Na manhã do último sábado, 14 de setembro, nas dependências da PUCPR, em Curitiba, ocorreu o quinto encontro sobre “O Método” de Edgar Morin, um ciclo de estudos promovido pelo Cepat/CJ-Cias em parceria com a Pastoral da Universidade e com o Instituto Humanitas Unisinos. O professor convidado, Dr. Marcos Antônio Lorieri (foto), da UNINOVE, São Paulo, discorreu com propriedade a respeito dos elementos centrais presentes em O Método IV - As ideias: habitat, vida, costumes e organização. Este volume, segundo o próprio Morin, serve de introdução ao problema da reflexão no mundo contemporâneo.
Em O Método IV, uma das primeiras grandes
constatações a que se chega é a de que as ideias existem, que possuem
uma realidade objetiva. Os seres humanos são possuídos por elas, embora
muitas vezes não se reflita sobre o peso que elas exercem diariamente na
vida humana e na fabricação do social. Lorieri ressaltou que esta existência das ideias está associada à vida humana, não é independente dela, fazendo menção ao fato de Morin considerar que no dia em que morrer o último ser humano, as ideias também deixarão de existir junto com ele.
O professor Lorieri destacou as três esferas nas quais Morin considera que a vida humana se dá: a biosfera (na qual emerge o cérebro), a sociosfera (na qual emerge a cultura) e a noosfera
(espírito/mente). Esta última está imbricada nas outras duas e possui
um papel fundamental na humanização. A realização humana depende do
cuidado com estas três esferas.
Como bem frisado por Lorieri, em O Método, Morin
apresenta um sistema abrangente de ideias, no qual há uma Ontologia
(Métodos I e II), uma Teoria do Conhecimento (Métodos III e IV), uma
Antropologia Filosófica (Método V) e uma Ética (Método VI), havendo uma
interligação de todos esses saberes. No caso de O Método IV,
enfocando a realidade das ideias, são contemplados elementos como a
vida do espírito, ideologias, imaginário, escolas de pensamento e sua
diversidade, além da necessidade do exercício da tolerância. Este volume
está dividido em três partes: a ecologia das ideias, a vida das ideias
(noosfera) e a organização das ideias (noologia).
Para Morin, há uma intrínseca relação entre
conhecimento e cultura. Para demonstrar esta relação, o pensador francês
recorre à metáfora do Grande Computador (cultura), do qual cada pessoa (cada espírito/cérebro) é um terminal. Esse Grande Computador
reconstitui-se e regenera-se a partir dos espíritos. Desta forma, assim
como a cultura impacta sobre as ideias presentes nos indivíduos, estes
também a produzem. Aqui, percebe-se a recorrente forma dialógica do
pensamento de Morin, quando afirma que “os homens de
uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que
produz o seu modo de conhecimento”.
Aos determinismos culturais, Morin denomina
“imprinting”, responsáveis pela normalização, invariância e reprodução
das ideias na vida e da vida dos indivíduos. Ao mesmo tempo, existem as
reações a essa força dos determinismos culturais, que podem provocar
enfraquecimentos do “imprinting”. Estes são os momentos de
efervescências, a partir do quais se abre lacunas nesta normalização das
ideias, provocando desvios, evolução do conhecimento e modificações nas
estruturas de sua reprodução.
No fundo, aqui, Morin está lidando de forma mais
reflexiva com a velha problemática das ciências humanas em entender as
relações entre indivíduo e sociedade. Neste ponto, o professor Lorieri
enfatizou que o movimento de contrários entre ideias, posicionamentos e
convicções, gera um “calor cultural”, com movimentos de superação e
abertura frente ao que está posto como hegemônico culturalmente para
determinada sociedade.
O professor Lorieri também mencionou a preocupação de Morin
com os sistemas de ideias, destacando que estes são simultaneamente
fechados e abertos. Para se defenderem de agressões externas são
fechados, e para se alimentarem de confirmações e verificações vindas do
mundo exterior são abertos. Neste sentido, Morin
considera que as teorias, por excelência, devem sempre ser sistemas
abertos, com porosidade, ao passo que, de um modo geral, as doutrinas
são sistemas fechados. Contudo, em ambos os casos há fechamentos e
aberturas.
Com um tom suave e descontraído, mas, ao mesmo tempo, denso e profundo, o professor Marcos Antônio Lorieri
tornou a manhã de estudo muito agradável. Embora já sabido que o tempo
não seria suficiente para se trabalhar todas as temáticas presentes
nesse extenso volume IV, ao final do encontro, certamente, ficou aceso o
desejo de se aprofundar por estas veredas do conhecimento sobre a vida
das ideias.
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O texto é de Jonas Jorge da Silva e as fotos são de Karen Albini, ambos da equipe do Cepat/CJ-Cias.
Fonte: IHU on line, 18/09/2013
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