Madre Teresa de Calcutá*
Entre um país e outro, a diferença nunca é grande
pois há sempre pessoas que se encontram em todo o lado; elas podem
parecer diferentes, estar vestidas à sua maneira, a sua educação ou a
sua situação talvez sejam outras; mas são semelhantes: todos têm
necessidade de ser amados, todos estão ávidos de amor.
Em Calcutá, os nossos Irmãos e Irmãs trabalham
para os mais pobres dos pobres, os indesejáveis, os mal-amados, os
doentes e os moribundos, os leprosos e as crianças, mas posso-vos dizer
que ao longo destes vinte e três anos nunca ouvi um único pobre
resmungar, injuriar, queixar-se. Lembro-me de um que recolhi na rua e
que estava literalmente devorado pelos vermes; disse-me: «vivi como um
animal na rua, mas vou morrer como um anjo, pois amam-me e cuidam de
mim.» E com efeito ele morreu como um anjo – uma morte muito bela.
Uma jovem chegou de um país estrangeiro para
fazer parte das Missionárias da Caridade. Uma das nossas regras exige
que um recém-chegado vá para o lar onde estão os moribundos no dia a
seguir à sua chegada. Disse então à jovem: «Viste o padre durante a
missa, com que amor, com que cuidado ele tocou no corpo de Jesus na
hóstia? Faz o mesmo quando estiveres junto dos moribundos, porque é o
mesmo Jesus que vais encontrar nos corpos destroçados dos nossos
pobres.» As Irmãs partiram. Três horas depois, a jovem regressou e
disse-me com um grande sorriso – eu nunca tinha visto sorriso igual:
«Madre, há três horas que tenho estado a tocar o corpo de Cristo.»
Perguntei-lhe: «Como é isso? O que é que fizeste?» Ela respondeu:
«Quando cheguei ao lar dos moribundos, trouxeram um homem que tinha
caído num esgoto e que só foi retirado passado algum tempo. Estava
coberto de ferimentos, de imundície e de vermes; ao lavá-lo, sabia que
estava a tocar o corpo de Cristo.»
A sociedade inglesa é uma sociedade do bem-estar,
mas eu andei à tarde pelas vossas ruas e entrei nas vossas casas e
encontrei moribundos privados de todo o amor. Há aqui, entre vós, uma
outra espécie de pobreza – uma pobreza de alma, pobreza de solidão e de
inutilidade. É a pior doença do mundo hoje, pior que a tuberculose ou a
lepra. Creio que é cada vez mais necessário na Inglaterra que as
pessoas saibam quem são os pobres. As pessoas deviam dar o seu coração
ao amor dos pobres, e as suas mãos ao serviço deles. Não o poderão
fazer por que não os conhecem; o conhecimento levá-los-á ao amor, e o
amor ao serviço.
---------------------------------
Madre Teresa de Calcutá nasceu a 26 de
agosto de 1910. Fundou as Missionárias da Caridade. Morreu a 5 de
setembro de 1997. Foi beatificada por João Paulo II a 19 de outubro de
2003.
Madre Teresa de Calcutá
In La joie du don, Éditions du Seuil
In La joie du don, Éditions du Seuil
Nenhum comentário:
Postar um comentário