domingo, 24 de junho de 2012

Cidades saudáveis

Josué Gomes da Silva*
Em meio a algum desapontamento que marcou a Rio+20 e à incerteza quanto à capacidade das nações de aportarem recursos na sustentabilidade enquanto durar a crise econômica, destacou-se algo muito positivo: o compromisso do C40 (Climate Leadership Group), constituído pelos prefeitos das maiores cidades do mundo, de reduzir as emissões de carbono em 1 bilhão de toneladas até 2030.
Isso é importante, pois parcela decisiva do jogo da sustentabilidade acontecerá nas áreas urbanas, que abrigarão no Brasil, segundo estudo da ONU, 93,6% da população. Serão quase 240 milhões de brasileiros morando nas cidades.
A expansão demográfica segue, a despeito da redução do crescimento vegetativo em vários países. Quando se realizou a Rio 92, há 20 anos, a Terra tinha 5,3 bilhões de habitantes; em outubro de 2011, 7 bilhões; em 2050, estima-se que seremos 9 bilhões.
Para viabilizar a meta do C40, o prioritário, entre vários aspectos, é melhorar a infraestrutura de transportes públicos. À medida que mais pessoas deixarem o carro em casa, utilizando trens, metrô, ônibus e outros transportes de massa, serão menos motores poluindo o ambiente. Também é essencial que esses veículos coletivos utilizem combustíveis mais limpos e de fonte renovável, como energia elétrica, biodiesel e etanol.
Nesses aspectos, o Brasil tem situação privilegiada, pois a hidroeletricidade predomina em sua matriz energética e nosso país dispõe da maior área agricultável para a produção de bioenergia. Ou seja, podemos processar muito biocombustível sem afetar a segurança alimentar. Somos uma das poucas nações com capacidade de utilizar a terra para produzir, simultaneamente, comida e energia renovável em abundância.
Além disso, temos a oportunidade e o compromisso de realizar investimentos em transportes públicos para a realização da Copa do Mundo, em 2014, e da Olimpíada, em 2016.
É fundamental que o dinheiro a ser aplicado nas obras preparatórias para os maiores eventos esportivos mundiais nos deixe um legado substantivo em termos de infraestrutura: redes amplas e pouco poluentes de ônibus movidos preferencialmente a biodiesel ou a eletricidade, veículos rápidos sobre trilhos, corredores para o transporte público eficientes, ciclovias seguras e, onde for possível, mais linhas de metrô.
Porém é preocupante, também sob o ponto de vista da sustentabilidade, observar o atraso das obras de infraestrutura de transporte urbano relativas à Copa. Vamos recuperar o tempo perdido. Com certeza, se fizermos direito a lição de casa, daremos imensa contribuição à qualidade da vida urbana e à aceleração do crescimento do Brasil! 
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* Colunista da Folha- Escreve aos domingos
Fonte: Folha on line, 24/06/2012
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