José Maria
Alves da Silva*
O que estão fazendo os economistas, sociólogos, cientistas políticos, filósofos, e outros intelectuais que, na universidade pública, deveriam formar a consciência crítica da nação? Se não formos capazes de pensar nossos problemas sociais e econômicos, de forma livre e soberana, então para que servem as universidades públicas e as várias agências estatais criadas a pretexto de fomentá-las? Para nos mantermos dependentes em ciência e tecnologia e alienados da nossa realidade social não precisamos de universidades.
Vivemos numa era cientifica e tecnológica caracterizada pelas especializações. Nas ciências naturais e aplicadas tal tendência parece inevitável, por uma simples razão: os produtos tecnológicos atingiram um estágio tão adiantado que qualquer aperfeiçoamento só pode ser feito nos detalhes mais minuciosos. Ninguém, em sã consciência, prescindiria do médico especialista no mal que o aflige, ou ousaria viajar num boeing pilotado por um generalista da aviação. Na pesquisa pura, entretanto, a crescente especialização parece estar sendo acompanhada de enfraquecimento do impulso realizador. Grandes façanhas como as de Einstein e Newton parecem coisa do passado. Abundam teorias especulativas e a láurea do Nobel está sendo concedida a feitos de relevância científica cada vez menor.
Nas ciências sociais, entretanto, essa tendência constitui problema sério. Enquanto o Estado esfacela-se a olhos vistos, cientistas políticos, sociólogos e até filósofos se ocupam da elaboração de papers esotéricos para revistas indexadas e projetos de pesquisa com vistas à obtenção de "bolsas" de produtividade do CNPq, indiferentes aos grandes problemas nacionais. Não há debate, não há crítica.
Enquanto os trabalhadores mais essenciais continuam carentes de habitação, educação e cuidados pessoais, sendo tratados como gado no transporte coletivo e nos hospitais do SUS, a população se mostra cada vez mais apetrechada de telefones celulares, câmeras digitais, notebooks, tablets e outros produtos de patente estrangeira.
Em outros tempos, mesmo nos duros tempos da ditadura, havia uma intelectualidade que pelo menos incomodava. Não eram especialistas nisso ou naquilo, mas sim "excelências" que se notabilizavam pela erudição, pela sensibilidade social e pelo patriotismo. Nas universidades brasileiras, os que ainda se enquadram nessa categoria fazem parte de uma espécie em extinção.
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* Doutor em economia e professor da Universidade Federal
de
Viçosa. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.
Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/13/06/2012
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