No
evento de lançamento do projeto “Novo Contrato Social para o Século
XXI”, organizado pelo Instituto Ethos e o Instituto das Nações Unidas
para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), participaram Rajendra Pachauri,
vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2007; o embaixador André Corrêa do
Lago, negociador-chefe do Brasil para mudança do clima e para a Rio+20;
Achim Steiner, secretário adjunto da ONU e diretor-executivo do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente; Carlos Lopes, diretor executivo
da UNITAR, e Ignacy Sachs, economista e sociólogo.
Sachs deu um ‘Viva à crise’, justificando que ela nos ajuda a mudar de rumo, papel que a Rio+20 deveria fazer.
Se referindo à tese de Adam Smith sobre o funcionamento do mercado,
ele disse não acreditar muito na ‘mão invisível’, porém que o maior
problema é saber o que fazer com os cinco dedos da “mão visível”.
O primeiro dedo, seria a construção de um futuro baseado em um
contrato social explícito, no nível de cada pais, com a ambição de
construir também um “mega contrato social planetário”, utilizando as
Nações Unidas para costurá-lo e levá-lo em frente.
“Isto implica em superar as diferenças sociais abissais que
permanecem hoje na maioria dos países, o que separa hoje alguns países
mais avançados de outros que estão na base da pirâmide. Superar estas
diferenças abissais, este é o nosso objetivo”.
Para Sachs, o segundo dedo seria o planejamento participativo, com o
objetivo principal de “fazer com que os que estão embaixo da pirâmide
possam ser erguidos a um nível que lhes assegure uma vida decente”.
“Os mercados têm a vista curta e a pele grossa, preocupam-se com o
imediato e não contabilizam os custos sociais. Precisamos pautar as
nossas ações numa visão de longo prazo para evitar catástrofes”,
ressaltou.
O terceiro seria a segurança alimentar remetendo à necessidade de se
colocar em pauta a questão das reformas agrárias e considerar também a
revolução azul, a da água.
A segurança energética seria o quarto pilar para um planejamento com
condições de propor soluções validas, notou Sachs, citando a necessidade
de uma estratégia gradual de saída das energias fósseis e mantendo
distância do uso excessivo da energia nuclear. “O que nos remete a um
enorme capitulo de energias renováveis”, conclui.
O quinto dedo seria a cooperação internacional. Sachs sugere soluções
para o financiamento de um fundo para ações voltadas ao desenvolvimento
sustentável, como o repasse de 1% do PIB dos países ricos, impostos
sobre as emissões de dióxido de carbono e taxas sobre o uso do espaço
aéreo e marinho para o transporte. Outra medida seria reorganizar a
cooperação técnica, “utilizando a geografia dos biomas, estabelecendo
uma cooperação entre países que compartem o mesmo bioma”.
Alinhado com as discussões realizadas na Cúpula dos Povos, Sachs
conclui que “não são novas formas que devemos procurar e sim novos
conteúdos”.
“É perigo pintar de verde e dizer que mudou, esse debate deve focar
nos conteúdos por que pode haver formas plurais de chegar ao mesmo
resultado…Temos q propor linhas de ação e olhar se tem mudança de
conteúdo e não só declaração de amor a natureza”, alertou.
Após Sachs focar parte das suas propostas na redução das
desigualdades, Carlos Lopes também enfatizou que no mundo atual este de
fato é um dos maiores problemas.
Rio +20
O debate para um novo contrato social foi programado para o sábado,
propositalmente posterior ao término da Rio+20 para poder ser construído
a partir de suas bases.
Em uma avaliação crítica dos resultados da conferência no Rio, Achim
Steiner comparou o documento final a um livro de culinária com muitos
ingredientes, mas sem receitas completas.
“A declaração tem muitos ingredientes, mas, em várias questões que
aborda, seu ‘modo de fazer’ deixa a desejar”, afirmou, acrescentando:
“Ainda assim, como nos livros de receita, o documento tem informações
suficientes para colocarmos a mão na massa e continuarmos a busca por um
novo contrato social, um novo modelo de desenvolvimento”.
Carlos Lopes demonstra um ponto de vista mais otimista calcando no
fato que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, cujo prazo é 2015,
foram negociados durante anos para, finalmente, se ter dois parágrafos
adotados em 2010 em Johanesburgo e apesar disso, enfatiza, muito já se
fez para o seu alcance.
“Não fico admirado do progresso não ser assim tão rápido quanto queremos”, conclui Lopes.
Para Pachauri, a dificuldade em progredir não está na aceitação de nas novas ideais, mas sim em fugir das velhas.
“Chegou a hora do conhecimento se tornar o maior indutor das ações”,
ressaltou concordando com a proposta de Sachs de se criar uma taxa pelo
uso dos bem globais comuns. “A herança é de todos, mas parece não
pertencer a ninguém”, lamentou.
Durante as discussões finais, Oded Grajew, fundador da Abrinq, do
Instituto Ethos e do Movimento Nossa São Paulo, constatou que outro
grande entrave está na desconfiança da sociedade em relação aos
governos.
“Há um ceticismo muito grande das relações entre governos, um exemplo
é que dos cinco membros permanentes do conselho de segurança da ONU,
apenas um dos presidentes esteve aqui (no Rio). A primeira ministra da
Alemanha estava vibrando no futebol enquanto isso”, criticou.
Ele reenfatizou que o debate fundamental na construção de um novo
contrato social é o combate a desigualdade, pois apenas à pobreza “é
insuficiente”.
“Mesmo em países onde não há pobreza há conflitos. Para sermos seres
com convicções parecidas é importante um novo contrato”, comentou. Além
disso, este processo tem que ser resolvido sem violência, completa
Grajew.
“Os cinco membros permanentes do conselho de segurança da ONU são os grandes vendedores de armas do mundo”, alerta.
O ultimo fator importante em seu ponto de vista seria o fator
intergeracional, ou seja, deixar um mundo melhor para as futuras
gerações.
“Os governo não representam mais as pessoas e sim os interesses de
quem tem mais poder. Se o contrato de 92 (Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, também no Rio de Janeiro)
for pra ser ratificado, que até agora não foi, precisamos de um
movimento civil, a sociedade precisa ser reintegrada no processo”,
concluiu.
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Reportagem por Fernanda B. Müller, do Instituto CarbonoBrasil
(Instituto CarbonoBrasil)
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/
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