domingo, 15 de setembro de 2013

 Fabrício Carpinejar*
 
As mulheres são incríveis.

Elas têm amizades para todas as tarefas e assuntos. Não dispensam uma segunda opinião. Sempre coletivas em suas decisões.

Perguntam até o que já sabem, para não sacrificar o costume, para ter certeza de que fizeram a melhor escolha.

Enquanto o homem é genérico, elas são específicas, altamente especializadas. Não querem correr o risco de se enganar, de cometer uma injustiça e unem suas curiosidades e somam seus talentos. Odeiam serem passadas para trás, adquirir algo pelo dobro do preço e sofrer os juros da pressa.

Minha namorada Katy, por exemplo, quando vai comprar roupa conta com a escolta de duas amigas.

Suas amigas superam a condição de amigas, ganham a dimensão de consultoras.

Ela parte para o shopping com uma ou com outra, jamais convida as duas juntas.

Por quê?

Cada uma atende um propósito diferente.

A Letícia é chamada quando é o caso de garimpar peças e promoções. Há uma cota X para gastar e não tem como extrapolar. É a companhia da grana curta, da economia, com o faro do particular e do acessível em grandes lojas. Opera milagre com pouco. Transfigura água com gás em vinho. Ajuda a Katy a cumprir a meta. Não foram poucas as vezes em que ela voltou com sete peças festejando o orçamento de R$ 350.

Já Júlia é convocada no momento de uma superfesta, na hora de esnobar as etiquetas. É para procurar O Sapato, O Vestido, A Blusa, o artigo definido do figurino. As duas tumultuam as lojas mais chiques. Sequer mexem nos cabides, despem logo os manequins da vitrine. Saída fadada à falência e para se arrepender do exagero cometido com as demais amigas. Depois que regressa da expedição nababesca, Katy não realiza propaganda nenhuma, permanece calada, nunca confessa quanto gastou, e suspira mais seguido diante do espelho. Ela adquiriu uma saia na última semana e nem por chantagem abrirá os dígitos do investimento.

A Letícia é a inteligência da simplicidade, colega com traquejo para caçar nas araras um modelo incomum, revirar pilhas, bagunçar os provadores e aproveitar o que quase saiu de moda, mas ainda mantém o toque eterno do estilo.

Júlia é o equivalente a um sequestro. Compõe o momento faraônico, de puro e insano arrebatamento. É uma boa orientadora do que entrará em estação, da cor dominante, dos acessórios de tendência. Cúmplice da bebedeira consumista, com direito a ressaca e esquecimento financeiro nos próximos meses.

Ao partilhar suas dúvidas, a mulher encontra testemunhas de sua felicidade. O que é uma obrigação se transforma em intimidade, o que é um passeio se converte em autoconhecimento.

Comprar roupas é vestir amizades.
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* Poeta. Escritor.
Fonte: ZH on line, 15/09/2013

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