sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A busca de um sentido.

Umberto Galimberti* 

 

Francisco e Bento XVI instauram um diálogo com o mundo laico em que se reafirma a superioridade da visão religiosa 
do mundo com relação à laica.

No diálogo que o Papa Francisco e Bento XVI instauraram com o mundo laico, respondendo às perguntas de Scalfari e às posições de Odifreddi, eu vejo reafirmada, por parte do magistério da Igreja, a superioridade da visão religiosa do mundo com relação à laica.

Francisco acolhe os não crentes com a condição de que sigam a retidão da sua consciência (e aqui estamos próximos do princípio do protestantismo), mas que seja bem-vinda essa acolhida, com relação a posições anteriores de intransigência. Bento XVI, ao invés, pergunta a Odifreddi quais respostas o uso da razão somente é capaz de dar à dor, ao amor ou ao problema do mal.

À parte do mal, ao qual a religião, há séculos, também não é capaz de dar uma resposta plausível, partindo da premissa de que Deus é bondade absoluta, no que se refere à dor ou ao amor, são dimensões humanas que pertencem à esfera do irracional, sobre a qual a razão não se interroga, porque, como dizia Kant, são questões que ultrapassam os seus limites.

A religião, através da fé, ultrapassa esses limites, projetando na transcendência a resposta para essas problemáticas; embora a razão esteja na busca contínua de uma superação dos seus conhecimentos, porque esta, como reitera Kant, é "uma exigência incondicional" da natureza humana.

Mas uma coisa é chegar até onde a razão pode provar suas justificativas, outra é ultrapassar essa fronteira e avançar com a fé na escuridão do mistério. Isso a razão não pode fazer. E aqui o diálogo se detém, porque a razão reconhece o seu próprio limite, que a fé, sem justificativa racional e sem hesitação, ultrapassa.
---------------
*A opinião é do filósofo, antropólogo e psicólogo italiano Umberto Galimberti, professor da Universidade Ca' Foscari, de Veneza. O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 25-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário