelos governadores de Minas Gerais, São
Paulo e Paraná, todos sob o comando do PSDB do senador Aécio Neves, seu
provável adversário na eleição presidencial de 2014. Pura política.
Os três Estados não aderiram ao plano de Dilma de antecipar a
renovação de suas concessionárias no prazo por ela estabelecido. O
Congresso, ao votar a medida provisória, quis incluir uma prorrogação de
30 dias para a adesão dos Estados. Dilma não deixou. Além da questão
política, havia um quê de revanche na atitude da presidente. Auxiliares
mais próximos já observaram: Dilma guarda o rancor na geladeira. A
Central Única dos Trabalhadores (CUT) já provou desse veneno.
A CUT não apoiou as mudanças que a presidente fez na caderneta de
poupança. Em retaliação, ela segurou até dezembro um projeto sobre a
Participação no Lucro e Resultados (PLR) que interessava à entidade. E
encarregou a ministra Gleisi de fazer o anúncio. Os sindicalistas
estavam acostumados a se reunir com Lula e depois descer até a sala de
imprensa para anunciar a medida acertada. Uma demonstração de prestígio
que faturavam com seus dirigidos.
O movimento sindical está ressentido por Dilma "primeiro ter recebido
o Trabuco e só depois os trabalhadores". Os sindicalistas referem-se ao
encontro da presidente com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos
Trabuco Cappi, em janeiro último. Dilma não foi às comemorações do
Primeiro de Maio deste ano. Em algumas delas apareceram faixas com os
dizeres "Volta Lula". Feitos, segundo se diz no meio, por encomenda da
Força Sindical.
"O processo de governo é muito ruim", diz um ministro que tem uma
pilha de projetos sendo "espancados" na Casa Civil. Os empresários
criticam os ministros e os ministros, com raras exceções, criticam a
Casa Civil da ministra Gleisi Hoffmann, habitada, segundo eles, por
técnicos jovens, inexperientes e, às vezes, arrogantes. Não é raro um
deles ligar para um ministro de Estado a fim de tomar satisfações sobre
algum projeto. Constrangidos, os ministros respondem. Na época de Dilma,
havia Teresa Campelo e Miriam Belchior. Elas faziam esse papel. As duas
viraram ministras. Uma do Desenvolvimento Social e a outra, do
Planejamento.
O estilo Dilma faz escola no governo. Em uma reunião recente entre
técnicos dos ministérios do Planejamento e da Integração Nacional,
discutia-se a liberação de verbas para municípios e a
secretária-executiva do Planejamento, Eva Chiavon, mandou fazer a
"transferência fundo a fundo", como se diz no governo. O pessoal da
Integração Nacional achou por bem advertir que esse era um dos mais
conhecidos focos de corrupção. "Manda para os municípios e os prefeitos
que se expliquem depois aos tribunais de contas deles". Alguém advertiu
que já não era bem assim hoje, como demonstram decisões do Tribunal de
Contas da União, mas principalmente agora que o STF acatou a teoria do
"domínio do fato" para condenar José Dirceu como mandante do mensalão.
Eva não se deu por vencida e saiu-se com a frase que encerra muitas
discussões: "A presidenta mandou".
Recentemente, o secretário-executivo de um ministério teve de largar a
reunião do conselho de uma estatal vinculada, sediada no Rio de
Janeiro, para uma reunião em Brasília, chamado por um dos "meninos da
Casa Civil". Ele ainda tentou refugar, mas não teve outra saída quando o
rapaz rebateu: "A presidenta quer".
"A presidenta não se conforma com avaliações genéricas. Ela quer
saber dos resultados, dos detalhes", diz a chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann. "Ela questiona, pede correções, reorienta. Isso é fundamental
para o sucesso de um programa e de um projeto", explica. "Às vezes, até
pode demorar um pouco mais. Mas ele é bem estruturado e dá resultado
consistente. Não podemos ter projetos superficiais e genéricos para
lançar e depois não ter sustentabilidade".
Segundo Gleisi, "essa característica da presidenta é fundamental. Ela
sempre quer saber como estão os programas, chama os ministros, pergunta
os dados, quer as informações de execução, melhorias, resultados,
intervém". Para a ministra da Casa Civil, isso "é uma coisa muito
positiva. Só dá certo porque ela [Dilma] está cobrando". Para os
críticos, é puro centralismo que atrasa e trava o desenvolvimento do
país, que hoje já não é mais "o queridinho" entre os Brics.
Formada politicamente na extrema esquerda, Dilma traz em sua "alma de
prefeito" - como já se referiu a si mesma em discursos - muito do que
apreendeu nos chamados anos de chumbo. "Ela sai (no governo) do
intervencionismo de esquerda para o mais puro liberalismo", tenta
explicar um alto funcionário próximo a Dilma. Na equipe econômica
chama-se as escolhas de Dilma de "estilingadas", decisões que, depois de
tomadas, batem num muro e voltam. Só um ano e meio depois de estar no
comando do governo ela se convenceu de que o Estado brasileiro não está
em condições de investir e admitiu fazer as concessões. Ainda assim,
tabelou por baixo o lucro das empresas, no caso das rodovias. Voltou
atrás, quando percebeu que não daria certo.
Visto do Palácio do Planalto, o panorama não é tão ruim quanto pintam
empresários insatisfeitos com o câmbio, banqueiros sem saber como
trabalhar com juros baixos e ministros muitas vezes em busca de afagos.
Três exemplos são citados como o início de uma mudança de humor dos
investidores em relação ao Brasil: o sucesso das emissões feitas pelo
Banco do Brasil Seguridade, da captação externa da Petrobras e a
retomada das licitações de lotes para a exploração de petróleo e gás.
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