Hélio Schwartsman*
Existe vida após a morte e ela influencia nossas
ações de forma bastante profunda. Calma, espíritas, eu não me converti.
Isso é só uma forma de descrever as ideias do filósofo Samuel Scheffler,
que acaba de publicar "Death and the Afterlife", em que expõe
provocantes experimentos mentais e tira conclusões que são em seguida
comentadas por outros filósofos.
Num desses testes, você é informado de que viverá sua vida normalmente e
morrerá de forma tranquila. Mas, 30 dias após seu passamento, um
asteroide colidirá com a Terra destruindo todos os seus habitantes.
Acho que a maioria de nós concorda que esse é um cenário perturbador.
Embora ele em nada altere a extensão de nossas vidas individuais, pode
afetar decisivamente o modo como iremos vivê-las. Se você é um
pesquisador de câncer ou um engenheiro que desenvolve técnicas para
edificar usinas nucleares mais seguras, talvez desista desses projetos. O
mesmo vale para romancistas e músicos tentando compor obras-primas e
para ativistas políticos que buscam construir um futuro melhor.
O curioso é que essas pessoas dificilmente reagiriam da mesma forma se
fossem só informadas do fim iminente de seus dias. A maioria dos que
recebem diagnóstico de doença terminal não desiste de tudo. Mais,
sabemos que a humanidade não é eterna e que em alguns milênios não
haverá ninguém para contar ao vivo a história de nossa espécie. Isso,
porém, não parece suficiente para nos roubar o sentido de propósito.
Para Scheffler, experimentos mentais como esse mostram que a existência
de pessoas que ainda não nasceram e que jamais amaremos sob certos
aspectos, notadamente no que diz respeito ao valor que atribuímos às
coisas, significa mais para nós do que nossas próprias vidas. Segundo o
autor, isso basta para relativizar pressuposições comuns sobre o egoísmo
humano. É aí que o debate entre os filósofos fica interessante.
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* Colunista da Folha
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