João Batista Libanio*
Dois fatores principais acordaram as pessoas para o espírito franciscano. O movimento ecológico prestigia enormemente a figura de São Francisco como seu venerável precursor. E a comunhão de ambos esbarra até na semelhança de dois fatos tão distantes. Lá, nos tempos de Francisco, o capitalismo dá os primeiros passos. Só a perspicácia e a genialidade do santo captaram que ali existiam germes de aviltamento da natureza, dos animais, da criação de Deus. Então o místico Francisco canta o belíssimo hino das criaturas.
Hoje, as garras do capitalismo
destruidor revelam-se de maneira evidentemente terrível. Além dos olhos
inteligentes do ser humano, protesta contra ele a terra física, vegetal e
animal. Então de novo, Francisco aparece na beleza do defensor da ameaçada
natureza.
A renúncia de Bento XVI deixou-nos um
pouco mais de um mês na expectativa do novo Papa. Os nomes falados, quer das
pessoas físicas quer dos pontifícios, encontraram no Papa Francisco enorme
surpresa. Ele agitou o ar eclesiástico e situou Francisco no epicentro da
curiosidade pelo nome que escolhera. Soaram reflexões na linha da simplicidade,
pobreza, proximidade com as pessoas e com a natureza na sua defesa.
A espiritualidade
franciscana desperta-nos, portanto, para um mundo que respeite a natureza e
para uma Igreja que se vista da simplicidade e da pobreza
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Ao dar um passo à frente,
perguntamo-nos: o que o espírito franciscano traz de novo, original e crítico para
o momento da cultura presente? Em que o santo medieval merece a cátedra de
ecologia na pós-modernidade? E o que a espiritualidade franciscana no coração e
mente de um Papa jesuíta representa no seio do Vaticano?
Na perspectiva ecológica, a espiritualidade
franciscana contribui, de maneira insubstituível, ao apresentar Deus na origem
e no fim da escalada ambientalista. No campo religioso, os cristãos correm o
perigo de perderem-se em panteísmo difuso, ou seja: é preciso ter o
discernimento de que Deus não é tudo o que compõe a natureza, mas Criador de
tudo o que nela existe. São Francisco aponta com toda clareza a fonte última de
toda beleza, respeito e amor à natureza: Deus. E ao olhar para tudo que existe,
afirma também que tudo converge para ele. Corrige, portanto, visão que se detém
na natureza sem descobrir o Criador. Teilhard de Chardin* bebe na mesma fonte.
São Francisco comunga criticamente com
a pós-modernidade, que levanta suspeita sobre o reinado da razão iluminista e
muito mais ainda da razão instrumental. A pós-modernidade não consegue, porém,
responder ao consumismo desvairado, por acentuar demasiadamente o presente. Ela
propõe um modo de viver como se não houvesse amanhã nem ética. Atualiza,
em termos novos, o dito romano: comamos e bebamos, amanhã morreremos. Aí entra
São Francisco com duas lições. Existe amanhã, e, por sinal, eterno na beleza de
Deus. E, no presente, toca-nos viver a “perfeita alegria” que não consiste nas
ofertas risonhas do mundo, mas em suportar as intempéries com paciência,
alegria e bom coração.
Alegramo-nos com a esperança da
renovação da face da Igreja ao olhar para o Papa Francisco. O pontífice
recorda-nos a figura carismática e singular de João XXIII, que no início do
Concílio sonhava que ele fosse novo pentecostes para Igreja. A espiritualidade
franciscana desperta-nos, portanto, para um mundo que respeite a natureza e
para uma Igreja que se vista da simplicidade e da pobreza.
*Pierre Teilhard de Chardin -
Padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que construiu uma
visão integradora entre ciência e teologia. Por meio de suas obras, legou-nos
uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas
do divino e sua teologia.
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*Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)
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Imagem: Obra do artista primitivista José Assunção.
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