Juremir Machado da Silva*
Crédito: joão luis xavier |
Tem gente que acha pensar uma coisa
complicada e tem horror dos chamados pensadores. Diante de um conceito,
essa palavrinha terrível, o sujeito começa a tremer ou a dormir.
Modernidade é um tempo e um conceito. Quais as principais
características dessa tal de modernidade: a crença no poder absoluto da
razão (o homem como sujeito consciente e racional a caminho da
emancipação), o culto do progresso, a ideia de que, por força da
racionalidade, o mundo avançava sempre para o melhor e, principalmente, a
certeza de que a natureza, considerada uma fonte de recursos
inesgotáveis, devia ser subjugada pelos homens. A produção, nesse
sentido, estava acima de qualquer cuidado com proteção do meio ambiente.
Afinal, a natureza teria um poder de regeneração acima de qualquer
estrago.
É isso tudo que a chamada pós-modernidade pôs em xeque. Freud e Nietzsche já haviam ferido nosso ego: o homem não age sempre consciente, forças das quais não tem consciência o dominam e impulsionam, a verdade pode ser uma ilusão. Outra ferida que não cicatriza é a descoberta de que o homem não é senhor absoluto da natureza e que este tem limites. A ciência, como mostra Edgar Morin, faz descobertas que geram progresso, mas também pode abrir caminho ao retrocesso e à barbárie. A energia nuclear é um exemplar irrefutável dessa afirmação. O conflito entre produção a qualquer custo e proteção à natureza opõe esquematicamente os modernos, para os quais a economia está acima de qualquer coisa, e os pós-modernos, mesmo que muitos não se reconheçam nesse rótulo, convencidos que precisamos de uma nova equação capaz de dar conta das necessidades sempre maiores de produção e da imperativa obrigação de salvar e regenerar o planeta esfalfado.
Nossos ruralistas, como aquele personagem de Molière que fazia prosa sem saber disso, são modernos tardios. A Rio+20, que vai começar no Rio de Janeiro, é mais um round no combate entre essas concepções de mundo. Logo no Rio, uma cidade que poderia viver exclusivamente dos seus atrativos naturais e culturais, mas que continua atolada na poluição. O Rio é uma cicatriz moderna. A modernidade teve dois modos de produção antagônicos e complementares, o capitalismo e o comunismo. Em ambos, a produção sufocou qualquer preocupação com a preservação da casa dos seres humanos, a Terra. A Rio+20 vai enfatizar a importância de um novo modo de produção, o capitalismo mais limpo possível, cujo desafio extraordinário é o de aumentar a produção diminuindo a devastação do meio ambiente. É isso que os ruralistas, com suas 620 emendas depois da medida provisória do Código Florestal, não querem aceitar.
Uma mutação, porém, já aconteceu na mentalidade dominante. A opinião pública quer produção limpa e sem trabalho degradante. Por isso o #vetadilma atropelou o código ruralista aprovado na Câmara de Deputados. A Rio+20 só vai acentuar essa percepção. O tempo da destruição em nome da segurança alimentar está com os dias contados. Pode-se garantir comida sem devorar a galinha dos ovos planetários. Mas o ovo não virá no mole.
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É isso tudo que a chamada pós-modernidade pôs em xeque. Freud e Nietzsche já haviam ferido nosso ego: o homem não age sempre consciente, forças das quais não tem consciência o dominam e impulsionam, a verdade pode ser uma ilusão. Outra ferida que não cicatriza é a descoberta de que o homem não é senhor absoluto da natureza e que este tem limites. A ciência, como mostra Edgar Morin, faz descobertas que geram progresso, mas também pode abrir caminho ao retrocesso e à barbárie. A energia nuclear é um exemplar irrefutável dessa afirmação. O conflito entre produção a qualquer custo e proteção à natureza opõe esquematicamente os modernos, para os quais a economia está acima de qualquer coisa, e os pós-modernos, mesmo que muitos não se reconheçam nesse rótulo, convencidos que precisamos de uma nova equação capaz de dar conta das necessidades sempre maiores de produção e da imperativa obrigação de salvar e regenerar o planeta esfalfado.
Nossos ruralistas, como aquele personagem de Molière que fazia prosa sem saber disso, são modernos tardios. A Rio+20, que vai começar no Rio de Janeiro, é mais um round no combate entre essas concepções de mundo. Logo no Rio, uma cidade que poderia viver exclusivamente dos seus atrativos naturais e culturais, mas que continua atolada na poluição. O Rio é uma cicatriz moderna. A modernidade teve dois modos de produção antagônicos e complementares, o capitalismo e o comunismo. Em ambos, a produção sufocou qualquer preocupação com a preservação da casa dos seres humanos, a Terra. A Rio+20 vai enfatizar a importância de um novo modo de produção, o capitalismo mais limpo possível, cujo desafio extraordinário é o de aumentar a produção diminuindo a devastação do meio ambiente. É isso que os ruralistas, com suas 620 emendas depois da medida provisória do Código Florestal, não querem aceitar.
Uma mutação, porém, já aconteceu na mentalidade dominante. A opinião pública quer produção limpa e sem trabalho degradante. Por isso o #vetadilma atropelou o código ruralista aprovado na Câmara de Deputados. A Rio+20 só vai acentuar essa percepção. O tempo da destruição em nome da segurança alimentar está com os dias contados. Pode-se garantir comida sem devorar a galinha dos ovos planetários. Mas o ovo não virá no mole.
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* Escritor. Prof. Universitário. Cronista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
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Fonte: Correio do Povo on line, 13/06/2012
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