Martha Medeiros*
Tem quem não consiga enxergá-la de jeito nenhum, o que
para mim é o mesmo que nascer sem um pé ou sem uma orelha. Quem não vê a
graça da coisa, vive com um pedaço faltando. Nada que impeça o sujeito
de acordar, trabalhar, viajar, mas é chato.
A graça da coisa está em quase tudo, só que é preciso ter um olhar aberto e curioso para percebê-la, pois nem sempre ela fica evidente. Às vezes, exige leitura de entrelinhas, bom manejo da ironia, benevolência com o sarcasmo. É onde está a graça da coisa.
Mas, por sorte, ela não costuma ficar escondida. É até bem exibida.
Um filme B, daqueles que é puro lixo, pode se tornar cult se for assistido sem emburramento por uma plateia a fim de diversão. Um amigo resolve colocar os pés na cozinha pela primeira vez e o resultado é a pior massa grudenta da história. Que tal um sarau lá em casa para a gente cantar as músicas de acampamento dos nossos 16 anos? Sim, ao violão, todos bem desafinados.
Ela ronda por aí, nas aparentes roubadas que se tornam inesquecíveis por motivar tantas gargalhadas.
O que impede a graça da coisa de circular mais livremente é o excesso de seriedade que tomou conta do mundo. Esse tal de politicamente correto, então, é um inimigo declarado da graça. E os que não se desapegam do próprio ego também. Eles ficam de um lado, se achando, e ela fica de outro, boquiaberta: qual o sentido de se dar tanta importância?
A graça da coisa está justamente nas desimportâncias.
Quanto menos obsessão por elogios, por cargos e por poder, mais livre ficamos para reparar nas pequenas nuances por trás das afetações. Em tudo na vida há uma centelha de inocência que corrompe nossa rigidez e permite a entrada de uma alegria descompromissada e renovadora. A graça da coisa não tem assento reservado em camarote Vip nem lugar no pódio dos campeões, ela é simplesmente a piada espontânea surgida nos bastidores.
Há que se zombar da vida maluca que levamos e procurar a graça da coisa em nossas fracassadas investidas amorosas, nos erros em que nos viciamos, nas discussões de relação que sempre se repetem, nas tentativas de aparentarmos sabedoria, nas rugas que tentamos suprimir puxando a pele com as mãos em frente ao espelho, em nossos defeitos favoritos, nas reprises das brigas familiares, no nosso saudosismo meio brega, no nosso vocabulário do tempo do onça. Em tudo há uma graça infantil, uma consciência comovente das nossas impossibilidades. É só desempinar o nariz.
A graça da coisa está em quase tudo, só que é preciso ter um olhar aberto e curioso para percebê-la, pois nem sempre ela fica evidente. Às vezes, exige leitura de entrelinhas, bom manejo da ironia, benevolência com o sarcasmo. É onde está a graça da coisa.
Mas, por sorte, ela não costuma ficar escondida. É até bem exibida.
Um filme B, daqueles que é puro lixo, pode se tornar cult se for assistido sem emburramento por uma plateia a fim de diversão. Um amigo resolve colocar os pés na cozinha pela primeira vez e o resultado é a pior massa grudenta da história. Que tal um sarau lá em casa para a gente cantar as músicas de acampamento dos nossos 16 anos? Sim, ao violão, todos bem desafinados.
Ela ronda por aí, nas aparentes roubadas que se tornam inesquecíveis por motivar tantas gargalhadas.
O que impede a graça da coisa de circular mais livremente é o excesso de seriedade que tomou conta do mundo. Esse tal de politicamente correto, então, é um inimigo declarado da graça. E os que não se desapegam do próprio ego também. Eles ficam de um lado, se achando, e ela fica de outro, boquiaberta: qual o sentido de se dar tanta importância?
A graça da coisa está justamente nas desimportâncias.
Quanto menos obsessão por elogios, por cargos e por poder, mais livre ficamos para reparar nas pequenas nuances por trás das afetações. Em tudo na vida há uma centelha de inocência que corrompe nossa rigidez e permite a entrada de uma alegria descompromissada e renovadora. A graça da coisa não tem assento reservado em camarote Vip nem lugar no pódio dos campeões, ela é simplesmente a piada espontânea surgida nos bastidores.
Há que se zombar da vida maluca que levamos e procurar a graça da coisa em nossas fracassadas investidas amorosas, nos erros em que nos viciamos, nas discussões de relação que sempre se repetem, nas tentativas de aparentarmos sabedoria, nas rugas que tentamos suprimir puxando a pele com as mãos em frente ao espelho, em nossos defeitos favoritos, nas reprises das brigas familiares, no nosso saudosismo meio brega, no nosso vocabulário do tempo do onça. Em tudo há uma graça infantil, uma consciência comovente das nossas impossibilidades. É só desempinar o nariz.
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Escritora. Cronista.
Fonte: ZH on line, 22/09/2013
Imagem da Internet
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