Marcelo Gleiser*
A sacada genial do filme "Prometheus" é mostrar cientistas alienígenas cujo experimento é o homem
Recentemente, escrevi sobre como civilizações extraterrestres
ultra-avançadas seriam indistinguíveis de deuses. Escrevi também sobre a
privatização da exploração espacial. Por uma dessas coincidências, os
dois temas formam a base do novo filme do diretor Ridley Scott,
"Prometheus", que assisti no fim de semana passado.
O intuito do filme é explicar a origem do horrendo Alien, estrela (junto
com Sigourney Weaver) do clássico de 1979, também de Scott.
Um aviso: não leia esta coluna se ainda não viu o filme.
Em "Prometheus", descobrimos que a "coisa" foi um erro, resultado
inesperado de um experimento genético fracassado. A sacada genial do
enredo é que os cientistas são alienígenas (os "Engenheiros"), que
também criaram a raça humana.
(O título remonta ao mito grego, no qual o titã Prometeu cria os humanos
a partir do barro e rouba o fogo dos deuses para benefício de suas
criaturas. Por esse ato, Prometeu é condenado a ter seu fígado devorado
eternamente por uma águia.)
Milênios atrás, alienígenas estiveram aqui e nos criaram. Sabemos disso
porque um casal de arqueólogos descobre ilustrações com a mesma formação
planetária nas ruínas de antigas civilizações: maias, egípcios,
sumérios. Os arqueólogos sugerem que as imagens apontam para o local de
origem dos criadores.
Felizmente, sendo o final do século 21, temos já meios (pela indústria
privada) de alcançar outras estrelas e seus planetas. Um bilionário à
beira da morte contrata os arqueólogos para uma expedição até o sistema
planetário. Seu objetivo, que não revela, é encontrar nossos criadores
para que possam salvá-lo da morte: se nos criaram, devem ser capazes de
evitar que morramos.
Logo após chegarem à lua cinzenta e metálica de onde vieram os
alienígenas, nossos heróis descobrem a terrível verdade: a lua não era a
casa dos ETs, mas seu laboratório remoto, onde desenvolveram uma
terrível arma biológica, uma doença projetada para destruir a espécie
humana. Pelo jeito, nossos criadores queriam nos destruir.
Só que os ETs erraram e perderam o controle de seu experimento: a doença
escapou, evoluiu e os matou antes que pudessem ir para a Terra. "Nossos
criadores não eram imortais", comenta David, o personagem mais
interessante do filme, um androide inteligente e "sem alma", o único que
sabia das intenções do bilionário.
Após muita luta e sangue, sobrevivem apenas duas criaturas: a arqueóloga
Elizabeth Shaw e o Alien, que, descobrimos, é um híbrido de um dos ETs
criadores e de uma espécie de monstro-polvo, gerado por Shaw e seu
amante arqueólogo, após ele ter sido contaminado com a doença. O Alien
tem avó humana.
O que nos diz o filme? Que criar novas formas de vida é perigoso; que
mesmo inteligências capazes de criar vida complexa cometem erros fatais;
que é bom ter cuidado com o que se cria, pois a criação pode suplantar o
criador -talvez seja por isso que nossos criadores queriam nos
destruir, por ter medo que nós os destruíssemos um dia.
O filme não explica (vem aí "Prometheus 2"?). Mas, pelo que vemos no
androide David e em suas intenções dúbias, mesmo inteligências
ultra-avançadas são incapazes de se livrar do instinto de dominação.
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Parabéns cara... Muito boa a sua análise do filme.
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