Josué Gomes da Silva*
Em meio a algum desapontamento que marcou a Rio+20 e à incerteza quanto à
capacidade das nações de aportarem recursos na sustentabilidade
enquanto durar a crise econômica, destacou-se algo muito positivo: o
compromisso do C40 (Climate Leadership Group), constituído pelos
prefeitos das maiores cidades do mundo, de reduzir as emissões de
carbono em 1 bilhão de toneladas até 2030.
Isso é importante, pois parcela decisiva do jogo da sustentabilidade
acontecerá nas áreas urbanas, que abrigarão no Brasil, segundo estudo da
ONU, 93,6% da população. Serão quase 240 milhões de brasileiros morando
nas cidades.
A expansão demográfica segue, a despeito da redução do crescimento
vegetativo em vários países. Quando se realizou a Rio 92, há 20 anos, a
Terra tinha 5,3 bilhões de habitantes; em outubro de 2011, 7 bilhões; em
2050, estima-se que seremos 9 bilhões.
Para viabilizar a meta do C40, o prioritário, entre vários aspectos, é
melhorar a infraestrutura de transportes públicos. À medida que mais
pessoas deixarem o carro em casa, utilizando trens, metrô, ônibus e
outros transportes de massa, serão menos motores poluindo o ambiente.
Também é essencial que esses veículos coletivos utilizem combustíveis
mais limpos e de fonte renovável, como energia elétrica, biodiesel e
etanol.
Nesses aspectos, o Brasil tem situação privilegiada, pois a
hidroeletricidade predomina em sua matriz energética e nosso país dispõe
da maior área agricultável para a produção de bioenergia. Ou seja,
podemos processar muito biocombustível sem afetar a segurança alimentar.
Somos uma das poucas nações com capacidade de utilizar a terra para
produzir, simultaneamente, comida e energia renovável em abundância.
Além disso, temos a oportunidade e o compromisso de realizar
investimentos em transportes públicos para a realização da Copa do
Mundo, em 2014, e da Olimpíada, em 2016.
É fundamental que o dinheiro a ser aplicado nas obras preparatórias para
os maiores eventos esportivos mundiais nos deixe um legado substantivo
em termos de infraestrutura: redes amplas e pouco poluentes de ônibus
movidos preferencialmente a biodiesel ou a eletricidade, veículos
rápidos sobre trilhos, corredores para o transporte público eficientes,
ciclovias seguras e, onde for possível, mais linhas de metrô.
Porém é preocupante, também sob o ponto de vista da sustentabilidade,
observar o atraso das obras de infraestrutura de transporte urbano
relativas à Copa. Vamos recuperar o tempo perdido. Com certeza, se
fizermos direito a lição de casa, daremos imensa contribuição à
qualidade da vida urbana e à aceleração do crescimento do Brasil!
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* Colunista da Folha- Escreve aos domingos
Fonte: Folha on line, 24/06/2012
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