Gilmar Passos*
O assunto tratado no momento não vem ser o que estamos acostumados a
ouvir, ou seja, não tem a intenção de contrariar a lei atuante da Igreja
sobre o celibato. Se ele deve ser opcional ou não, já é reflexão
profunda de grandes nomes respeitosos na teologia. No mais, a opinião
popular eclesial, em sua maioria, não aprova a decisão da Igreja em
continuar determinando o celibato como regra para quem se sente chamado à
vida sacerdotal.
O celibato católico é algo que provoca grandes discussões, tanto na
Igreja quanto na sociedade. A Igreja ensina o seu benefício para a vida,
principalmente dos padres. Explica também que é um dom de Deus. É Deus
que escolhe as pessoas e dá o dom do celibato. O interessante é que no
caso dos padres e bispos ele só é “percebido” quando a pessoa é
candidata para sacerdócio. Fica aquela coisa automática, quem demonstra
querer ser padre já passa a ser considerado celibatário e todo o olhar
conjuntural da Igreja começa a pressionar o candidato ao sacerdócio para
que viva imediatamente o celibato.
Vamos começar falando do candidato ao sacerdócio e daquilo que
acontece na vida dos candidatos à vida sacerdotal. Todo candidato à vida
sacerdotal sabe muito bem que a Igreja tem como regra de vida do
sacerdote a vivência do celibato, no entanto, quando alguém procura um
padre ou quem quer que seja para demonstrar seu desejo vocacional diz
querer ser padre e não querer viver o celibato.
Quando o candidato é acolhido lhe é ensinado a bases fundamentais do
sacerdócio católico. O celibato é apresentado sem profundidade e se
resume ao não poder namorar ou casar-se. Mas, tudo fica entendido que o
candidato é heterossexual e não pode namorar ou se casar com uma mulher.
A formação do candidato ao sacerdócio fica reservada às casas de
formação. Essas casas acolhem candidatos indicados por seus bispos. São
pessoas diferentes, de culturas diversas com o objetivo de querer ser
padres. Em cada casa há formadores que cuidam de todos os candidatos,
ensinando às regras de vida sacerdotal. No mais, a formação se resume à
vida acadêmica, formação inicial (propedêutico) e formação nos cursos de
filosofia e teologia.
Durante o tempo de formação não se pergunta se o candidato está
disposto a viver o celibato, nem é perguntado se ele tem dificuldade em
aceitar ou viver tal compromisso. Simplesmente, trata o candidato como
se ele tem plena consciência do que estar para acontecer na vida dele.
Ao mesmo tempo em que a formação ocorre a comunidade eclesial ver o
candidato como um mini-padre, ou seja, celibatário.
Nas casas de formação carecem de aprofundamento sobre a vida
celibatária. São poucos diálogos sobre isso, o que fica mais aprofundado
é a observação se o candidato comete a “infração” em namorar uma
mulher. Há casos em que candidatos foram embora da casa de formação
porque foi pego abraçado e ou beijando uma menina, dizem que isso é
causa grave para não ser padre.
Mas há grave problema que fere o celibato sacerdotal, é o caso do
homossexualismo. No meio eclesiástico católico há um pensamento
disseminado que encara com naturalidade os casos de homossexualismo
entre os padres. Esse tipo de pensamento não vê tais casos como ação
contrária ao celibato.
A Igreja precisa descobrir como trabalhar essa situação porque as
consequências são gravíssimas. Num clero mesclado por heterossexuais e
homossexuais fica uma disputa terrível, porque estes últimos tendem ao
carreirismo com mais facilidade. Além do mais, eles se organizam em
grupo e defendem seus próprios interesses.
O que pesa nestes dois grupos é a interpretação que se tem sobre o
celibato. Como o celibato é compreendido em seu conjunto pela relação
amorosa entre um homem e uma mulher, onde o homem não pode namorar ou se
casar com uma mulher, os que buscam relações amorosas com pessoas do
mesmo sexo encaram que estão vivendo o celibato. Isso ocorre porque o
celibato é frisado com maior tonalidade para a relação homem-mulher,
quem pensa assim entende que uma relação homoafetiva não entra na lei do
celibato.
A situação na Igreja carrega um aparato muito forte considerando como
escândalo maior quando se descobre que um padre tem relacionamento com
uma mulher ou a engravida. A posição eclesial, neste caso, é mais cruel e
intolerante do que quando se sabe de um padre ou bispo ter casos
homossexuais. Entre o próprio clero, muitos normalizam os casos de
homossexualismos entre si, porém, os que têm sua homossexualidade
reprimida são mais intolerantes nestes casos.
Com essas correntes diversas no clero e pela mentalidade que se tem
referente ao celibato quem sofre mais são os heterossexuais por serem
vigiados pela maioria dos olhares. Além do mais, os heterossexuais são
livres culturalmente e religiosamente para o casamento, com isso um
padre quando se apaixona por uma mulher fica mais inclinado para o
casamento. Isso causa o sofrimento em manter o seu estado sacerdotal e o
amor matrimonial pela mulher amada.
No caso dos homossexuais a questão é diferente. A Igreja não aceita o
casamento de pessoas do mesmo sexo e a sociedade civil se divide quanto
a isso. Desse modo fica um alívio para os sacerdotes que vivem a
homossexualidade, isto porque eles não têm necessariamente a inclinação
para o casamento, ficando mais livre para manter os casos homossexuais
sem sofrer pressão nesse ponto (inclinação para o casamento).
Portanto, se os ensinamentos sobre o celibato continuarem como estão,
trarão mais prejuízo à vida de muitos padres do que benefícios. O
celibato precisa ser visto a partir da antropologia e não a partir da
teoria. Sua validade é para o bem do ser humano e não para a desarmonia
dele. Realmente é preciso repensar o caso do celibato, não só do ponto
de vista do direito canônico, mas também a sua pedagogia de ensino.
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* Gilmar Passos é Escritor e teólogo. Contribui com artigos para o EcoDebate (www.ecodebate.com.br), Adital (www.adital.com.br), Dom Total (www.domtotal.com.br ), IHU (www.ihu.unisinos.br) e CEBI (www.cebi.org.br).
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/09/05/
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