Carlos Heitor Cony
Nesta semana, o papa Francisco criticou a
obsessão da igreja pelo sexo, manifestada, sobretudo, na condenação ao
aborto e ao casamento gay. O cristianismo herdou do judaísmo (Velho
Testamento) essa abominação pelo sexo, bastando lembrar que o pecado
original, que não foi criação cristã, ficou reduzido ao símbolo da maçã
comida por Adão e Eva.
Acontece que os dois já tinham filhos na ocasião. Ao criar o homem e a
mulher (Gênesis 1,28), Deus ordenou que eles crescessem e se
multiplicassem. Seus filhos foram fabricados pelos métodos tradicionais,
não havia ainda o bebê de proveta. O pecado que os expulsou do paraíso
foi a ambição de serem iguais ao Criador, comendo a fruta da árvore do
bem e do mal.
Estou citando o Gênesis, primeiro livro da Torá, que o cristianismo,
séculos depois, absorveria. O episódio de Sodoma e Gomorra também
pertence à Torá. No Novo Testamento, há o perdão da meretriz e a
mensagem cristã transcende ao sexo, é genérica. Ernest Renan, o autor
que mais influenciou o final do século 19, diz que o "cristianismo é o
judaísmo bem-sucedido", tornado universal pela pregação de Paulo, que
levou os ensinamentos da Torá aos gentios, acrescidos pela pregação de
Cristo.
A ruptura se deu pela circuncisão, substituída pelo batismo. Séculos
depois, Lutero foi a Roma e se escandalizou com a venda das
indulgências. O papa vendia o céu para construir uma basílica. Havia
depravação na corte pontifícia, mas não foi por isso que Lutero escreveu
a bula afixada na catedral de Wittenberg, na Alemanha, rompendo
definitivamente com Roma e iniciando a Reforma.
Tudo isso junto, ao longo dos séculos, formou a "obsessão" da igreja pelo controle (ou condenação) da sexualidade em geral.
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* Colunista da Folha. Escritor.
Fonte: Folha on line, 22/09/2013
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