Umberto Galimberti*
Francisco e Bento XVI instauram um diálogo com o mundo laico em que se reafirma a superioridade da visão religiosa
do mundo com relação à laica.
No diálogo que o Papa Francisco e Bento XVI instauraram com o mundo laico, respondendo às perguntas de Scalfari e às posições de Odifreddi, eu vejo reafirmada, por parte do magistério da Igreja, a superioridade da visão religiosa do mundo com relação à laica.
Francisco acolhe os não crentes com a condição de
que sigam a retidão da sua consciência (e aqui estamos próximos do
princípio do protestantismo), mas que seja bem-vinda essa acolhida, com
relação a posições anteriores de intransigência. Bento XVI, ao invés, pergunta a Odifreddi quais respostas o uso da razão somente é capaz de dar à dor, ao amor ou ao problema do mal.
À parte do mal, ao qual a religião, há séculos, também não é capaz de
dar uma resposta plausível, partindo da premissa de que Deus é bondade
absoluta, no que se refere à dor ou ao amor, são dimensões humanas que
pertencem à esfera do irracional, sobre a qual a razão não se interroga,
porque, como dizia Kant, são questões que ultrapassam os seus limites.
A religião, através da fé, ultrapassa esses limites, projetando na
transcendência a resposta para essas problemáticas; embora a razão
esteja na busca contínua de uma superação dos seus conhecimentos, porque
esta, como reitera Kant, é "uma exigência incondicional" da natureza humana.
Mas uma coisa é chegar até onde a razão pode provar suas
justificativas, outra é ultrapassar essa fronteira e avançar com a fé na
escuridão do mistério. Isso a razão não pode fazer. E aqui o diálogo se
detém, porque a razão reconhece o seu próprio limite, que a fé, sem
justificativa racional e sem hesitação, ultrapassa.
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*A opinião é do filósofo, antropólogo e psicólogo italiano Umberto Galimberti, professor da Universidade Ca' Foscari, de Veneza. O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 25-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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